O Homem Baile

Irregular, mas popular

Em show de altos e baixos, The Kooks mostra a força da renovação do rock para entusiasmada plateia. Foto (imagem de aparelho celular): Caio Wichrowski.

thekooks16-1Se você acha que as novas gerações não estão interessadas em banda de rock, precisa ir a um show do The Kooks. Há puristas que argumentam que a banda britânica não é exatamente de rock, que há muitas referências à música negra e ao pop americanos, e não é possível lhes tirar a razão. Mesmo assim, não deixa de dar gosto de ver uma plateia jovem, numerosa para os padrões atuais, que enche um Metropolitan, no Rio, ainda que com as dimensões reduzidas por cortinas posicionadas estrategicamente, em plena quinta chuvosa (27/10). E gente que entende do riscado, conhece quem está no palco e canta quase todas as músicas em afinado coro – e ainda tem mais essa - de tom predominantemente feminino.

O quarteto também capricha, enfileirando nada menos do que oito músicas do álbum de estreia, “Inside In/Inside Out”, de 2006, consolidado entre os fãs, muito embora tivesse coisa mais recente para mostrar, do razoável “Listen”, de 2014, e que foi a base do repertório tocado no Lollapalooza do ano passado (relembre), na passagem mais recente pelo País; dessa vez, apenas cinco. Em um local fechado, também, é possível esticar mais o set list, ainda mais para uma banda mais interessada em composições e arranjos do que em alongamentos instrumentais, de modo que o resultado são 21 números em cerca de 90 minutos de bola rolando. E com intensa troca de instrumentos. Só Luke Pritchard recebe mais guitarras que Yngwie Malmsteen, e olha que ele ainda canta várias músicas sem tocar.

O início do set é matador, com três pauleiras coladinhas. “Eddie’s Gun”, a primeira, é rock juvenil que faz lembrar Arctic Monkeys e quebra o gelo do início; “Always Where I Need to Be”, a melhor das três, estreia o corinho coletivo que se repetiria em outros momentos; e “See The World” expõe os dotes do guitarrista Hugh Harris, que sabe muito bem o que fazer, também ao operar teclados e efeitos em alguns brinquedinhos que lhe contornam. Aos poucos, contudo, começam a pipocar as tais referências à música negra, o que torna fácil a associação a bandas como o Maroon 5 (e não é de hoje), mas também ao reggae rock inaugurado pelo Police no pós punk inglês. O que não prejudica a apresentação como um todo, a não ser quando adotam-se momentos intimistas, por assim dizer, com pouca (ou nenhuma) força instrumental.

É o que acontece, por exemplo, em “Gap” e na dobradinha monotemática “Seaside”/“See the Sun”. A primeira tem Pritchard sozinho se enrolando todo na comunicação com o público e com a ordem das músicas, e, a, segunda, tem ele e Harris impingindo um jeitão da falsa surf music à Jack Johnson. Quando tocam pra valer, realçam o funk saturado e pesado de “Forgive & Forget”, já no bis; o bom refrão de “Sway”; e “Bad Habbit”, um funkão arrebenta assoalho com o baixo de Peter Denton no groove e distorcido pra dedéu. O público se diverte a noite toda, mas vibra mais em “Around Town”, com a letra na ponta da língua; e no encerramento já tradicional com “Junk of the Heart (Happy)”, seguramente um hit em sarau ginasiano; e “Naïve”, de grande apelo pop. Dá gosto de ver.

Mesmo com pouca identificação do classic rock contemporâneo do Folks com o som o Kooks, o grupo carioca faz bonito na abertura, arrancando aplausos do público. Nem parecia que daria certo a jugar pelo início, lento, como se fosse o meio de uma improvisação. Mas logo a banda, que toca com dois guitarristas e um percussionista em formação de sexteto, impõe sua força instrumental e uma citação matreira à “Whole Lotta Love”, do Led Zeppelin, contribui para a participação dos fãs do Kooks. As melhores são “Até o Mundo Cair”, um dos destaques do álbum de estreia, e “Muito Som”, no final, cujo discurso do vocalista Kauan Calazans faz o público bater palmas com boa intensidade. Ressalta-se ainda o bom trabalho do inventivo guitarrista Luca Neroni, muito bem integrado.

Nota: a produção do The Kooks não permitiu o trabalho dos fotógrafos do Rock em Geral.

Set list completo The Kooks:

1- Eddie’s Gun
2- Always Where I Need to Be
3- See The World
4- Ooh La
5- Down
6- Backstabber
7- Around Town
8- Gap
9- Seaside
10- See the Sun
11- Tick Of Time
12- Taking Pictures of You
13- Westside
14- She Moves in Her Own Way
15- Sway
16- Bad Habit
17- Matchbox
18- Sofa Song
Bis
19- Forgive & Forget
20- Junk of the Heart (Happy)
21- Naïve

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