Um verdadeiro manancial de mulher desaguou no reservatório formado em frente ao Palco Onix na tarde do domingão do Lollapalooza. O motivo? A apresentação vespertina da banda britânica The Kooks, revelada no indie rock de lá, mas que, ao que parece, está se candidatando a dar passos maiores rumo ao pop planetário. Isso porque o tal sotaque indie/british agora só aparece na hora em que o vocalista Luke Pritchard se dirige ao público, sempre recebido com os gritinhos das moças – é notável o tom de voz feminino do público, como se estivéssemos diante de uma boy band pré-adolescente em um estádio lotado. Não que fosse parco o público, mas a gritaria sugere muito mais gente do realmente há.

O grupo está na turnê do álbum “Listen”, que saiu em setembro e cede nada menos que sete das 16 músicas escolhidas para o Lolla. É o disco que mostra o grupo menos fincado no mundinho indie e interessado em saltos maiores, em que pese o um “quê” do rhythm and blues contemporâneo que permeia o trabalho. Não é por acaso que Pritchard larga a guitarra em “Bad Habit”, por exemplo, para cantar sozinho com um cantarolar que, se já vem incluso no disco, com “efeito palmas” e tudo, é acompanhado com todo o vigor pela plateia. “Around Town”, que abre “Listen” e também o show, é espécie de poppy funk também feito para a dança descerebrada, o que, de certo, cai no gosto no público predominante, sobretudo quando o instrumental sai de cena para Luke Pritchard mostra seus dotes de frontman.

Ao beber na fonte da música americana – os britânicos são useiros e vezeiros nisso, há anos, desde os Beatles! – o grupo precisa se cuidar para não cair no viés enfadonho no Maroon 5, o que, a julgar pela plateia, já parece favas contadas. Porque mesmo em música de outros discos, como “Junk of the Heart”, uma coisinha boba de dar dó, com violão de sarau, ou em “Naïve”, funk do disco de estreia, deixada para o encerramento, o apelo pop, no pior dos sentidos, é enorme. Tanto que o verso/refrão ingênuo da primeira, que chega a soar caricato, e a batida da segunda empolgam uma plateia já bem grande e que canta tudo na ponta da língua. Outra fraquinha que aposta na descerebração é “Seaside”, com sotaque da falsa surf music à Jack Johnson e que – lógico – deságua em braços erguidos e balançados de lado a outro.

Se, de outro lado, a mira é mesmo o Maroon 5, Pritchard vai precisar se livrar desse look micróbio indie para competir com Adam Levine. E, também ressalta-se que os integrantes do Maroon são bem mais cascudos do que os do Kooks, que, por vezes, ainda soam como banda cover de standards da música americana. Parece fácil fazer esse pop descartável para público de gosto duvidoso, mas não é. Outras músicas de destaque na tarde do domingo é “Eddie’s Gun”, um rock de animação dos bons, pinçado do disco de estreia, que levanta o público mais que o de hábito, e “Westside”, outra muito cantada pelo povão, no meio do set, quando há mais público em todos os shows, e revê o tecnopop oitentista, numa outra faceta desse novo Kooks que se desenha. Com tudo isso, foi um dos shows médios mais aclamados desse Lollapalooza.

Set list completo:

1- Around Town
2- Ooh La
3- It Was London
4- Bad Habit
5- Down
6- She Moves in Her Own Way
7- Seaside
8- Eddie’s Gun
9- Westside
10- Always Where I Need to Be
11- Sweet Emotion
12- See Me Now
13- Forgive & Forget
14- Sofa Song
15- Junk of the Heart (Happy)
16- Naïve

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