O Homem Baile

Abreviado

Na primeira vez no Rio, Black Dahlia Murder encurta repertório, mas show tem intensidade e ótima participação do público. Fotos: Frederico Cruz.

O vocalista do Black Dahlia Murder, Brian Eschbach, e o tom professoral sugerido pelo uso de óculos

O vocalista do Black Dahlia Murder, Brian Eschbach, e o tom professoral sugerido pelo uso de óculos

Se o negócio não é aquele que se esperava e se o comparecimento de público não é tão grande assim, a saída é limar algumas músicas do repertório a ser tocado e fazer uma horinha só de show pra resolver logo o problema. Pode ter sido essa a lógica que leva o Black Dahlia Murder, em sua primeira passagem pelo Rio, a entrar correndo e sair voando do palco do Teatro Odisséia, nesse domingo (23/10). Entre um ato e outro, contudo, a banda encontra um público bastante agitado que logo adere a todas às músicas, trejeitos e determinações do vocalista Brian Eschbach. É aquela noite em que os escribas alegam que a quantidade de público reduzida é compensada pela animação generalizada. E segue o jogo.

Porque Eschbach não tem mesmo tempo a perder e assume o comando com uma maneira peculiar de cantar, quase declamatória em alguns momentos. A impressão é reforçada por um tom professoral sugerido pelo uso de óculos, fato incomum no gênero, até pelas condições que a música extrema costuma oferecer. Ele próprio se divide em vocais estridentes e graves, enquanto a banda senta a mamona em um death metal americano clássico que pouco tem de melódico como dizem por aí, ao menos nos discos mais recentes, muito embora os solos de Brandon Ellis batam ponto em cada música. Admitido no quarteto em janeiro, no lugar de Ryan Knight, que ocupou o posto durante seis anos, ele se derrete em intervenções marcantes como as de “Vlad, Son of the Dragon”, declaradamente melódica, e em “Funeral Thirst”, com grande desenvoltura.

O guitarrista do Black Dahlia Murder, Brandon Ellis, novato na turma, aproveita a oportunidade

O guitarrista do Black Dahlia Murder, Brandon Ellis, novato na turma, aproveita a oportunidade

O disco mais recente do quinteto é “Abysmal”, lançado há cerca de um ano, mas é de “Nocturnal”, de 2007, que sai a maior parte do repertório, uma boa medida para o show que marca a estreia da banda na cidade. Dessas, “Everything Went Black”, que abre um bis pouco requisitado pela plateia, aponta para um inusitado refrão colante, e “Nocturnal”, com a turma da beirada do palco batendo a cabeça com punhos cerrados, são as que se destacam. E vale o registro do bom fôlego de Brian Eschbach, que, a despeito de uns quilinhos a mais, canta as letras longas e intrincadas com boa desenvoltura o tempo todo; ok, é menos de uma hora no palco. Imagine, por exemplo, do que trata um título como “Malenchantments of the Necrosphere”, só para ser ter uma ideia.

Mas “Abysmal” aparece muito bem representado na faixa-título, que mais que extrema, flerta com o rock e desencadeia mesmo assim uma violenta roda de dança. O público – repita-se – vibra muito em boa parte das músicas, com rodas agressivas o tempo todo, só o body surfing pedido por Eschbach não rola. Outras músicas que se salientam no set são “Vlad, Son of the Dragon”, muito pela incrível velocidade imposta pelo baterista Alan Cassidy, mas também por conta da coreografia de punhos erguidos na plateia, e “Contagion”, que, na sequência, desencadeia um enlouquecimento geral por parte do público. Foi bom, foi intenso, foi insano. Mas melhor não cortar as músicas do repertório da próxima vez.

O vocalista do Reckoning Hour, JP, cujas variações se destacam durante o bom show de abertura

O vocalista do Reckoning Hour, JP, cujas variações se destacam durante o bom show de abertura

Chama a atenção, antes, o bom nível das bandas de abertura, que não deixam a desejar ante a atrações internacionais de médio/pequeno porte – e não é de hoje. Primeiro, é clara a evolução do Reckoning Hour, que já tem feito shows de abertura por aí afora, e hoje mostra um ótimo entrosamento. O grupo – aí sim – faz um death melódico contido e marcado pelas bocas vocalizações de JP, que se divide entre os vocais limpos – e afinados, diga-se – e os rasgados. As melhores são “Eye For Na Eye”, com desfecho alucinante, e “Dead Man Walking”, pesada que só ela. Mais retilíneo, direto, o Siriun emenda uma pedrada trás da outra, com o som mais centrado no death/thrash tradicional, por assim dizer. Destaque para “In Chaos We Trust”, pela precisão dos arranjos, e para a grosseria gratuita de “Infected”.

Set list completo Black Dahlia Murder:

1- What a Horrible Night to Have a Curse
2- Statutory Ape
3- Abysmal
4- Nocturnal
5- Malenchantments of the Necrosphere
6- Vlad, Son of the Dragon
7- Contagion
8- Funeral Thirst
9- Miasma
10- On Stirring Seas of Salted Blood
Bis
11- Everything Went Black
12- Deathmask Divine
13- I Will Return

Retilíneo, direto: o vocalista e guitarrista do Siriun, Alexandre Castellan, na abertura da noite

Retilíneo, direto: o vocalista e guitarrista do Siriun, Alexandre Castellan, na abertura da noite

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Philip Leander em outubro 24, 2016 às 18:54
    #1

    Satisfação total meu amigo, valeu pela força!

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