Marinheiro de segunda viagem, o americano estava preocupado com uma série de coisas, a saber: a) Se iria agradar o público, afinal é a primeira vez em um show completo no Rio, depois da abertura para o Agnostic Front, em 2012, no mesmo local (relembre); b) Com o horário que avança, e nada de o lugar encher, como acontece mundo afora; e c) Com a ordem em que as músicas seriam tocadas, já que se trata do primeiro show dessa nova turnê pelo Brasil, e daí muita coisa ainda ser definida ali mesmo, no meio da apresentação. Perda de tempo. É só os primeiros acordes ressonarem sob a lona encardida de rock do Circo Voador que tudo se resolve, incluindo a chegada de uma turba a galope e as tradicionais rodas de pogo de um bom show de hardcore anos 90. Toby Morse titubeia, mas o show do H2O é pura alegria nesta sexta (16/9).

O vocalista, contudo, não é o único a se surpreender. Porque o grupo, honra seja feita, nunca integrou a fatia mais nobre de sua geração, e, mesmo assim, não lhe falta, mesmo no Rio, cidade madrasta com bandas de poucos holofotes, quem cante todas as músicas a plenos pulmões, incluindo aí as o disco mais recente, “Use Your Voice”, lançado no ano passado. Ou seja, clássicos, sim, mas sem revivalismo barato que tem música nova pra cantar. E o povaréu que chega cedo – a atração principal é o Raimundos (veja como foi) e a noite se chama Raimundos Rock Fest – curte de montão sons novos como a faixa-título, a mais conhecida; a metálica “Black Sheep”, logo no início, a custa de um riff realmente colante; e “Father Figure”, dotada de um cantarolar forte que ressalta os bons vocais de apoio dos dois guitarristas.

E poderia ter mais das novas, não fossem as preocupações citadas ali em cima, ou o tempo reativamente curto; o grupo tocou por cerca de 45 minutos. Mesmo assim, é o bastante para uma banda de hardcore mandar um bom repertório, incluindo “5 Year Plan”, com introdução de “War Pigs”, do Black Sabbath, em um momento “das antigas de verdade”, como descreve Morse. A banda já tocou muito pelo Brasil, e o vocalista exibe, com orgulho, uma tatuagem de “açaí”, no meio de tantas outras na coxa direita. Sabe-se lá o que o cara quer dizer, mas essa parece ser a única palavra que, de fato, aprendeu a pronunciar, e sai repetindo durante toda a noite. Para quem fala a língua do rock, e do dialeto hardcore em particular, no entanto, a tradução não é o lance.

Mas Toby Morse sabe ser grato com um fã que sobe e desce no palco o tempo todo, sem nenhum tipo de calçado. “Eu amo esse cara”, diz, apontando para o sujeito, que aparece praticando um suave body surfing, em cima do palco, em “What Happened”, já no final. Imagem que dá uma ideia do nível de alegria e da festa em que, surpreendentemente – repita-se -, o show se transformou. A essa altura, preocupação mesmo só a de dois roadies super heróis, um abraçado aos monitores da beirada de palco para ninguém derrubar, e outro guardando a bateria, porque – sabemos todos – o show deve continuar. Outras músicas que piram a plateia são “1995”, a cara do Green Day; “Faster Than the World”, uma das mais conhecidas; e “Guilty by Association”, em um momento nervosíssimo do show. Para a nossa alegria.

Set list completo:

1- One Life, One Chance
2- Black Sheep
3- 1995
4- Everready
5- Family Tree
6- Father Figure
7- Friends Like You ?
8- Faster Than the World
9- Sunday
10- Use Your Voice
11- 5 Year Plan/War Pigs
12- Heart on My Sleeve
13- Guilty by Association
14- Still Here
15- Memory Lane
16- What Happened
17- Nothing to Prove

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