O Homem Baile

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Camisa de Vênus lança primeiro álbum com músicas inéditas em 20 anos para plateia participativa em Circo Voador lotado. Fotos: Nem Queiroz.

O líder do Camisa de Vênus, Marcelo Nova, expressa toda a sua satisfação com a resposta do público

O líder do Camisa de Vênus, Marcelo Nova, expressa toda a sua satisfação com a resposta do público

Por vezes, até um sujeito cascudo, espirituoso e sagaz como o Marcelo Nova é surpreendido. Pois foi de surpresa o semblante dele, diante de um Circo Voador lotadinho da Silva, ao tentar impostar a voz e ver, do outro lado do palco, o povão cantar cada verso de grandes sucessos do Camisa de Vênus, do início ao fim. E isso a ponto de ele próprio abdicar de soltar a voz, num misto de emoção e daquela sensação de que tudo – tudo mesmo – valeu à pena. Não que já não fosse assim em outras ocasiões - e foram muitas -, mas a noite desta sexta (9/9) superou, e muito, o show que marcou o retorno do Camisa há pouco mais de um ano, no mesmo local (relembre). Ontem – fato verídico – os fantasmas do rock se soltaram das entranhas da lona do Circo Voador.

Quem é maior, Plebe Rude (veja como foi) ou Camisa de Vênus? Na dúvida, a dúvida. Como o Camisa tem um álbum novo pra mostrar, “Dançando na Lua”, o primeiro com músicas inéditas em 20 anos(!), o grito de guerra ecoa alto enquanto Nova demora para subir no palco, obrigando a banda a fazer um arrastado número instrumental, que até foi um bom aquecimento. Porque o início de verdade do show é realmente matador, com a sequência “Bota Pra Fudê” + “Hoje” + “Bete Morreu”, esta última com os dois guitarristas, Drake Nova e Leandro Dalle, mandado um duelo insano e que seria a marca da banda no show. É impressionante como ambos estão afiados e bem entrosados, num enorme advance dessa formação, que tem ainda Robério Santana, membro fundador, assim como Marcelo, no baixo, e o baterista Celinho Cadilac.

Nova entre os guitarristas Drake Nova, seu filho, e Leandro Dalle, que dão um sério up grade ao Camisa

Nova entre os guitarristas Drake Nova, seu filho, e Leandro Dalle, que dão um sério up grade ao Camisa

Mas se o show é de lançamento de um disco de inéditas, é certo que alguns hits são suprimidos para dar espaço a essa novidades, e, por incrível que pareça, o público não tem comportamento hostil nessas horas, a ponto de o próprio Marcelo Nova se derreter em elogios. As músicas, também, estão dentro do universo do Camisa, e, segundo Nova, “A Raça Mansa”, do verso/refrão “Nós pagamos as putas”, é o novo Hino Nacional. Com pegada clássica, entra para o rol das músicas do Camisa decalcadas de bandas internacionais como “Meu Primo Zé” e “Só o Fim”, entre outras; aqui o homenageado é o Kinks. Outra que agrada da nova safra é a faixa-título “Dançando na Lua”, um rock reto feito em cima de um riff no qual Drake deita e rola o tempo todo, e haja aplauso do povaréu.

O quarteto de inéditas é completado pela balada “Manhã Manchada de Sangue” e por “Sibilando Como Cascavel”. Fora isso, é só sucesso e alegria, muita alegria no salão. Como em “Gotham City”, cuja força instrumental, em solos e evoluções, reúne os quatro músicos na beirada do palco em grande interação. Ou “A Ferro e Fogo”, pinçada de uma fase menos bombada do Camisa, mas ainda assim aplaudida, sobretudo pelo discurso anti-politicamente correto que a precede. Ou mesmo “Muita Estrela, Pouca Constelação”, da fase de Marcelo Nova com Raul Seixas, que antecipou a cultura das celebridades fakes. Tudo tocado com mais peso que no passado, graças – repita-se – ao massacre imposto pelos dois guitarristas.

Diversão na beirada do palco: Drake Nova, Marcelo Nova, Leandro Dalle e o baixista Robério Santana

Diversão na beirada do palco: Drake Nova, Marcelo Nova, Leandro Dalle e o baixista Robério Santana

É por essas e outras que, em “Simca Chambord”, talvez o maior sucesso do grupo em todos os tempos, Nova apresente as músicas com uma cara de quem está transbordando de orgulho por ter para quem passar o bastão. A música, de certo modo, relata a história brasileira dos últimos 50 anos, e que começa a se repetir. “My Way”, versão canhestra do sucesso de Frank Sinatra, se tornou um hit sozinha, sem as rádios, segundo Marcelo Nova, e “Silvia” soa como um libelo de liberdade em épocas em que tudo pode dar processo. Alheio a tudo, o público solta o grito de “piranha!” como se fosse o a última esperança de se obter socorro quando se está em apuros. E o desfecho vem com a cartoonica “Eu Não Matei Joana d’Arc”, que soa como o pedido de clemência mais sincero do Brasil. Que esteja, então, absolvida a nossa renovada Camisa de Vênus.

Set list completo:

1- Introdução
2- Bota Pra Fudê
3- Hoje
4- Bete Morreu
5- A Raça Mansa
6- Manhã Manchada de Medo
7- Deus Me Dê Grana
8- Gotham City
9- Sibilando Como Cascavel
10- Muita estrela, Pouca Constelação
11- A Ferro e Fogo
12- Dançando na Lua
13- Só o Fim
14- My Way
15- Simca Chambord
16- Silvia
17- Eu Não Matei Joana d’Arc

Nova nem precisou cantar em todas as músicas, mas a presença de palco e o gogó afiado seguem intactos

Nova nem precisou cantar em todas as músicas, mas a presença de palco e o gogó afiado seguem intactos

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