Muito Viva
Camisa de Vênus retoma carreira em turnê de 35 anos no mesmo palco em que começou a despontar nos anos 80. Fotos: Felipe Diniz/Divulgação Circo Voador.
Aos que pensam que bandas só voltam de verdade se a formação for a original e/ou clássica, os integrantes dessa turnê de reunião do Camisa dão o recado desde o início. Além de Nova, que emblematiza o grupo mais que todos, e do pioneiro baixista Robério Santana, estão no palco Drake Nova, o filho do Homem (guitarra), Leandro Dalle (guitarra) e Célio Glouster (bateria), sendo que os três já vinham tocando na carreira solo de Marceleza há tempos (veja como foi o show de 2012, no mesmo Circo Voador). Drake, o mais moço deles, não nega o sangue e hoje tem até certa marra, fazendo com sobras o papel que de Gustavo Mullem. Ele esmerilha a guitarra na soturna “A Ferro e Fogo”, por exemplo, desencadeando uma jam session final com a participação do papai Marcelo numa terceira guitarra, valorizando uma das poucas músicas desconhecidas da plateia.

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Talvez embevecido pelo apoio popular ou mesmo sentindo o tal “friozinho na barriga” por ser este o primeiro show de uma turnê de retorno, Marcelo Nova prefere apontar o microfone para o público cantar grandes trechos em boa parte das músicas, o que, apesar da resposta certeira por parte do povão, acaba por atrapalhar o show em si. Uma pena, porque Marceleza apresenta boa forma e tem o gogó em dia, e, no fim das contas, o público atravessa a catraca para vê-lo cantar, não o contrário. Assim, o clássico dos clássicos “Eu Não Matei Joana d’Arc”, para ficarmos só num exemplo, fica prejudicado no encerramento, muito embora o público esteja se acabando no meio do salão, com copos de cervejas lançados para o alto – e de cima para baixo - sem parar.
O set poderia ser mais longo, já que tá todo mundo em forma e repertório é o que não falta; pense que ficaram de fora pérolas como “Meu Primo Zé”, que a Fluminense FM adorava tocar, “Noite e Dia” e “Ladrão de Banco”. Mas seguramente não é isso o que passa na cabeça do público quando o grupo manda “Só o Fim”, decalcada dos Stones, prática comum do Camisa; quando Raul Seixas é lembrado na parceria de “Muita Estrela, Pouca Constelação”; no clássico punk rock que é “Bete Morreu”, bem no início; ou no delirante arremate da noite, com “Simca Chambord”. Não é ao acaso que Marcelo nova abre o sorrisão de satisfação ao perceber que tudo deu certo e a turnê , provavelmente, vai seguir assim por esse Brasilzão. É, tinha que ser no Circo Voador mesmo.Na abertura, direta e literalmente de todas as praças do Rio de Janeiro, o Beach Combers mandou muito bem com a mistura de surf music de raiz com garage rock e psicodelia. De tanto tocar, o trio está num nível de entrosamento impressionante, bem mais pesado do que em outras oportunidades; o modo como Lucas Leão surra a bateria é de impressionar. O grupo chamou a atenção do público do Camisa de Vênus com um set acelerado, urgente e preciso, como deve ser um show de abertura, sem muito blablablá. As melhores músicas foram “Estricnina”, no encerramento distorcidaço, e a divertida “Me Perdi na Rua Augusta”. Go, Beach Combers, go!
Set list completo Camisa de Vênus:1- Bota Pra Fudê
2- Hoje
3- Bete Morreu
4- Rostos e Aeroportos
5- Deus Me Dê Grana
6- Gotham City
7- Passatempo
8- Negue
9- A Ferro e Fogo
10- Muita estrela, Pouca Constelação
11- Só o Fim
12- O Adventista
13- My Way
14- Simca Chambord
15- Silvia
16- Eu Não Matei Joana D’Arc
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Primeira turnê desde 1987? Acho que não, viu. Eu mesmo vi o Camisa aqui em Aracaju já numa “turnê de volta”, nos anos 1990…