O Homem Baile

Pra recomeçar

Show curto do Adrenaline Mob realça fase de transição e perfil de intérprete do vocalista Russell Allen; abertura tem Noturnall em boa forma e Republica pouco criativo. Fotos: Felipe Diniz/Divulgação Circo Voador.

Russel Allen: boa forma, agora no formato crooner de banda estradeira assumido pelo Adrenaline Mob

Russel Allen: boa forma, agora no formato crooner de banda estradeira assumido pelo Adrenaline Mob

Era para ser mais um bom show de rock pesado no Circo Voador – e realmente foi -, mas o momento alto da noite acontece com uma canção cantada quase à capela, com o vocalista emocionado se esgoelando e o público acompanhando certinho, junto com um guitarrista tocando violão sentado numa cadeira de plástico. O show está mais ou menos no meio e explica-se que a superbanda Adrenaline Mob perdeu, há pouco mais de um mês, o baterista A.J. Pero (saiba mais), aquele mesmo que se consagrou no Twisted Sister, e o clima de homenagem é inevitável. Descrito como “aquele que pensava antes nos outros e depois nele”, o baixinho é lembrado por Russell Allen, também conhecido como vocalista do Symphony X, que traz ao público inúmeras reflexões pessoais e do show business em geral, durante a música “All On The Line”.

Apesar de curto – pouco mais de uma hora – e quebrado por duas músicas quase acústicas e com encerramento com um medley do Black Sabbath, a apresentação até que vale à pena. Sobretudo porque Russel, longe das amarras do Symphony X, onde claudicava penosamente (veja como foi o show do Rio, em 2011), se mostra com boa desenvoltura, tal qual um crooner de uma banda de rock de beira de estrada americana; e isso é bom. Tanto que ele manda muito bem em dois covers refeitos que aparecem no EP “Dearly Departed”, lançado em fevereiro. “Snortin’ Whiskey”, de Pat Travers, é convertida em um blues heavy rock graças às intervenções do cascudo guitarrista Mike Orlando, e “The Devil Went Down to Georgia”, do veterano Charlie Daniels, ganha um tratamento de guitarra exuberante, para dizer o mínimo. Russel é o destaque no tal medley do Sabbath, se desdobrando em vários timbres numa música só e confirmando que tem o gogó privilegiado.

O baixista Erik Leonhardt, Russel Allen, o baterista Chad Szeliga (atrás) e o guitarrista Mike Orlando

O baixista Erik Leonhardt, Russel Allen, o baterista Chad Szeliga (atrás) e o guitarrista Mike Orlando

Acontece que, dadas as constantes mudanças da formação que já teve os virtuoses Mike Portnoy (bateria) e Paul Di Leo (baixo), o Adrenaline Mob hoje mal se sustenta como supergrupo, e mais parece um ajuntamento de músicos em busca de uma identidade que, a bem da verdade, talvez jamais tenha obtido. Por isso sobressaem tanto os covers, com Russel muito bem – repita-se – como crooner. Mesmo assim, não se pode subtrair a relevância, ao menos para o meio, de músicas como “Undaunted”, que dispara um pula-pula no meio do ralo público, já no encerramento do show; “Mob is Back”, um rockaço setentista estradeiro que abre a noite no gás, e “Dearly Departed”, que realça ainda mais a força vocal de Russell Allen e tem Orlando debulhando a guitarra sem dó. Curiosamente, em seu momento solo, mais adiante, o guitarrista investe mais em um duelo com os gritos do público do que em algo tecnicamente mais apurado, sua especialidade.

A jugar por esse show, por incrível que pareça, talvez hoje o Adrenaline Mob seja uma banda para se escutar os discos em casa, eles são muito bons. A menos que o grupo se reestruture – a perda de Pero é um baque realmente recente – e monte uma formação “mais fixa” e um espetáculo à altura da história de seus integrantes e do status musicalmente falando, de cada um. Essa turnê, que começou quinta, em por Belo Horizonte e tem ao menos outras cinco datas pelo Brasil, é compartilhada com as bandas nacionais Noturnall e Republica, todos a bordo de um vistoso ônibus de turnê, e todos usando e abusando – curioso detalhe - da antológica bateria de Aquiles Priester, que toca no Noturnall. As duas bandas tiveram um bom tempo para se apresentar, coisa distante daquela meia horinha em geral destinada a grupos brasileiros.

Noturnall: reforçado pelo batera Aqulies Priester, grupo está entrosado e com um show redondinho

Noturnall: reforçado pelo batera Aqulies Priester, grupo está entrosado e com um show redondinho

Quem pensa que o Noturnall é reles continuação do Shaman, por conta da formação quase idêntica, está equivocado. Primeiro que o Shaman de verdade é o que tinha Andre Matos nos vocais, e, segundo, que o Noturnall é uma banda acertada, com sonoridade própria – híbrida de várias correntes do metal contemporâneo - e já bem querida pelo público. É o que se vê em músicas como “Back to Fuck You Up”, uma porrada das boas, e que dá título do segundo álbum, prestes a ser lançado; em “Fight The System”, com letras em português do Racionais, numa discreta mistura de rap com metal que reserva um belo solo do guitarrista Léo Mancini; e em “No Turn At All”, na qual o vocalista Thiago Bianchi se emociona por estar no palco do Circo Voador. A música é cantada em uníssono pela turma do gargarejo.

O que pegou foi o teclado de frente de Junior Carelli, que ao ser tocado arruinava o som do PA, e quando isso acontece no bom som do Circo Voador é porque tem alguém fazendo algo errado. Aquiles Priester também sofreu no início com a bateria se desmontando, mas tudo se resolveu e depois ele fez um solo fenomenal, digno de sua história, em que pese a desnecessária citação a “Brasileirinho”. Se for para colocar som gravado, que seja compatível com o que faz o Noturnall. Nada, contudo que atrapalhasse o bom show da banda, que só não passou o Adrenaline Mob para trás porque lhe falta um bocado mais de rodagem.

Republica: classic rock do grupo ainda precisa evoluir para composições realmente próprias

Republica: classic rock do grupo ainda precisa evoluir para composições realmente próprias

Já o Republica, com a casa ainda mais vazia, mais cedo, fez um set padrão de uma banda de classic rock. Show correto, mas que não chega a empolgar porque o grupo, embora toque bem e tenha um bom vocalista, é muito quadrado, de modo que as músicas parecem umas com as outras ou com standards do gênero. Só no cover para “Supremacy”, do Muse, é que eles mais se arriscam, muito embora a participação de Junior Carelli, do Noturnall, tocando um tablet (!?) quase coloque tudo a perder. O grupo abusa do óbvio ao incluir “Enter Sandman” (você sabe de quem) no set, sendo que a melhor música, disparado, é a colante “El Diablo”, que fecha a noite com um ótimo trabalho da dupla de guitarristas. Menos cover e música própria que parece cover e mais variação, pessoal.

Set list completo Adrenaline Mob:

1- Mob Is Back
2- Let It Go
3- Dearly Departed
4- Gets You Through the Night
5- The Devil Went Down to Georgia
6- Solo de guitarra
7- Snortin’ Whiskey
8- All on the Line
9- Crystal Clear
10- A confirmar
11- Undaunted
12- Sabbath Meddley (Into The Void/Sabbath Bloody Sabbath/The Mob Rules)

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