O vocalista Russel Allen 'abraça' os fãs como o Cristo Redentor, citado numa das falas à plateia

A Fundição Progresso, no Rio, recebeu na noite de ontem um dois maiores públicos para uma banda de médio porte do heavy metal nos últimos tempos. Apesar das generosas ofertas – só nesse final de semana teve Alice Cooper e Pain Of Salvation – o Symphony X mostrou que tem prestígio entre os fãs cariocas e que deveria ter atravessado a Dutra há mais tempo, já que é figura fácil em São Paulo. As 1400 pessoas listadas no borderô oficial (todas fãs do grupo) não se arrependeram de ter saído de casa no domingão gelado, para os padrões cariocas.

Até a 'papada' de Michel Romeo lembra Malmsteen

O show apresentou uma espécie de transição. Se é (ainda) baseado no álbum “Paradise Lost”, lançado em 2007, que cede nada menos que cinco faixas, fora a introdução pré gravada, já apresenta duas músicas que fazem parte de “Iconoclast”, a ser lançado no final do mês. São elas “The End of Innocence” e “Dehumanized”, esta segunda de ótimo gosto e brilhante execução. Com um riff pesado e muito mais para o lado metal do que para o prog, dá uma auspiciosa idéia do novo material, incluindo um belo solo do guitarrista Michel Romeo. As duas, no entanto, são conhecidas dos fãs – o álbum já deve ter vazado na rede.

O vocalista Russel Allen é o que mais se diverte, até quando recebe o microfone desligado, no bis. Lá pelo meio do show, antes de “Smoke and Mirrors”, se derrete pela cidade. “Estamos muito felizes por essa nova turnê no Brasil, especialmente por causa do nosso primeiro show no Rio, essa cidade lendária!”, disse Allen”. “Obrigado ao ‘Jesus in the mountain’”, brincou se referindo ao Cristo Redentor. Em “Eve Of Seduction”, ele recebe uma bandeira do Brasil do público e pendura junto aos amplificadores. “Smoke and Mirrors” é uma das que o público se acaba, e talvez nem perceba que Romeo decalca Yngwie Malmsteen em um dos grandes solos da noite – para o bem ou para o mal.

O tecladista Michael Pinnella e o kit minúsculo

O Symphony X é a mais perfeita caracterização de uma banda de segunda divisão de um subgênero do metal, no caso o prog metal. Vive à sombra do talento do Dream Theater, nome símbolo do gênero; seu guitarrista, Michael Romeo, é espécie de clone bem sucedido de Malmsteen e afins; e a premissa de seguir as fórmulas/formatos do gênero é seguida à risca, subtraindo-se aí o quesito criatividade. O símbolo dessa tese é a suíte “The Odissey” (baseada na “Odisséia”, de Homero), deixada estrategicamente para o bis. Com quase meia hora de duração e várias mudanças de andamento, peca por não ter quase nenhum trecho que cative o ouvinte e muitas vezes só serve para salientar boa técnica, em detrimento da boa música. Verdadeira perda de tempo.

Na breve hora e maia em que a banda se apresenta, no entanto, não há tempo para reflexões, ainda mais em se tratando de um público completamente “na mão”. O set list é curto e há varias músicas praticamente emendadas umas nas outras, caso das três primeiras, com destaque para “Domination”, que desencadeia rodas no meio do plateia. Mais tarde, é “Eve Of Seduction” que coloca o gogó do público para funcionar, às custas – aí, sim – de um refrão colante e de sotaque pop/cantarolável. O momento “braços erguidos em coreografia ensaiada” fica para a boa “Set The Word On Fire”, que fecha o show com exatos 60 minutos. Aí ficou para “The Odissey”, no bis, uma espécie de síntese de todo o set, como se trechos de todas as músicas habitassem uma só. Não precisava.

O pequeno Jason Rullo se desdobra para não errar

Set list completo:

1- Oculus Ex Inferni
2- Of Sins and Shadows
3- Domination
4- Serpent’s Kiss
5- The End of Innocence
6- Paradise Lost
7- Smoke and Mirrors
8- Eve of Seduction
9- Dehumanized
10 -Set the World on Fire
Bis
11- The Odyssey

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