O Homem Baile

Afetado

Em noite para esquecer, um alterado Mike Patton cai do palco ao tentar saltar sobre o público e show do Faith No More naufraga fragorosamente no Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio: Diego Padilha/I Hate Flash (1 e 3) e Estácio (2).

Depois de cair do palco, o vocalista Mike Patton se esforça para seguir cantando até o final do show

Depois de cair do palco, o vocalista Mike Patton se esforça para seguir cantando até o final do show

Era ainda a terceira música da noite e o estrago estava feito. Em um súbito desvario, o vocalista do Faith No More, Mike Patton, parte em direção à beirada do palco, já na rampa que avança no meio do público, decide se jogar sobre a multidão, calcula mal a distância entre o placo e a grade e cai gravitacionalmente sobre os fotógrafos e outros profissionais que atuam naquele espaço. Ajudado por todos, volta para o Palco Mundo do Rock In Rio e segue cantando, sentido-se muito incomodado, o que se percebe em limitada mobilidade e seguidas expressões de dor. Pronto, o que era para ser mais um show daqueles quase comemorativos nessa edição do Rock In Rio, ontem (25/9), vai ficar marcado com um dos grandes fiascos do festival.

A apresentação, porém, não é ruim por culpa de Patton, que, honra seja feita, segura as pontas e segue fazendo sua parte, em que pese o vocalista já ter entrado em cena visivelmente alterado. Talvez por isso tenha cometido o erro de cálculo que levou a queda. O show é ruim porque, primeiro, o set list é mal concatenado e não emplaca sequer uma sequência de duas ou três músicas que empolgue o público. “Motherfucker”, do disco “Sol Invictus”, lançado este ano, é a cara do FNM, mas soa como vinheta de mau gosto na abertura, e “From Out Of Nowhere”, aquela mesma que impressionou a todos no Rock In Rio de 1991, agora parece reles compromisso formal de músicos desinteressados. E tudo antes da queda de Patton. Ou seja, a coisa já não era boa no começo.

O grupo usa um cenário de palco e figurinos inspirado no candomblé, brincadeira de mau gosto que começou na terrível apresentação do SWU de 2011, em Paulínia, no interior de São Paulo (veja como foi), e agora segue, digamos, mais branda. Melhor do que naquela ocasião, agora há um disco novo debaixo do braço para mostrar, a despeito de muitos sucessos e pouco tempo de show. De quatro novas tocadas, só duas dão resultado ao vivo: “Superhero”, na qual Patton usa um megafone, típico dele, e “Sepration Anxiety”, muito embora, no público, pouco numeroso – repita-se – ninguém pareça conhecer as coisas mais novas. Entre elas, “Ashes to Ashes” é a que mais se aproxima de uma interação com a plateia, mas é só.

O tecladista Roddy Bottum e o baixista Billy Gould, fincados no palco de cenário de gosto duvidoso

O tecladista Roddy Bottum e o baixista Billy Gould, fincados no palco de cenário de gosto duvidoso

Para piorar, dois covers são tocados, para “Easy”, dos Commodores, o que até se justifica por aquilo que a versão significou na carreira do Faith No More, e “I Started a Joke”, dos Bee Gees, já no bis, essa amplamente desnecessária, em que pese o dramalhão revelado pela boa interpretação de Mike Patton. Se o vocalista parece alterado, os outros integrantes estão completamente apáticos, como se fossem anões de jardim estáticos em meio às flores de uma esquete de programa humorístico do SBT. Apatia que, inclusive, passa para a plateia, cujo teor de interesse, se havia antes, em uma noite que tem pesos pesados como Slipknot e Mastodon, se dissipa irremediavelmente.

Da caipirinha, ops, limonada amargosa, tira-se extratos isolados que podem servir de consolo, como a versão mal pesada de “Epic”, visto que a banda não tem um guitarrista verdade há anos. Ou ainda “We Care a Lot”, no bis, que ao vivo, com Patton, jamais superou a de seu antecessor, o saudoso Chuck Mosley, mas cai bem mesmo assim. Ou, por último – que fase! -, as incursões do gaiato Patton no português mal falado, sempre com boas tiradas. Mas nem isso engrena, e aquela noite que se anunciava fada à recordações termina para ser esquecida, num dos piores shows do Faith No More no Brasil em todas as épocas.

Set list completo:

1- Motherfucker
2- From Out of Nowhere
3- Caffeine
4- Evidence
5- Epic
6- Black Friday
7- Midlife Crisis
8- The Gentle Art of Making Enemies
9- Easy
10- Separation Anxiety
11- Ashes to Ashes
12- Superhero
Bis
13- I Started a Joke
14- We Care a Lot
15- Just a Man

O inócuo guitarrista Jon Hudson, que tem seguramente um dos melhores empregos do mundo

O inócuo guitarrista Jon Hudson, que tem seguramente um dos melhores empregos do mundo

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. Fabio em setembro 26, 2015 às 21:31
    #1

    Foi xoxo mesmo. E acho q seria mesmo sem o incidente. Achei o andamento de From Out of Nowhere lento…Midlife Crisis idem… Muitas baladas…
    Som baixo…
    Definitivamente nao funcionou.

  2. Marlon em setembro 27, 2015 às 10:43
    #2

    Concordo com quase tudo, menos com sua definição sobre o show do SWU. Faith No More é uma das melhores bandas que já passou pelo festival e o show foi sensacional. É só o Mike Patton parar de beber como um gambá que a coisa engrena, voz pra isso ele tem, é um dos melhores da história.

  3. Guga em setembro 27, 2015 às 19:04
    #3

    O show do SWU foi ruim? Fale mal deste show do RiR , mas aquele foi f….

  4. Fabio em setembro 28, 2015 às 14:23
    #4

    O FNM é banda de altos e baixos. Esse do RiR definitivamente não foi legal.
    Lembro do péssimo show de abertura que fizeram pro Ozzy no Metropolitan Hall…
    Ja o show de Re-united em 2009 foi ótimo.

    Acho que shows de abertura ou de festivais onde eles não sejam headliners, tem que jogar pra galera… lançar mão dos HITs e deixar o experimentalismo pra qdo o publico for mais exclusivo

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