O Homem Baile

Praia Invadida

Com problemas na edição de 1985, Ultraje a Rigor e Erasmo Carlos tocam juntos em grande festa redentora no sábado do Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio: I Hate Flash.

O líder do Ultraje a Rigor, Roger Rocha Moreira e Erasmo Carlos: parceria que tem tudo a ver

O líder do Ultraje a Rigor, Roger Rocha Moreira e Erasmo Carlos: parceria que tem tudo a ver

O show está acabando, e no palco, duas bandas que, juntas, reúnem cinco guitarristas tocando simultaneamente. O tema final é a melhor possibilidade para quem vem invadir o Rock In Rio, e têm, em comum, momentos de dificuldade na edição de 1985 do festival. Mal escalado na ocasião, Erasmo Carlos foi vaiado em um dos dias, e, no outro – eram dois por artista – teve que reagendar para evitar problemas. Já Roger Moreira deveria ter tocado junto com os Paralamas, mas a defesa das novas bandas nacionais na época ficou só no discurso de Herbert Vianna, e apenas “Inútil”, o Hino da Nova República, foi incluída. Agora, juntos, Erasmo e Ultraje a Rigor conseguem fazer o tal encontro do Palco Sunset dar muito certo.

Por que, em vez de um sujeito aparecer do nada no final do show para tocar uma ou duas músicas, as duas bandas ensaiaram e prepararam minimamente um espetáculo juntas, com entradas e saídas de acordo com o repertório definido. E, também, porque mesmo separadas por décadas, não há quem não reconheça grandes semelhanças entre as duas, e não só nas intersecções do set list; veja no final do texto. Veterano, Erasmo canta com tranquilidade trechos de letras das músicas do Ultraje, e as dele, todos cantam sem saber o porquê (sabem, sim), incluindo o público diversificado deste sábado, do tipo pouco interessado em música, mas tá valendo.

Roger com camisa alusiva ao hit 'Inútil', Hino da Nova República, e sugestivo nos dias de hoje

Roger com camisa alusiva ao hit 'Inútil', Hino da Nova República, e sugestivo nos dias de hoje

A banda do Tremendão – vale o registro – é toda renovada, e além dos irmãos Pedro Dias e Luiz Lopes, respectivamente guitarra e baixo, o cascudo guitarrista Billy Brandão comanda uma sessão de solos de converter até fã de cantora americana sem noção escalada para o Palco Mundo. Funciona muito bem em “Quero que Vá Tudo Pro Inferno” e “Eu Sou Terrível”, que, vamos e venhamos, é praticamente domínio popular. Do lado do Ultraje, o bem-humorado Roger Moreira vai bem com suas tiradas, quando usadas para o bem. “Hoje é rock de raiz”, diz no início, e “vamos ver se agora a gente aprende”, antes de “Inútil”, logo no início, que o público adora. Bem, ao menos já aprendemos a escolher presidente, a pedir grana e conseguir pagar e os gringos já nos têm outro olhar diferente do daquela época.

Mas as músicas do Ultraje em que o público mais vibra são as de maior exposição na mídia, como “Pelado”, tema de novela global, da impagável fase palavrão gratuito, ou “Marylou”, há anos convertida em trilhas sonoras de carnaval ou outras festas popularescas. Juntos, além do início com “Terror dos Namorados/Minha Fama de Mau”, associadas, o tal final com “Vamos Invadir Sua Praia”, depois de “Festa de Arromba”. Pode até não parecer, mas as músicas foram feitas uma para a outra, ainda mais com os músicos das duas bandas interagindo entre si. Se Erasmo Carlos sentiu o alívio da redenção no Palco Mundo na noite estreia do festival (veja como foi), agora a história tá passada a limpo de verdade. Coisa que o Ultraje sente desde a edição de 2001, quando tocou com o Ira!, o que reforça o desfecho dessa ótima apresentação.

O Tremendão Erasmo Carlos mandando ver no rock'n'roll que une gerações nacionais de décadas diferentes

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Set list completo:

1- Terror dos Namorados/Minha Fama de Mau
2- Inútil
3- Filho da Puta
4- Pelado
5- Nada a Declarar
6- Eu me Amo
7- Marylou
8- Ciúme
9- Quero que Vá Tudo Pro Inferno
10- Negro Gato
11- Eu Sou Terrível
12- Jogo Sujo
13- É Proibido Fumar
14- Festa de Arromba/Nós Vamos Invadir Sua Praia

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