O Homem Baile

Metalizado

Sepultura atualiza a mpb visceral de Zé Ramalho em apresentação concorrida e ovacionada no Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio: Ariel Martini (1 e 2) e Victor Nomoto (3 e 4).

Zé Ramalho e o guitarrista Andreas Kisser juntos no Palco Sunset: o improvável que funcionou bem

Zé Ramalho e o guitarrista Andreas Kisser juntos no Palco Sunset: o improvável que funcionou bem

Não era tão fácil prever que seria assim. Desde o anúncio da dobradinha Sepultura + Zé Ramalho no Palco Sunset no Rock In Rio, até a revelação do guitarrista Andreas Kisser a este Rock em Geral de como seria o show (veja aqui), o clima era de desconfiança. Era porque, desde antes de o show começar no domingo, dia 22, um público gigante já não se aguentava de ansiedade nos arredores do Sunset. Curiosamente, por interesse ou diversão, fãs do Sepultura (eram maioria em plena segunda noite do metal) já cantavam “Vida de Gado”, de Zé Ramalho e convertiam o sagrado grito de guerra com o nome da banda em “Zé-pul-tu-ra!”. É mole?

Derrick Green se revezou com Zé Ramalho

Derrick Green se revezou com Zé Ramalho

E quando Zé Ramalho, com o corpo coberto de preto, do alto dos seus 63 anos, chamou o Sepultura de “banda puderosa”, realçando o sotaque paraibano ao qual permanece fiel, a causa já estava ganha. Logo na primeira música, “A Dança das Borboletas”, do álbum de estreia, que contém o clássico “Avôhai”, o bicho pegou com o peso esporrento do Sepultura saindo através do som tinindo do Sunset. As rodas de pogo, a bateção de cabeça e os punhos erguidos prosseguiram com uma fome de impressionar. Não precisou Zé Ramalho “fazer um gutural” e nem o vocalista Derrick Green o acompanhar. A coisa funcionou de imediato e, de repente, o cantor viu suas músicas tomarem um banho de loja thrash metal, no melhor dos sentidos, e chegar a outra turma. E olha que, à exceção de “Vida de Gado”, só músicas lado B dele foram “metalizadas” no show.

Mas, também pudera. Zé Ramalho é representante da mpb, mas não é um mauricinho como Chico Buarque nem um cabeçudo oportunista como Caetano Veloso. Figura sombria, sempre esteve envolvido com temas pouco comuns ao universo mpbista chatonildo e metido à besta. Em seus discos, participavam gente como Zé do Caixão, Sérgio Dias e até Patrick Moraz, guitarrista do Yes. E, naquela pasmaceira dos anos 1970 em que quase não existia rock no Brasil – não me falem de jovem guarda - eram figuras como Zé Ramalho que mais se aproximavam, pelo conjunto da obra, ao universo rocker. Daí a coisa ter casado tão bem. Ele ainda cantaria, do Sepultura, com sucesso, a mestiça “Ratamahatta”, música gravado no álbum “Roots”, o de maior sucesso do Sepultura, mas desprezada por causa de um nefasto convidado. Com Zé, valeu à pena ouvi-la.

Andreas Kisser solando no show lotado do Sunset

Andreas Kisser solando no show lotado do Sunset

Muito antes de Zé Ramalho entrar no palco, porém, o show já era diferente. Isso porque o Sepultura limou o repertório que tem tocado nas turnês recentes e escavou o solo fértil das músicas pouco (ou nunca) tocadas ao vivo, caso de “The Hunt”, do New Model Army, cujo registro está no álbum “Chaos AD”. E, ainda, houve tampo para levar a versão de “Da Lama Ao Caos”, de Chico Science e Nação Zumbi, gravada para o novo álbum, “The Mediator Between the Head and Hands Must be the Heart”. A música foi tocada ao vivo pela primeira vez, e com um rico detalhe: Andreas Kisser nos vocais. A reação do público ante a essas mudança? Enlouquecimento amplo, geral e irrestrito.

O resumo do metal é que Sepultura e Zé Ramalho conseguiram como poucos fazer o que sugere a curadoria do Palco Sunset, e justamente no show de encerramento. Uma apresentação única, misturando de verdade o trabalho dos dois artistas. A maioria fracassa por falta de ensaio, interesse ou talento. E vejam vocês o que é o Sepultura. Equivocadamente escalado no Rock In Rio de 2011 no palco secundário, fez um dos melhores shows daquela edição (veja como foi). Este ano, foi chamado de “arroz de festa” por fazer dois shows, um no Palco Mundo com o Tambours Du Bronx, e este no Palco Sunset, seguramente um dos melhores de 2013. Quem segura?

Zé Ramalho concentrado na cantoria mais pesada

Zé Ramalho concentrado na cantoria mais pesada

Set list completo:

1- Dark Wood of Error
2- Inner Self
3- Propaganda
4- Dusted
5- Spit
6- The Hunt
7- Da Lama ao Caos
8- A Dança das Borboletas
9- Jardim das Acácias
10- Mote Das Amplidões
11- Em Busca do Ouro
12- Ratamahatta
13- Admirável Gado Novo

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