O Homem Baile

Metade vazio

Com desfalques importantes na formação clássica e repertório irregular, Bon Jovi se esforça, se emociona, mas faz show apenas razoável. Fotos: Léo Corrêa.

Jon Bon Jovi mostra empolgação, com o baterista substituto (ops, não era pra mostrar!) ao fundo

Jon Bon Jovi mostra empolgação, com o baterista substituto (ops, não era pra mostrar!) ao fundo

Nem de longe parecia uma noite fácil para Jon Bon Jovi. As lágrimas que teimavam em brotar nos olhos do músico em várias passagens do show de ontem (20/9), o principal da sexta do Rock In Rio, saíram com mais intensidade quando o assunto Tico Torres veio à tona, já no segundo bis. O baterista se submeteu à segunda cirurgia em pouco mais de 20 dias e foi vetado durante à tarde da sexta (veja mais). Jon falou da difícil decisão de remarcar ao menos quatro datas e de não cancelar a apresentação do Rock In Rio, usando Rich Scannella como substituto. A rigor, como Richie Sambora deserdara meses antes (saiba mais), estavam no palco metade da banda + músicos contratados.

Jon Bon Jovi tocando violão na música de abertura

Jon Bon Jovi tocando violão na música de abertura

Não foi “só” por isso, contudo, que o show de ontem não foi bom. Afora a visível apreensão de Jon Bon Jovi e um esforço incomum para puxar a participação do público, como se sentisse devendo sem ser cobrado, a banda mostrou um repertório irregular, com vários clímax e anticlímax em pouco mais de duas horas de duração (ele chegou a falar em três horas; veja). Os substitutos não comprometem, mas passam longe de ocupar bem , cada qual, o posto do titular. Se o batera Rich Scannella, com a imagem vetada nos telões ou na transmissão de TV, mostrou fôlego e rapidez na hora em que foi chamado, nem de longe o apenas correto Phil X faz o público parar de pensar em Sambora. Imaginem a volta para o bis, com Jon iniciando sozinho “Wanted Dead or Alive” sem o guitarrista. Simplesmente não dá.

Mas está na montagem do set list a grande escorregada. Abrir, por exemplo, com a cadenciada “That’s What the Water Made Me” é querer que a coisa só pegue fogo de verdade na segunda, o blockbuster “You Give Love a Bad Name”. Como contribuição para a fase negra, até o potente som do festival estava num volume abaixo do de outros shows de relevância semelhante, e a correção só viria depois do primeiro terço de músicas. É fácil identificar, dada a montagem do repertório, vários momentos de queda seguidos de euforia e vice versa, sempre com o homem com os dentes mais claros do mundo puxando pelo gogó do púbico, que – diga-se – nunca decepciona. Os gritos por “Always”, que apareceu só no segundo bis que o digam. Mesmo assim, nos momentos de queda, eram visíveis as filas rumo à saída da Cidade do Rock.

Jon ao lado do tecladista David Bryan, no escuro

Jon ao lado do tecladista David Bryan, no escuro

A interação mais intensa se dá em “Who Says You Can’t Go Home”, quando uma fã mais saidinha é escolhida para subir ao palco por conta de carregar um cartaz gigante como prova de fidelidade. A moça ganhou dois selinhos e vários abraços, mas, como não sabia a letra, se concentrou em bater fotos, a grande chatice do mundo contemporâneo. “As garotas brasileiras sempre me colocando em enrascadas”, brincou Jon. O ato é emblemático de uma das grandes mudanças da carreira da banda, que busca “ser o U2” há tempos, incluindo composições do tipo “todo mundo se identifica com a letra e se emociona”, como “It’s My Life”, por exemplo, e ainda ações humanitárias quando está longe dos palcos. Estofo e repertório consagrado não lhe faltam.

Musicalmente falando, uma das grandes surpresas do show acontece em “Keep The Faith”, música que marcou a transição do hard rock para o pop dançante no início dos anos 1990. Pois é justamente nela que o guitarrista Phil X se solta no palco - Jon sai para molhar a garganta -, solando muito e fazendo “mini jams” com os outros integrantes do grupo. Funciona e muito bem. Em “I’ll Sleep When I’m Dead”, a turbinagem vem com a citação de “Start Me Up”, dos Stones, mas o que era para ser uma acelerada para um final mais forte não fica muito legal. Jon Bon Jovi reserva momentos de emoção ao marejar os olhos em várias músicas, incluindo “Runaway”, o primeiro grande hit do grupo, e na sensacional “Livin’ on a Prayer”, reservada com acerto para o encerramento.

Um ouvido mais atento e rigoroso apontaria deslizes vocais de Jon Bon Jovi, mas nada que comprometa a apresentação como um todo. O que fica latente é que, hoje, existem no mínimo três Bon Jovis. O primeiro é aquele que se consagrou com o hard rock dos anos 80 e ainda arrasta fãs aos shows. O segundo, da fase pop iniciada por “Keep The Faith” e que fez a banda se tornar ainda maior, mas com fãs menos interessados. E, o terceiro, é a mistura disso tudo com o plus de a banda – repita-se - querer ser o U2, e o demérito de ter que resolver essas questões recentes de formação, quando voltar à carreira solo pode ser a (única?) saída para Jon. A impressão geral que fica depois desse show é que, se o grupo se esforçou para não cancelar o Rock In Rio, também não veio por inteiro. E agora?

Telão no fundo mostra o público participativo

Telão no fundo mostra o público participativo

Set list completo:

1- That’s What the Water Made Me
2- You Give Love a Bad Name
3- Raise Your Hands
4- Runaway
5- Lost Highway
6- Whole Lot of Leavin’
7- It’s My Life
8- Because We Can
9- What About Now
10- We Got It Goin’ On
11- Keep the Faith
12- (You Want to) Make a Memory
13- Captain Crash & the Beauty Queen From Mars
14- We Weren’t Born to Follow
15- Who Says You Can’t Go Home
16- I’ll Sleep When I’m Dead
17- Bad Medicine
Bis
18- Wanted Dead or Alive
19- Have a Nice Day
20- Livin’ on a Prayer
Bis
21- Always

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Tamires Sol em setembro 21, 2013 às 13:30
    #1

    Sou muito fã da banda, mas confesso que não gosto de show em grandes festivais. Amei o show, sim, mas com certeza o show de domingo no Morumbi vai ser perfeito e completo com a interação com fãs de verdade.

  2. Igor em setembro 23, 2013 às 11:55
    #2

    Show fraco e sem ideal. Set list bisonho, mesmo se fosse fora de festival eu acharia ruim. Em SP, pelo que eu vi, o set foi basicamente o mesmo, mas trocou “Always” por “Born to be My Baby”. Disse ele que a galera estava mais animada. Talvez estivessem tentando dar uma moral para ele depois das críticas do RIR. Uma pena, porque eu esperava um show melhor que o último da Apoteose, onde o set list também foi meio estranho e menor que o de SP.

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