O Homem Baile

Documentário vivo

Com novo vocalista, Yes repassa as bases do rock progressivo tocando a íntegra de três de seus álbuns mais representativos. Fotos: Luciano Oliveira.

O baixista Chris Squire, único integrante da formação original do Yes, no comando e em grande forma

O baixista Chris Squire, único integrante da formação original do Yes, no comando e em grande forma

Uma noite fadada a recordações e, desde já, armazenada na memória das cerca de 2200 pessoas lotaram o Vivo Rio, na noite deste sábado, no Rio. Era o Yes, um dos baluartes do rock progressivo, com toda a pompa de seus 45 anos de história tocando nada menos que a íntegra de três de seus discos mais representativos: “The Yes Album” (1971), “Close To The Edge” (1972) e “Going For The One” (1977). O show é espécie de documentário ao vivo, só que, em vez de entrevistas e blablablá, é o grupo que mostra as músicas que fazem parte dos alicerces do rock progressivo em todos os tempos. Possivelmente nem na época em que os discos foram lançados todas as músicas foram tocadas ao vivo, o que dá ainda mais tons de “única” para a histórica noite.

Steve Howe se desdobra com muitas guitarras

Steve Howe se desdobra com muitas guitarras

Existem, ao menos, três tipos de fãs de rock progressivo. Há o que adora as improvisações e espera que os músicos se percam – literalmente – no palco, em longos desafios instrumentais; tem o que espera que a banda toque, ao vivo, exatamente como tudo foi gravado no estúdio, como se isso fosse humanamente possível; e também o aprendiz de músico que, de tanto ensaiar, conhece cada música tintim por tintim, de modo a verificar se há erros na execução. Pois o show do Yes nessa turnê certamente agrada a todos, uma vez que o quinteto reproduz as músicas dos álbuns com perfeição, conforme prometera o baixista Chris Squire (veja aqui). Ademais, como reza a cartilha do progressivo, elas já são tentadores desafios instrumentais, com as famosas mudanças de andamento que piram os fãs.

Por isso, Seve Howe – que figura límpida, esguia, pacificadora! – se desdobra em um sem número de guitarras, incluindo lap steel, violões e até um alaúde, mostrando suas referências do flamenco. Em “Clap”, Howe é o único a ter um momento solo, no que é aplaudido de pé; havia as empecilhantes mesas e cadeiras. Mas a participação individual mais impactante visualmente, em que pese a tecladeira em ferradura que chega a deixar de Geoff Downes de costas e a bateria reluzente de Alan White, é sem dúvida a entrada de Chris Squire em “Awaken”, portando um baixo de três braços. Na música que fecha “Going For The One”, uma legítima suíte de 15 minutos, o baixista trafega com tranquilidade pelas 14 cordas do instrumento, usado num show do Yes no Brasil pela primeira vez.

Jon Davison passou no 'teste dos olhos fechados'

Jon Davison passou no 'teste dos olhos fechados'

Recai sobre o “novato” Jon Davison, há cerca de um ano no grupo, e nada menos que o 18º integrante nesses 45 anos, a observação maior por parte da plateia. Com desenvoltura, o cara passa fácil pelo teste de substituto de Jon Anderson, que soma 33 anos à frente da banda. Basta fechar os olhos que os ouvidos identificam a voz do Yes ali, idêntica – e hoje em dia seguramente melhor que – a original, muito embora seja estranho a paisagem do palco sem a figura exótica e riponga do bem de Jon Anderson. Davison ainda toca violão e uma percussãozinha de leve, além de mostrar bom entrosamento, sobretudo com o boss Squire. No exame maior, já no final da noite, o vocalista faz o trecho inicial à capela de “I’ve Seen All Good People” com perfeição, arrematando uma performance digna do grupo e da história do rock progressivo como um todo.

O artifício de tocar a íntegra de um disco – imagine três! – é atraente, mas nem sempre se revela eficaz, uma vez que as músicas foram boladas para um conceito de álbum, ainda mais em se tratando de rock progressivo. No caso do Yes, entretanto, funciona muito bem. O alinhamento do repertório mantendo a ordem das músicas de cada disco, mas sem seguir a cronologia na qual foram lançados é uma ótima sacada. Não há sequencias que retirem do espetáculo a força que o repertório possui, e ainda tem a inclusão do esperto bis, sem sair do palco, com “Roundabout”, clássico intrometido do álbum “Fragile, de 1971, cuja capa era erguida por um fã durante todo o show no meio da plateia.

Squire com o triple bass e Alan White ao fundo

Squire com o triple bass e Alan White ao fundo

Há que se registrar, também, que se trata de uma típica noite para iniciados que foram lá ouvir exatamente o que queriam ouvir, numa constante interação público/banda. Num show em que até o som do Vivo Rio não decepciona, performances para músicas como “Starship Trooper”, com solo triunfal de Howe e pedido de palmas em português de Davison; a sempre colante “Wonderous Stories”, delícia para se escutar de olhos fechados; as intervenções de lap steel guitar de Steve Howe em “Going For The One”; e “Siberian Khatru”, com baixo cavalgante e ao mesmo tempo tocado como guitarra, se destacam como protótipos do progressivo em todas as épocas. Duas horas e meia de puro deleite, bom gosto e – repita-se – emoção.

Set list completo

Abertura: trecho de “Firebird Suite”
Close to the Edge
1- Close to the Edge
I- The Solid Time of Change
II- Total Mass Retain
III- I Get Up, I Get Down
IV- Seasons of Man
2- And You and I
I- Cord of Life
II- Eclipse
III- The Preacher the Teacher
IV- The Apocalypse
3- Siberian Khatru
Going For The One
4- Going for the One
5- Turn of the Century
6- Parallels
7- Wonderous Stories
8- Awaken
The Yes Album
9- Yours Is No Disgrace
10- Clap
11- Starship Trooper
I- Life Seeker
II- Disillusion
III- Würm
12- I’ve Seen All Good People
I- Your Move
II- All Good People
13- A Venture
14- Perpetual Change
Bis
15- Roundabout

A paisagem do palco: Steve Howe, Geoff Downes (de costas), Jon Davison, Chris Squire e Alan White

A paisagem do palco: Steve Howe, Geoff Downes (de costas), Jon Davison, Chris Squire e Alan White

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