No Mundo do Rock

Reencontro

Sepultura embarca para a Califórnia em junho para gravar novo álbum com Ross Robinson, o produtor de “Roots”, maior sucesso comercial do grupo e último com Max Cavalera; grupo grava DVD no Rock In Rio. Fotos: Alex Solca/Divulgação (1 e 3) e Reprodução/Internet (2).

Sepultura: Andreas Kisser (guitarra), Derrick Green (vocal), Paulo Jr. (baixo) e Eloy Casagrande (bateria)

Sepultura: Andreas Kisser (guitarra), Derrick Green (vocal), Paulo Jr. (baixo) e Eloy Casagrande (bateria)

A fase é boa, mas pode melhorar. Depois do grande sucesso internacional do álbum “Kairos”, lançado em 2010 e que recolocou o Sepultura no cenário global do heavy metal, o grupo vai gravar o novo disco com o produtor Ross Robinson, em junho, nos Estados Unidos.

A gravação vai ser a primeira no exterior desde 1998 e marca o reencontro com o produtor responsável pelo sucesso do álbum “Roots”, o último com Max Cavalera nos vocais, lançado em 1996. A banda vai contar ainda com ajuda de Steve Evetts, produtor de outros três álbuns, e a gravação marca também a estreia do baterista Eloy Casagrande, que entrou na banda em 2011, em disco. É pouco?

Pois o Sepultura também está se preparando para gravar um novo DVD, com o show junto com o grupo de percussão francês Tambours du Bronx, no Palco Mundo do Rock In Rio. O show foi considerado um dos melhores do Palco Sunset em 2011 (veja como foi). O grupo ainda vai tocar em outra data do mesmo Rock In Rio, junto com o cantor e compositor Zé Ramalho.

Assuntos que já renderiam uma boa conversa com chefão da banda, o guitarrista Andreas Kisser, caso ele não revelasse que uma das músicas novas se chama “The Vatican” e homenageia o Papa e o Vaticano, e ainda a gravação de dois covers. O novo disco, ainda sem título definido, terá, como faixas bônus, versões para “Da Lama Ao Caos”, de Chico Science e Nação Zumbi, e “Zombie Ritual”, do Death. Olha o resumo da conversa aí embaixo:

Rock em Geral: Como estão os preparativos para a gravação do novo álbum, com o Ross Robinson?

Andreas Kisser: Nós começamos a escrever material novo já no ano passado, alguns riffs e tal, mas começamos a trabalhar mesmo esse ano. O legal é que nós vamos ter essa junção com o Ross Robinson de novo. Com o fim da Roadrunner, um dos caras que saíram foi o Monte Conner, que foi o cara que assinou com o Sepultura e a Roadrunner em 1988, que acreditou na banda. Agora ele é o presidente da nossa gravadora, a Nuclear Blast, nos Estados Unidos. Foi ele que trouxe essa ideia de juntar a gente com o Ross, e eu achei fantástico fazer um disco com o cara de novo depois de tanto tempo. O Ross é um cara emblemático nessa área do nu-metal, fez o “Roots”, fez o Slipknot, Deftones, Limp Bizkit, muita gente… Quase 20 anos depois vamos trabalhar juntos de novo. Estou super feliz e motivado, e além do Ross o engenheiro de som vai ser o Steve Evetts, que trabalhou com a gente em três discos, o “Revolusongs” (EP de 2002), aquele só de covers, o “Nation” (2001) e o “Dante XXI” (2006). É uma dupla que se conhece muito bem, conhece o Sepultura e nós conhecemos os caras.

REG: Eles já trabalharam juntos?

Andreas: Com o The Cure (álbum “The Cure”, de 2004) eles fizeram juntos, e já trabalham juntos há um tempo. Vamos gravar no estúdio do Ross, em Venice, na Califórnia, faz tempo que não gravamos um disco fora do Brasil, desde o “Against” (1998). Vamos ficar umas seis semanas lá gravando, o Steve Evetts provavelmente vai mixar o disco também, tá tudo em casa, é um pessoal que conhece muito da história da banda, é fácil de trocar ideia, conversar sobre coisas novas a fazer.

REG: O que você acha que o Ross pode acrescentar ao som do Sepultura? Faz tempo que ele não tem um trabalho de destaque…

Andreas: A procura nossa e a dele também não é buscar essa coisa antiga, fazer um “Roots” de novo, isso tá fora de moda. O “Roots” foi um dos discos de maior sucesso da história da banda. Mas nós sabemos o jeito que ele trabalha, como ele passa as ideias. Ele é um produtor que - lógico - conhece a coisa técnica, mas o lance dele é muito mais orgânico, aquela coisa da hora de gravar, com o vocal. Ele vai trazer esse know-how e essa coisa de extrapolar os nossos próprios limites, fazer a performance de uma música como a gente nunca fez… Ele é aquele cara que fica pulando do lado do estúdio enquanto você tá gravando, tacando coisa na parede. É uma coisa que estimula realmente, uma técnica que tem muita gente que não concorda, mas conosco funcionou muito bem. Nós já sabemos muito bem o que queremos, e trazendo essas coisas do Ross podemos extrapolar um pouco mais e fazer um disco explosivo.

REG: O Steve então é que é o produtor mais técnico…

Andreas: Exatamente, ele é o cara que faz a produção de pro tools, aquela coisa mais técnica funcionar, enquanto com o Ross vai ser aquela coisa de criação, de arranjo, principalmente na voz, ele sempre tirou o melhor dos vocalistas. A performance do Max (Cavalera, ex-vocalista) no “Roots” é fantástica. Tudo tem a ver da maneira como o Ross faz a coisa acontecer dentro do estúdio. Ele vai realmente tirar isso da gente de uma maneira que só ele conseguiria.

REG: Vocês estão com o material fechado, é só chegar e gravar?

Andreas: Estamos no processo, vamos entrar no estúdio em junho, mas estamos com uns 70% da coisa feita. Já tem 13 músicas bem encaminhadas e estamos trabalhando em arranjo de vocal agora, tô pensando em alguns solos, escrevendo algumas letras. O Derrick (Green, vocalista) também tá trazendo umas ideias. Estamos com a parte instrumental bem adiantada, uns 90%, e agora estamos fechando esses esqueletos, esses esboços de música. Estamos super felizes com o material, o Eloy tá trazendo um energia espetacular para a banda, fazendo coisas incríveis na bateria, mirabolantes, estimulando a fazer umas coisas mais desafiadoras. Acho que ao mesmo tempo em que você aquele Sepultura característico, tem uma coisa mais moderna, mais nova.

Ross Robinson em seu parque de diversões

Ross Robinson em seu parque de diversões

REG: Baterista influencia na hora de compor ou é mais na hora de tocar?

Andreas: Na hora de compor também, cada um traz a sua capacidade, sua maneira de levar o ritmo, de fazer as coisas.

REG: E o Eloy tá bem nesse processo então…

Andreas: Pra caralho! Ele ficou na casa dele fazendo algumas levadas de batera e me mandou e dali surgiram alguns temas, ideias. O Eloy é um cara jovem, mas tem uma bagagem espetacular, uma experiência fodida, já tocou com varias situações diferentes, estúdio e estrada, com músicos de tudo quanto é jeito. É um cara muito focado, muito profissional, um músico espetacular. É foda: de Iggor (Cavalera) para Jean (Dolabella) para Eloy, parece que as coisas só melhoram, é cada vez mais novo e melhor. Então tá um puta som, esse disco vai ser um dos mais fortes da nossa história.

REG: Já tem nome de música para anunciar?

Andreas: Tem alguns nomes, vou falar um, não falei nome nenhum para ninguém ainda… Tem uma música que o nome surgiu de uma coincidência histórica, vamos dizer assim. Nós estávamos ensaiando, naquela semana da escolha do Papa. No dia em que saiu a fumaça branca, tínhamos uma música animal, “evil” pra caralho, puta porrada, e a gente resolveu chamar de “The Vatican”, em homenagem ao novo Papa. Mas não sei se ele vai se sentir homenageado, porque a letra conta a história de como o Vaticano foi criado, os Papas, e é uma história sangrenta, cheia de orgia, assassinatos, corrupção, adultério. É uma coisa de fazer qualquer Satanás orgulhoso (risos). Vamos explorar esse lado, a pedofilia, a corrupção, o Banco do Vaticano, que é um dos bancos mais secretos do mundo, uma coisa cheia de obscuridades. É uma singela homenagem dos brasileiros do Sepultura.

REG: Vai ter convidados nesse disco?

Andreas: Deve ficar só nós quatro mesmo porque vamos estar nos Estados Unidos. Talvez tenha um músico amigo meu que é maestro, arranjador de trilha de cinema, então vamos trabalhar em alguns sons extras, orquestrais, meio de trilha mesmo, com teclado. Vamos gravar dois covers, tô falando também em primeira mão. Vamos fazer uma música do Chico Science e uma do Death. Vai ser “Da Lama ao Caos”, do Chico, e “Zombie Ritual”, do Death. Sempre gravamos umas músicas assim para bônus, e fazer Chico Science vai ser uma homenagem que demorou para fazermos. Nós até tocávamos algumas coisas do Chico Science ao vivo, mas para gravar é agora, com o Derrick cantando em português, vai ser uma versão bem interessante e que vem em boa hora. Nada é muito garantido ainda, mas a intenção é deixar os covers como bônus mesmo.

REG: A turnê do “Kairos” foi a maior turnê do Sepultura, na fase Derrick?

Andreas: Pode ter sido, acho que o “Kairos” realmente veio com força, a Nuclear Blast é uma gravadora que fez um trabalho fantástico e realmente o disco foi muito bem aceito. Para nós foi um sucesso fantástico, pelo trabalho que fizemos, pela consequência de onde tocamos, no Rock In Rio, Wacken duas vezes em dois anos seguidos com shows diferentes. Fomos em tudo quanto é lugar realmente. A turnê da Indonésia foi espetacular, voltamos para lá pela primeira vez desde 1992. E agora vamos em maio de novo para o exterior, não necessariamente na turnê do “Kairos”, mas ainda sem nada novo para mostrar, para depois voltar e entrar em estúdio em junho para gravar esse disco novo. Se tudo der certo lançamos no final de outubro.

REG: O show do Rock In Rio com o Tambours du Bronx, que no ano passado foi tido como um dos melhores do Palco Sunset, esse ano foi promovido para o Palco Mundo. Vai ser o mesmo show ou vão mudar alguma coisa?

Andreas: O show vai ser parecido, a maioria dos temas, que os aranjos já estão feitos. Estamos justamente fazendo o Palco Mundo para fazer o registro desse show em DVD. Vai ser um show de uma hora, só que teremos um palco específico, alguns efeitos especiais para fazer esse DVD. Estamos trabalhando em umas versões novas também, do “Kairos”, mas basicamente deve ser 80% do material que fizemos no Palco Sunset, que foi um show que ultrapassou as expectativas.

REG: No fim das contas é melhor tocar fechando o Palco Sunset ou na abertura do Palco Mundo?

Andreas: O melhor é tocar! Nós já fizemos de tudo. Em 1991, no Rock In Rio, tocamos meia hora ali, abrimos o show com o sol na cara, ralando, e foi um show histórico para a banda. Foi onde realmente abriram as portas brasileiras para o Sepultura. Na Europa já estávamos com um caminho legal, e aqui no Brasil achavam que não era nada de especial, e a partir daquele show do Rock In Rio, de meia hora, foi uma coisa que mudou a ideia do brasileiro com o Sepultura. E já tocamos antes do Iron Maiden no Palco Mundo (em 2001) também. O lance é tocar, aproveitar a oportunidade. Em 2011, quando tocamos no Sunset muita gente falou “pô, mas o sepultura no Sunset…” Mas desde a hora que eles apresentaram o projeto dessa mistura de artistas eu vi que esse palco teria um puta potencial de ser uma coisa única, e é realmente, não tem em nenhum festival do mundo. E o Sunset cresceu, é um palco maior, com dimensões e uma atenção da mídia muito mais delicada, focada no palco. E vamos tocar no dia do Iron Maiden, um show junto com o Zé Ramalho.

REG: Como tá isso, vocês já estão ensaiando?

Andreas: Não, ainda não. Já conversamos sobre algumas ideias, vai ser um show realmente histórico, uma surpresa muito legal para a galera. Estamos pensando em fazer umas versões mais antigas de músicas do próprio Zé e vamos ver o que vai acontecer.

REG: A ideia é misturar o repertório dos dois, ou deixar metade do show para cada repertório?

Andreas: Na verdade ele vai fazer uma participação, estamos pensando em fazer umas três ou quatro musicas com ele e o resto do set fazer só as velharias clássicas, deixar uma coisa mais “old school” mesmo.

REG: Ao mesmo tempo vocês vão lançar o disco novo nessa época…

Andreas: Exatamente, mas não pretendemos tocar nada de novo. O disco vai estar pronto, mas a turnê é só depois, quando o disco sair de verdade.

Álbum é o primeiro que tem a participação do prodígio baterista Eloy Casagrande, na banda desde 2011

Álbum é o primeiro que tem a participação do prodígio baterista Eloy Casagrande, na banda desde 2011

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