O Homem Baile

Entrega

Marillion supera problemas técnicos com bom humor, mudanças no repertório, grande performance vocal e solos de guitarra certeiros. Fotos: Luciano Oliveira.

O vocalista Steve Hogarth é a imagem da mais pura emoção no bom show do Marillion no Rio

O vocalista Steve Hogarth é a imagem da mais pura emoção no bom show do Marillion no Rio

Há males que vem para o bem. E há públicos que conquistam o artista. É o que explica as mudanças de última hora no show do Marillion, ontem, no Vivo Rio. Por causa de uma pane no equipamento do baixista Pete Trewavas, uma música do novo álbum teve que sair do repertório em cima da hora, e os pedidos do público levaram o grupo a incluir hits que, em tese, não fariam parte do repertório, que se anunciava idêntico ao do show de São Paulo, na última quinta (confira aqui). E olha que o tecladista Mark Kelly sofreu um bocado para tocar/consertar seus brinquedos, e chegou a ser “substituído” pelo polivalente Steve Hogarth, o gogó da vez.

O feeling do tranquilo guitarrista Steve Rothery

O feeling do tranquilo guitarrista Steve Rothery

Ressalva-se que existem, ao menos, três Marillions: um com o vocalista Fish, que deixou viúvas inconsoláveis chorando pelos cantos; outro com Steve Hogarth e a banda ainda no mercadão, contratada por uma grande gravadora e com amplo espaço na mídia; e um terceiro da fase independente, quando o grupo foi pioneiro na venda de discos através de cotas antecipadas, o tal crowdfunding (leia matéria completa aqui). Não é difícil imaginar que a frase mais recente, embora reconhecida no Hemisfério Norte, seja praticamente oculta no Brasil, daí o temor por um show de repertório mal engendrado para os padrões brasileiros, o que acabou não acontecendo, à custa do imponderável e das excelentes performances de Hogarth e do xará Steve Rothery.

Poucas vezes lembrado no panteão dos grandes guitarristas do rock, ou mesmo do rock progressivo, Rothery tem no currículo belíssimos solos, como o de “Kayleigh” - de sotaque pop, a canção pode até ser vista como “menor”, mas o solo, jamais – e o de “Easter”, uma das músicas que, aparentemente, só entrou no bis graças aos pedidos do público. Sem Kelly, as voltas com problemas técnicos, coube a Steve Hogarth fazer as partes principais do teclado, no que chegou a comemorar ao final por ter conseguido tocar sem erro, resultando numa das melhores performances da noite. Mas o Marillion está lançando o novo álbum, “Song That Can’t Be Made”, e Steve Rothery desandou a solar justamente na faixa título, no início do show, arrancado aplausos de um púbico que pouco conhece do novo trabalho. É a guitarra cumprindo a missão de conquistar as massas de supetão.

O baixista Pete Trewavas e o tecladista Mark Kelly sofreram com os equipamentos

O baixista Pete Trewavas e o tecladista Mark Kelly sofreram com os equipamentos

Para quem já escalou as treliças do palcão do Hollywood Rock, em 1990, começar o show vestindo uma capa de chuva de cima de uma das caixas de som do Vivo Rio é fichinha para Steve Hogarth. O vocalista inicia o show meio tímido, discreto, e até lamenta a ausência de 15 anos no País. “Nós esperamos muito tempo para voltar, aceitem nosso pedido de desculpas”, disse, em português mesmo, antes de começar “You’re Gone”. A música é uma das quatro do álbum “Marbles”, lançado em 2004, e pouco conhecido por aqui. Antes dela, “Slainte Mhath”, originalmente gravada por Fish, foi a primeira a levantar as cerca de duas mil pessoas que encheram a casa. O momento mais aguardado do show vem mesmo com “Kayleigh”, inesperadamente seguida por “Lavender”, cantada mais pelo público do que por Hogarth, e com Steve Rothery solando lindamente.

E aí que o baixo de Trewavas pifa, uma das músicas do novo álbum, “The Sky Above The Rain” é limada da noite, e – coincidência ou não – começa a brilhar a estrela de Hogarth. O vocalista enfatiza a forma interpretativa de cantar certas músicas, mostra uma entrega impressionante, se emociona e ganha o público com um raro carisma. Em “Neverland”, uma peça quase épica, a interpretação do vocalista beira o dramático, escorada na boa base instrumental do grupo, com Rothery se superando em solos salpicados em mais de dez minutos de música. Para “The Invisible Man”, que marca o retorno para o bis, Hogarth aparece caracterizado de óculos e bengala, e evolui absurdamente junto com a música – outra peça grandiosa do grupo -, causando comoção nos fãs mais dedicados na beirada do palco.

Hogarth e seu estilo interpretativo de cantar

Hogarth e seu estilo interpretativo de cantar

A noite ainda teve espaço “Power”, o single do novo álbum (ouça aqui), que tenta repetir com pouco sucesso a fórmula de “Kayleigh”, e “Beautiful”, outra que deve ter tocado muito quando foi lançada. É curioso que, da fase Fish, duas músicas do apenas razoável álbum “Clutching at Straws” (além de “Slainte Mhath”, o encerramento, com “Sugar Mice”) entraram no set, e nada da fase inicial. “Garden Party”, por exemplo, foi tocada outro dia, na Inglaterra, e seria um presentaço para quem passou por um jejum de 15 anos. Para os incautos, porém, o mais importante do show de ontem é o alerta: o Marillion continua firme e forte, fazendo boas músicas e lançando álbuns regularmente. Ou seja, ainda há muita história para ser contada.

Set list completo
1- Splintering Heart (Holidays in Eden - 1991)
2- Slainte Mhath (Clutching at Straws - 1987)
3- You’re Gone (Marbles - 2004)
4- Sounds That Can’t be Made (Sounds That Can’t be Made - 2012)
5- Beautiful (Afraid of Sunlight - 1995)
6- Power (Sounds That Can’t be Made - 2012)
7- Fantastic Place (Marbles - 2004)
8- Kayleigh (Misplaced Childhood - 1985)
9- Lavender (Misplaced Childhood - 1985)
10- The Great Escape (Brave - 1994)
11- Afraid Of Sunlight (Afraid of Sunlight - 1995)
12- Neverland (Marbles - 2004)
Bis
13- The Invisible Man (Marbles - 2004)
14- Easter (Seasons End - 1989)
15- Sugar Mice (Clutching at Straws - 1987)

Vista geral do palco do 'novo' Marillion: simplicidade e eficiência típicas do mercado independente

Vista geral do palco do 'novo' Marillion: simplicidade e eficiência típicas do mercado independente

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Marcelo Oliveira em outubro 14, 2012 às 16:02
    #1

    O que o público carioca precisa aprender é que existe presente e futuro, e respeitar a banda. Se fazem tanta questão de ouvir a era Fish, peço que contratem a banda Marillion tribute com Roger Troyo, é 100% idêntico, até a voz. Nunca abandonei o Marillion como os cariocas fizeram, e a fase Hogarth é muito mais mágica.

  2. Marcelo Oliveira em outubro 14, 2012 às 16:04
    #2

    Fish não é mais o vocalista do Marillion! Bossa nova não existe mais e Cidade Maravilhosa só nos cartões postais. Vamos atacar a realidade e atrair as bandas para aqui!

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