Entrega
Marillion supera problemas técnicos com bom humor, mudanças no repertório, grande performance vocal e solos de guitarra certeiros. Fotos: Luciano Oliveira.
Poucas vezes lembrado no panteão dos grandes guitarristas do rock, ou mesmo do rock progressivo, Rothery tem no currículo belíssimos solos, como o de “Kayleigh” - de sotaque pop, a canção pode até ser vista como “menor”, mas o solo, jamais – e o de “Easter”, uma das músicas que, aparentemente, só entrou no bis graças aos pedidos do público. Sem Kelly, as voltas com problemas técnicos, coube a Steve Hogarth fazer as partes principais do teclado, no que chegou a comemorar ao final por ter conseguido tocar sem erro, resultando numa das melhores performances da noite. Mas o Marillion está lançando o novo álbum, “Song That Can’t Be Made”, e Steve Rothery desandou a solar justamente na faixa título, no início do show, arrancado aplausos de um púbico que pouco conhece do novo trabalho. É a guitarra cumprindo a missão de conquistar as massas de supetão.
Para quem já escalou as treliças do palcão do Hollywood Rock, em 1990, começar o show vestindo uma capa de chuva de cima de uma das caixas de som do Vivo Rio é fichinha para Steve Hogarth. O vocalista inicia o show meio tímido, discreto, e até lamenta a ausência de 15 anos no País. “Nós esperamos muito tempo para voltar, aceitem nosso pedido de desculpas”, disse, em português mesmo, antes de começar “You’re Gone”. A música é uma das quatro do álbum “Marbles”, lançado em 2004, e pouco conhecido por aqui. Antes dela, “Slainte Mhath”, originalmente gravada por Fish, foi a primeira a levantar as cerca de duas mil pessoas que encheram a casa. O momento mais aguardado do show vem mesmo com “Kayleigh”, inesperadamente seguida por “Lavender”, cantada mais pelo público do que por Hogarth, e com Steve Rothery solando lindamente.E aí que o baixo de Trewavas pifa, uma das músicas do novo álbum, “The Sky Above The Rain” é limada da noite, e – coincidência ou não – começa a brilhar a estrela de Hogarth. O vocalista enfatiza a forma interpretativa de cantar certas músicas, mostra uma entrega impressionante, se emociona e ganha o público com um raro carisma. Em “Neverland”, uma peça quase épica, a interpretação do vocalista beira o dramático, escorada na boa base instrumental do grupo, com Rothery se superando em solos salpicados em mais de dez minutos de música. Para “The Invisible Man”, que marca o retorno para o bis, Hogarth aparece caracterizado de óculos e bengala, e evolui absurdamente junto com a música – outra peça grandiosa do grupo -, causando comoção nos fãs mais dedicados na beirada do palco.
A noite ainda teve espaço “Power”, o single do novo álbum (ouça aqui), que tenta repetir com pouco sucesso a fórmula de “Kayleigh”, e “Beautiful”, outra que deve ter tocado muito quando foi lançada. É curioso que, da fase Fish, duas músicas do apenas razoável álbum “Clutching at Straws” (além de “Slainte Mhath”, o encerramento, com “Sugar Mice”) entraram no set, e nada da fase inicial. “Garden Party”, por exemplo, foi tocada outro dia, na Inglaterra, e seria um presentaço para quem passou por um jejum de 15 anos. Para os incautos, porém, o mais importante do show de ontem é o alerta: o Marillion continua firme e forte, fazendo boas músicas e lançando álbuns regularmente. Ou seja, ainda há muita história para ser contada.Set list completo
1- Splintering Heart (Holidays in Eden - 1991)
2- Slainte Mhath (Clutching at Straws - 1987)
3- You’re Gone (Marbles - 2004)
4- Sounds That Can’t be Made (Sounds That Can’t be Made - 2012)
5- Beautiful (Afraid of Sunlight - 1995)
6- Power (Sounds That Can’t be Made - 2012)
7- Fantastic Place (Marbles - 2004)
8- Kayleigh (Misplaced Childhood - 1985)
9- Lavender (Misplaced Childhood - 1985)
10- The Great Escape (Brave - 1994)
11- Afraid Of Sunlight (Afraid of Sunlight - 1995)
12- Neverland (Marbles - 2004)
Bis
13- The Invisible Man (Marbles - 2004)
14- Easter (Seasons End - 1989)
15- Sugar Mice (Clutching at Straws - 1987)
Tags desse texto: Marillion
O que o público carioca precisa aprender é que existe presente e futuro, e respeitar a banda. Se fazem tanta questão de ouvir a era Fish, peço que contratem a banda Marillion tribute com Roger Troyo, é 100% idêntico, até a voz. Nunca abandonei o Marillion como os cariocas fizeram, e a fase Hogarth é muito mais mágica.
Fish não é mais o vocalista do Marillion! Bossa nova não existe mais e Cidade Maravilhosa só nos cartões postais. Vamos atacar a realidade e atrair as bandas para aqui!