Infalíveis
Rush toca a íntegra de seu maior sucesso e mostra espetáculo de perfeição técnica. Cobertura do show da Apoteose, no Rio, publicada na Billboard número 14, de novembro de 2010. Foto: Luciano Oliveira.
Pena que o público para receber o Rush dessa vez tenha sido menor que o da primeira, em 2002… Porque agora é que o grupo está numa fase realmente boa. Distanciado dos dramas do baterista Neil Peart, vem de um excelente álbum (“Snakes & Arrows”) e tem duas músicas novas com sonoridade “old school” para o novo, que sai no ano que vem. Não por acaso Peart, o baixista Geddy Lee e o guitarrista Alex Lifeson interpretam divertidos personagens em vídeos exibidos antes, no intervalo e depois do show; e Peart ainda ri ao pregar peças em Alex, no encerramento de músicas como “Stick it Out” e “The Camera Eye”, que não era tocada ao vivo há séculos.
O recheio do repertório é a execução da íntegra do álbum mais bem-sucedido, “Moving Pictures”, que tem “Tom Sawyer”, aquela do MacGyver, que até sua avó conhece. É o momento em que um dispositivo de iluminação em formato de aranha se move no teto do palco fornecendo um visual ao mesmo tempo retrô e futurista. Semelhante perfeição técnica é percebida na forma como o trio toca tudo igualzinho à versão do disco, numa potência sonora absurda – “YYZ” e “Vital Signs” são as melhores. O único senão é que Geddy Lee já não alcança as notas mais altas, desafina um bocado e se esforça para concluir o show em um nível satisfatório. Se não for sintoma do cansaço de fim de turnê, logo vai ter que cantar em outro tom.
A primeira parte o set é irregular e serve de escada para clássicos como “Freewill” e a emocionante “Subdivisions”, o ápice até então. Mesmo a pouco inspirada “Marathon” surpreende pela evolução instrumental que faz a gente duvidar se são só três caras fazendo aquele barulhão todo. “Caravan”, carro chefe do novo CD, cresce ao vivo, com o refrão “não consigo parar de pensar grande”, que emblematiza o Rush, cantado a plenos pulmões. Neil Peart quase passa dos dez minutos no tradicional solo, mais percussivo e orgânico, na única vez em que a bateria gira sem que ele pare de tocar, enchendo os olhos do público. Dali pra frente é só alegria. “Closer to The Heart”, a ótima “Far Cry”, tocada pela primeira vez no Brasil, e o bis arrebatador com “La Villa Strangiato”/“Working Man” completam as três horas de um show tido como histórico mesmo antes de começar.
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