Rock é Rock Mesmo

O ano do Rush

Com mais de 40 anos de história, grupo canadense marca 2010/2011 com documentário nos cinemas, turnê comemorativa de disco clássico e lançamento do vigésimo álbum de estúdio

Meus amigos, vejam como são as coisas. Quando a gente pensa que não pode sair nada de algum lugar, aí é que se tira muita coisa de lá mesmo. No mundo do rock, então – e eu não me canso de repetir – quando se chega a conclusão que a vaca foi pro brejo, aí é que tudo melhora, e de forma avassaladora. Essa capacidade de renovação do rock é tão grande e sempre surpreendente que pega a gente de supetão. Mesmo no caso deste velho homem da imprensa. Sim, meus amigos, nem este que vos escrever deixa de ficar boquiaberto, ainda hoje, com o rock.

Digo isso para adiantar – ou, por outra, constatar – que este ano de 2010, já quase na sua metade, é o ano do Rush. Falo com base no calendário gregoriano e já começo a prever que 2011 será, também, de cabo a rabo, do trio canadense. Dirão os fãs mais chegados ao grupo que, na verdade, todo ano é o ano do Rush. Assim como desavisados poderão pensar que estou pregando em todos, como por hábito, uma peça de exercício hiperbólico. No que eu esclareço: nem uma coisa, tampouco outra. O fato é que estamos vivendo esplendor de uma banda com mais de 40 anos de serviços prestados ao mundo da música. E do rock, claro.

Explico. Desde que este Rock em Geral virou gente grande, há pouco mais de um ano, existe aqui, do lado direito, lá em cima, o genial contador de TAGs. Ali aparecem o nome das 45 mais citadas, bandas, em sua maioria. Eis que, ao olhar pra lá, durante muito tempo, não via, entre esses primeiros colocados, justamente o nome de um das mais importantes bandas de rock em todos os tempos: o Rush. Não havia, no entanto, como forçar a barra; senão há notícia, publicar o que? Pois eis que, de uns tempos pra cá, o nomezinho de quatro letras apareceu e vem crescendo bastante, donde se concluiu que os três geniais músicos do Canadá não estão de bobeira.

Eis onde eu queria chegar. Está estreando no circuito de cinemas por esses dias, na Europa e Estados Unidos, o filme “Rush: Beyond The Lighted Stage”, o documentário dirigido pela duplinha Sam Dunn e Scot McFadyen, os mesmos de “Metal”, “Global Metal” e “Flight 666”, sobre a turnê “aérea” do Iron Maiden. O filme, aliás, começou a ser rodado antes do “Flight 666” ser iniciado, mas ganhou um pause porque foi atropelado pelas sintéticas datas da turnê do Maiden. Em sua estréia, “Rush: Beyond The Lighted Stage”, no festival de cinema de Tribeca, em Nova York, já faturou o prêmio da audiência, graças, claro, aos fanáticos fãs do trio canadense.

Não é só. Na próxima terça, dia 1º de junho, o Rush começa a vender um single com duas músicas inéditas – “Caravan” e “BU2B” – que vão fazer parte do novo álbum do grupo – o 20º de inéditas da carreira de 42 anos -, intitulado “Clockwork Angels”. O disco vem sendo engendrado desde o início do ano, sob a batuta do mesmo Nick Raskulinecz, que trabalhou com o trio em “Snakes & Arrows”, lançado em 2007. As músicas serão também distribuídas a quem adquirir o pacote “premium” para a “Time Machine Tour”, anunciada no início de abril, e que já tem 40 datas confirmadas, nos Estados Unidos e Canadá, entre 29 de junho e 2 de outubro. Detalhe: nos shows o grupo irá tocar a íntegra do clássico “Moving Pictures”, lançado em 1980, e que este ano superou a marca de 4 milhões de cópias vendidas. E ainda há boatos dizendo que o Rush passa com essa turnê pelo Brasil, ainda este ano. Quando a turnê terminar, o grupo volta rapidinho para o estúdio, a fim de terminar “Clockwork Angels” no início do ano que vem e partir de novo para outra turnê, que certamente será por todo o Globo. Querem mais? Pois 2010 já viu o trio entrar para o Hall da Fama dos compositores canadenses e ganhar uma estrela na Calçada da Fama de Hollywood.

Escrevo essas linhas com um “quê” de satisfação não só por ver o nomezinho Rush engordar a cada dia ali no meio das outras TAGs, nem pelo indisfarçável apreço pelo trio, mas porque essa atividade toda corrobora justamente aquela tese – uma entre tantas – que eu vinha destrinchando. A de que, quando a gente pensa que o rock está por baixo, aí é que ele renasce com uma força proporcional à sua tradição e ao histórico de subversão do óbvio e do estabelecido. Vejam que no final dos anos 90 o grupo quase acabou. Em 1997 o baterista Neil Peart perdeu a única filha, num acidente de carro, e, em 1998, foi-se a esposa dele, vítima de câncer. O disco anterior a esses acontecimentos terríveis é o excelente “Test For Echo” (1996), e o seguinte é o apenas “possível” “Vapor Trails” (2002), feito para manter o trio vivo. Em 2004 veio “Feedback”, um álbum de covers inimaginável para músicos tão criativos, numa banda que parecia fadada a cair no esquecimento.

Mas veio a virada, que muitos críticos admitem ter começado ainda no final de 2002, quando Peart, Geddy Lee e Alex Lifeson passaram pela primeira vez pelo Brasil – Porto Alegre, São Paulo e Rio de Janeiro. Durante os shows e na feitura do DVD “Rush In Rio”, a alegria voltou aos rapazes, e até Peart se mostrou mais disposto com sua nova realidade e a nova vida – voltou a casar e tem outra filha, nascida no ano passado. O resultado está no disco “Snakes & Arrows”, de 2007, bom de músicas e bom de vendas, que recolocou o trio nos eixos, trazendo de volta um potencial criativo que parecia não mais existir. Tudo acarretando em DVDs gravados ao vivo e nesse ano de 2010 repleto de atividades, que prepara um 2011 ainda mais Rush que nunca. De um grupo que parecia acabado, ressurge o frescor de uma extraordinária banda, com uma das formações mais duradouras no meio. Parece mesmo que o premonitório “2112” chegou em forma do “anagrama numérico” 2010/2011.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

Tags desse texto:

Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Vito Montanaro em maio 28, 2010 às 21:51
    #1

    Texto muito bacana Marcos, parabéns!
    Só em saber que o Rush está em tour e ainda por cima vai tocar o MP inteiro, já dá frio na barriga… falando em Moving Pictures na íntegra, veja resenha que fiz e que está em nosso site.

    Abs,
    Vito Montanaro (drums/percussion)
    http://www.rushproject.com.br

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado