O Homem Baile

Trio parada dura

Em noite de gala, Festival Fora do Eixo recebe três das melhores bandas brasileiras na atualidade e volta a firmar o Circo Voador como grande palco do rock nacional. Macaco Bong, Canastra e Black Drawing Chalks provam que tocar é o segredo para crescer. Fotos: Luciano Oliveira.

Bruno Kayapy (Macaco Bong), Renato Martins e Edu Vilamaior (Canastra) e Victor Rocha (Black Drawing Chalks): na linha de frente do rock nacional

Bruno Kayapy (Macaco Bong), Renato Martins e Edu Vilamaior (Canastra) e Victor Rocha (Black Drawing Chalks): na linha de frente do rock nacional

Terminou ontem, no Circo Voador, a primeira edição carioca do Festival Fora do Eixo, reunindo o maior público dos três dias do evento, que começou na quarta, no Cinamatèque Jam Club e passou na quinta pelo Teatro Odisséia. Se mostrou escalação vacilante nas duas primeiras noites, a produção reservou para o encerramento um elenco de primeiríssima linha, com destaques para verdadeiras exibições de Macaco Bong, Black Drawing Chalks e Canastra. O trio demonstrou estar num outro patamar, se comparado com boa pare das bandas do rock nacional da atualidade, dentro ou fora do mercado independente.

Macaco Bong: instrumental tipo exportação

Macaco Bong: instrumental tipo exportação

A entrada do Macaco Bong no palco por si só é um evento à parte e que chama a atenção de imediato. Súbito, o som fica melhor, a luzes são outras e até o comparecimento do público encorpa, praticamente lotando o espaço sob a lona do Circo. É como se estivessem todos num festival que acabara de receber as bandas nacionais e a atração principal entra atropelando. À exceção de uma única música nova, o grupo repete o repertório que vem tocando já há uns três, quatro anos, mas vê-se que há algo novo e diferente no ar, mostrando que o instrumental ao mesmo tempo simples e rebuscado do trio está em constante mutação/evolução. Curiosamente o guitarrista Bruno Kayapy, legítimo discípulo de Hendrix, realça a porção Satriani que lhe cabe, e rende até o mais ignóbil dos indies boquiabertos. A qualidade do show como um todo só reforça que o trio deve largar de mão desse lengalenga de Fora do Eixo, fazer as malas e partir para os grandes festivais internacionais. O lugar deles é em Montreux, New Orleans e no Crossroads, de Eric Clapton.

Camarones: garotas com guitarras

Camarones: garotas com guitarras

A contemplação se transforma em baile com a entrada do Canastra, seguramente o grande representante carioca da cena, até porque antecede a todos os que estavam ali dividindo com ele o palco do Circo Voador. Poucas bandas conseguiram encontrar um meio termo tão bem sacado entre um repertório próprio - a custa das boas composições de Renato Martins - e covers que parecem ter nascido para o sexteto tocar. Assim como o Macaco Bong, o grupo tem o mesmo repertório já há algum tempo e apresentou só uma música nova, que deve estar no próximo álbum, a ser lançado ainda este ano. Enquanto isso, pérolas como “Miss Simpatia”, “Diabo Apaixonado” e a instrumental possessa “Royal Straight Flush”, em nova versão, vão dado conta do recado com louvor.

Era de se esperar que o badalado Black Drawing Chalks fosse encontrar uma platéia esvaziada e cansada, mas é difícil ficar imune ao impacto que o grupo causa já de início, com as guitarras no talo. Ao vivo, realçam ainda mais as ligações setentistas do quarteto, que sabe como poucos atualizar o chamado “rock pauleira” da época sem soar démodé. É Black Sabbath, Led Zeppelin e Motörhead (o baixista Denis De Castro é do tipo “quero ser Lemmy”, da camisa às botas) em doses cavalares. Àquela altura, o repertório cai com uma chuva de tijolos nos tímpanos e resulta em rodas de pogo e moshs sem os quais um festival desse naipe não poderia mesmo terminar. O grupo também mostrou duas faixas novas, aceitas de imediato por um público que parece conhecê-los de longa data. Vai ver conhece mesmo.

Stereologica: tarefa árdua na abertura

Stereologica: tarefa árdua na abertura

A tradição de começar os shows tarde do Circo Voador acabou por deixar o Camarones Orquestra Guitarrística com audiência apenas razoável. Azar dos atrasildos que não viram um dos melhores combos do crescente subgrupo dos instrumentais do mercado independente. Praiano, o grupo mistura a pegada punk do Ramones com citações discretas a Man Or Astro-Man? e até Spy vs Spy, e só precisa se soltar mais no palco para interagir com uma música cuja natureza é fazer dançar. Antes, o Stereologica encarou a tarefa de avisar ao público que estava do lado de fora que era hora de entrar. A empreitada se complicou porque o duo abusou dos efeitos e programações, de modo que, às vezes, o som parecia música mecânica. Com um baterista e um baixista, ou, ao menos programações mais orgânicas desses instrumentos, as coisas tendem a melhorar. O céu é o limite.

Por um momento, a naftalina tomou conta do Circo Voador. Em clima de fanfarra, duas mocinhas recém chegadas de Woodstock entraram no palco vestidas de Stevie Nicks e Annie Haslam. Era o Mini Box Lunar, que tem recebido unguentos de descolados da crônica musical. O grupo é movido pelo teclado de Otto Ramos, aposta numa sonoridade low-fi (a menos que houvesse problemas de PA) e reúne um bom apanhado de referências à música brasileira tropicalista. Tirante a qualidade do repertório, há ao menos dois problemas a serem resolvidos: o que fazer com uma das vocalistas e como dar o mínimo up grade para não ser confundido com peça de museu ambulante.

Placar Rock em Geral:

Mini Box: haja concentração...

Mini Box: haja concentração...

Les Pops: 6
Brown-Há: 7
Os Outros: 4
Tereza: 5
Brasov: 6
Nevilton: 8
Porcas Borboletas: sem nota
Do Amor: 7
Stereologica: 6
Camarones Orquestra Guitarrística: 7
Mini Box Lunar: 6
Macaco Bong: 9
Canastra: 8,5
Black Drawing Chalks: 9

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Cobertura do primeiro dia
Cobertura do segundo dia

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Comentários enviados

Existem 3 comentários nesse texto.
  1. Monqiue em maio 15, 2010 às 17:49
    #1

    Muito boa essa avaliação! Black Drawing Chalks e Macaco Bong são foda demais! Também gostei muito do Camarones!

  2. Gita em maio 15, 2010 às 20:51
    #2

    Realmente, o 14 de maio de 2010 foi memorável.

  3. Nanda em maio 19, 2010 às 13:45
    #3

    Olá, ví tuas matérias no site da Rádio Monsters Of Metal.
    Eu também tenho matérias publicadas lá.
    ROCK N ROLL BLOG ;) Matérias sobre rock no universo feminino!
    Passa lá no meu blog ok?
    http://rockandroll.zip.net
    Abraço
    Nanda

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