O Homem Baile

Viradão musical

Diversidade entre as atrações marcou a segunda noite do Festival Fora do Eixo, ontem à noite, no Rio; com músicas colantes, paranaense Nevilton se destacou em meio a muitas tentativas. Foto: Rodrigo Asper/Divulgação.

O agitado trio paranaense tocando rock como o rock tem que ser

O agitado trio paranaense tocando rock como o rock tem que ser

Começou pra valer, ontem à noite, no Teatro Odisséia, a edição carioca do Festival Fora do Eixo. Itinerante, o evento, que teve a noite de aquecimento na quarta, no Cinematéque Jam Club, em Botafogo, foi encontrar seu verdadeiro palco na Lapa, e segue hoje para o Circo Voador. Numa noite de grupos com referências diversas, o Nevilton, de Umuarama, no Paraná, acabou se destacando, apesar do latente nervosismo do vocalista/guitarrista que empresta o nome à banda. Embora desconhecido na cidade, o trio conquistou o público com músicas de raro sotaque pop tocadas como se deve tocar rock de verdade: a performance do grupo em cima do palco é empolgante o tempo todo. Com guitarras bem empunhadas, saltos a cada solo e evoluções que representam uma ampla gama de referências, o grupo mostrou pegada em músicas como “A Máscara” e “Paz e Amores”, hits em potencial que poderiam estar em qualquer play list de FM.

Os figuraças do Brasov

Os figuraças do Brasov

No foi o Nevilton, entretanto, que teve o pico de público, numa noite bastante concorrida. No início, a Tereza, a maior banda de baile de que se tem notícia, embalou a platéia com um repertório variadíssimo. O grupo – repita-se – é uma dessas bandas covers com músicas próprias que abusa de standards de vários subgêneros do rock e da música pop. Por incrível que pareça, o golpe sujo encontra eco num público – no mínimo – repleto de amigos. O desengonçado vocalista tem mostrado certo domínio de palco, e até já aprendeu a descer no meio da platéia como fazem os caras do Móveis Coloniais de Acaju. Ou seja, nem tudo está perdido. Só falta um dos guitarristas abandonar o Black Crowes Cover e tá tudo certo.

No rescaldo da Tereza, o Brasov aproveitou muito bem a casa cheia para vender seu peixe. Com destaque no naipe de metais, o septeto manda paródias de hits da música pop com arranjo à Leste Europeu, resultando numa apresentação, no mínimo, curiosa. Com todos vestindo casacos laranja e camisetas verdes, é um tal de Pepeu Gomes daqui, Britney Spears de lá e assim segue o jogo. O problema é acaba soando como espécie de Zorra Total das bandas independentes, repetindo piadas que nem sempre têm graça. Quando acertam, como na mímica em que todos fingem tocar, têm os melhores momentos. Nos piores colocam a óbvia “O Show Já Terminou”, do Rei Roberto Carlos, para – adivinhe – terminar o show.

Do Amor: desperdiçando talentos

Do Amor: desperdiçando talentos

Prejudicado pelo avançar do horário, a custa de atrasos na programação, o Do Amor não se fez de rogado e só deixou o palco depois das luzes acessas, na vazia alta madrugada de sexta. Está para nascer um desperdício tão grande no mundo da música independente nacional como o proporcionado pelo quarteto. São todos bons músicos, mas, em vez de optarem pela boa música, se deixam levar por gêneros de gosto questionável como axé e carimbó, só para citar dois. É impossível depositar confiança nessa espécie de Botafogo das bandas independentes. Por exemplo, depois de uma música com ótimas guitarras e um sotaque pop dos bons, surge impunemente uma versão de “Lindo Lago do Amor” (Gonzaguinha), com o baixista Ricardo Dias Gomes gritando como uma garça rouca. Um vocalista no grupo, aliás – repita-se – cairia muito bem, muito embora os guitarristas Gustavo Benjão e Gabriel Bubu tenham melhorado bastante. O melhor do show acontece por conta dos momentos de esporro proporcionados justamente por esta duplinha e seus pedais incrementados.

Porcas Borboletas: mundo bizarro

Porcas Borboletas: mundo bizarro

Nada se compara, entretanto, ao Porcas Borboletas. O grupo é um equívoco já em sua paisagem, vista do palco. No centro, um sujeito atirado no chão. À direta, outro, trajando um uniforme da Portuguesa versão 82, se equilibra de ponta cabeça, e tem ao lado um fazedor de “barulhos” com uma mesa repleta de bugigangas inúteis. Atrás, um percussionista estraçalha uma lata de óleo primor vazia toda arrebentada e é apresentado como “o último preto velho”. A música acaba soando como veículo involuntário de uma temática super valorizada pelos próprios integrantes da turba, verdadeiros personagens de um circo bizarro sem pé nem cabeça. É de se admirar que uma bobagem dessas (não dá nem pra chamar de banda) já exista há – segundo consta – uns dez anos. Ou alguém mais vê “arte” em letras que rimam “cannabis” com “forévis”? Até o Mussum se remexeu no túmulo…

O Festival Fora do Eixo-RJ segue hoje, no Circo Voador, com as bandas Stereologica, Camarones Orquestra Guitarrística, Mini Box Lunar, Macaco Bong, Black Drawing Chalks e Canastra. Mais detalhes aqui.

Para ler a cobertura do primeiro dia do festival, clique aqui.

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Carlito Rocha em maio 27, 2010 às 18:36
    #1

    Se o Do Amor é o Botafogo das bandas, estamos bem! Somos os atuais campeões cariocas!

  2. monica moraes em agosto 5, 2010 às 19:10
    #2

    Caro Bragatto,
    Pela descrição de amigos comuns, ficamos sentados “in front of” na noite da apresentação dos Móveis Coloniais no Circo. Estávamos em mesas próximas ao bar.
    Lembro-me bem de você. Difícil esquecê-lo. De cara, chamou-me a atenção seu ar pretensioso… pinta de intelectual anos 70 fumando charuto. Como se não bastasse a lua redonda, o céu pontilhado de estrelas, as palmeiras centenárias e o incrível cenário do arcos da Lapa. Uau… que tédio, você demonstrava. Uma estranheza com todos os atores locais. Insisto: você destoava. Aqueles nunca foram, nem serão sua tribo. Falta-lhe humildade.
    Tenho 50 anos, sou jornalista e bebi na fonte de várias bandas. Premiata Forneria Marcone, Ten Years After, Led Zepellin, The Doors, The Clash, The Who, Janis Joplin, Lynyrd Skynyrd, Black Sabbath e tantos outros.
    Enfim, continuo gostando de boa música. Não faço disto minha profissão.
    Meus sinceros pêsames por suas críticas ácidas.
    Afinal, quem é você!?!

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