O Homem Baile

Aquecimento frio

Em noite pouco concorrida, Festival Fora do Eixo estréia no Rio com atrações que não empolgam; guitarras do Brown-há (foto) salvam a noite do pretensioso Os Outros e da farra do Les Pops. Foto: Rodrigo Asper/ Divulgação.

O vocalista do Brown-há se multiplica no palco

O vocalista do Brown-há se multiplica no palco

Começou ontem, no Cinematheque Jam Club, no Rio, a edição carioca do Festival Fora do Eixo. A noite, que na verdade serviria como show de aquecimento, considerando a precariedade do local, não engrenou. Programadas para uma data insólita, numa quarta à noite, tendo como concorrência, no mínimo, um Maracanã lotado, até que as bandas se viraram bem, lidando com uma anunciada escassez de público. Quem se saiu melhor foi o Brown-há, de Brasília, que, apesar do nome difícil, conseguiu usar as guitarras a serviço do rock e da boa música para conquistar público além de amigos e afins. Les Pops e Os Outros coadjuvaram a noite com, respectivamente, muita animação e esforço.

A produção do festival não foi nada hospitaleira com o Brown-há, ao trazer o quinteto de Brasília para tocar num lugar onde nem palco há. O grupo, de seu lado, não se importou e aproveitou a qualidade do som, surpreendentemente boa, para disseminar o rock pesado, bem tocado (embora sujão) e que faz jus às tradições de Brasília. O quinteto reúne referências de várias épocas do rock, facilmente identificáveis ao longo da apresentação. Parece rock pós 00, mas não é. Flerta com o funk rock dos anos 90, mas não namora. Remete ao rock nacional dos anos 80 sem medo de ser feliz. Traz agregado o pré punk de MC-5, como se fosse da vizinha Goiânia, mas não é só isso. É moderno, atual, sem ser moderninho, sobretudo porque são as guitarras que apontam o caminho. A boa presença de palco do vocalista João Paulo Campos contribui muito bem para uma banda que, como eles dizem em “Os Lu’s” (é, os caras não são bons de nomes), quer viver de rock’n’roll. Sem dúvida o melhor show da noite.

Como banda principal, os rapazes d’Os Outros até que se esforçaram bastante, mas foi difícil superar os candangos. O grupo aproveitou para mostrar as músicas do segundo disco, “Pacote Felicidade”, a ser lançado em agosto, e teve a participação de um tecladista/sexto elemento em boa parte do show. O problema é que a mistura de rock com mpb, realçada por letras de conteúdo rebuscado (e mesmo forçado) ainda não encontrou medida certa. A falta de jeito para o ofício do vocalista Botika (afetadíssimo, diga-se) também não ajuda muito. Os gatos pingados que venceram o atraso para o início dos trabalhos resistiram bravamente até a uma versão para “As Curvas da Estrada de Santos”, do Rei, dedicada – cada uma! – a Ganso e Neymar.

Encarregado de fazer a abertura, o Les Pops (“fala-se lê pops”, alertou um dos integrantes) não é exatamente uma banda, mas um apanhado de músicos reunidos para entreter o público. Tanto que não há baixista (e faz falta), não definiu vocalista (três cantam), usam instrumentos insólitos que realçam mais pela estética e menos pelo efeito musical, e o repertório é mesclado de versões de clássicos da música internacional, do mundo indie, e de obscuridades da mpb de raiz. Mas funciona muito bem, a ponto de agitar a platéia, afinal, quem não curte um cover de um clássico de Michael Jackson? As mais legais da noite foram o funkão “E La Nave Va”, confundido com samba, e a autobiográfica “Quero Ser Cool”. Interessante, mas com ajustes a fazer.

O Festival Fora do Eixo-RJ continua hoje, no Teatro Odisséia, e amanhã, no Circo Voador. Mais detalhes aqui.

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