O Homem Baile

‘Rivotril ou Johnny Cash?’

Matanza fecha o festival A Grande Roubada em grande estilo; público rock mais uma vez mostrou força, em noite que teve ainda grandes shows de Zumbis do Espaço e Gangrena Gasosa. Fotos: Luciano Oliveira.

China e Maurício coreografam o metal e Jimmy bate cabeça: quem pode com o Matanza?

China e Maurício coreografam o metal e Jimmy bate cabeça: quem pode com o Matanza?

Na noite principal do festival, a Grande Roubada levou excelente público ao Circo Voador, ontem, no Rio. Embora tenha sido o Matanza o grande apelo de público, Zumbis do Espaço e Gangrena Gasosa também aprontaram boas e concorridas apresentações. Depois do Grito Rock e do Festival Fora do Eixo, o Rio fecha o primeiro semestre em grande estilo, mostrando grande fortalecimento no cenário local com a inevitável companhia do Circo Voador. Que assim seja.

O capeta veio e tocou guitarra no Gangrena Gasosa

O capeta veio e tocou guitarra no Gangrena Gasosa

Com a lona do Circo abarrotada, o Matanza mostrou que não estava de brincadeira. O quarteto, afiadíssimo, tocou durante quase meia hora seguida - uma porrada a atrás da outra – até que Jimmy (o bom e velho “Dimenor”) parasse para respirar e dar um singelo “boa noite”. A platéia, de seu lado, tampouco parou de agitar por um só minuto, em sucessivas rodas que simplesmente não paravam. Ao contrário, se intensificavam a cada nova música reconhecida, num lugar onde todos sabiam as letras, riffs e acordes de cor e salteado. O relativo descanso só vem com “Tempo Ruim”, que aponta para o impasse vivido pelo grupo. Sem o guitarrista Donida, autor de todas as músicas e letras – que não sabe se vai ou se fica - o grupo está estagnado no último disco de inéditas, o ótimo “A Arte do Insulto”, lançado em 2006, e vem se repetindo em apresentações memoráveis, mas que – sabemos todos – têm validade a vencer.

Zumbis do Espaço indo pra galera

Zumbis do Espaço indo pra galera

A esperança está, então, nas duas músicas novas apresentadas: “Odiosa Natureza Humana” e “Remédios Demais”. Ambas são muito boas, mas parecem sobras de outras épocas, ao menos numa primeira audição. Considerações que, no entanto, não passam pela cabeça de que se divertia a valer nas rodas de pogo, com os clássicos do grupo e as tiradas de Jimmy. “Ou tomo Rivotril ou ouço Johnny Cash”, antes de anunciar um cover do Mestre é uma delas. Numa outra, agradece às bandas e convida o público a zoar com Mozine, o baixista d’Os Pedrero, que entraria em seguida. Muitas vezes mal interpretada, a ode à grosseria defendia pela banda realça ainda mais nos riffs metálicos de “Pandemonium”, em “Ressaca Sem Fim”, com a companhia do vocalista do Enterro, Nihil, e em tantas outras. Ou seja: mais uma noite clássica, que terminou com a apropriada citação a “Estamos Todos Bêbados”, em meio a um medley hardcore dos bons, pra acabar com a raça dos fãs de vez. Tomara que a coisa não pare por aí.

Os Pedrero: deboche puro

Os Pedrero: deboche puro

Curiosamente coube a Gangrena Gasosa – talvez o grupo mais antigo do festival – fazer a abertura da noite, o que apressou os incautos que aproveitavam a bebida barata do lado de fora. Desde que voltou a se apresentar com essa formação, o grupo retomou o capricho na indumentária indispensável para o saravá metal criado por eles, o que marca muito bem o show. E dá-lhe terno branco, chifrinho, Pomba Gira e o capeta em carne, osso e fantasia. Ontem, havia ainda a estréia do vocalista Cristiano, no papel de Omulú, substituindo Chorão, único remanescente da formação original, que também não sabe se vai ou se fica. Coadjuvado pelo ótimo Ângelo Arede (no papel de Zé Pelintra), não comprometeu. Demorou dez minutos para que o sujeito aumentasse o som da mesa e o show deslanchasse. Pérolas como “Se Deus é 10 Satanás é 666”, “Terreiro do Desmanche” e a impagável versão “Benzer Até Morrer”, de “Beber Até Morrer”, do Ratos de Porão, a grande referência do grupo, foram os destaques. Só falta agora os herdeiros de Satã voltarem a hits das antigas como “Pegue Santo or Die” e “Welcome to Terreiro”.

Jimmy vibra com o público

Jimmy vibra com o público

De todas as bandas escaladas ontem, só o Zumbis do Espaço estava mostrando um novo trabalho, o álbum “Destructus Maximus”, com o novo guitarrista, Machado, que parece ter dado um tom mais metal ao som sinistro do grupo. Ademais, o líder Andrezão está com um visual totalmente modificado. Mais esbelto, de barba, chapéu enterrado na cabeça e com uma indumentária também mais identificada com o metal, estava quase irreconhecível. Ao menos até soltar a voz para detonar a platéia com clássicos do naipe de “Satã Chegou”, a ótima “A Marca dos Três Noves Invertidos”, “Casa dos Horrores” e muitas outras. Entre as novas, destaque absoluto para “Sua Última Oração”, colante com um poderoso riff, um solo sob medida e fácil, fácil de ser cantada por todos – o que, claro, aconteceu. Outra legal é “O Chamado da Estrada”, com sotaque “irish”, que já começa com um cantarolar que ganhou grandes proporções sob a lona do Circo. Ante ao público todo do Matanza, o Zumbis não de intimidou e mostrou força.

Assim como aconteceu anteontem com os Muertos Vivientes, Os Pedrero também sofreram com a alta madrugada, muito embora um considerável público ainda tenha resistido ao cansaço. Meio no improviso e com tiradas impagáveis, o grupo detonou “hits” como “Jenny Paula” - que abriu noite -, “Heavy Metal Night” – que fechou – e a impagável “Cavera Y Macaco”. Se fosse levado só um pouquinho mais a sério pelos próprios integrantes, o quarteto bem que poderia ser mais conhecido. Mas será que é isso que eles querem? Vai saber…

Sweetie Bird passa longe de ser uma grande roubada...

Sweetie Bird passa longe de ser uma grande roubada...

Placar Rock em Geral:

Plastic Fire: 6
Cara de Porco: Sem nota
Cabrones Sarnentos: 7
Mukeka di Rato: 8
Los Muertos Viventes: 6
Gangrena Gasosa: 8
Zumbis do Espaço: 9
Matanza: 9
Os Pedrero: 7
Sweetie Bird: Dez, nota dez!

Para ver como foi a noite de sexta, clique aqui

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. João P. em junho 27, 2010 às 22:50
    #1

    Do seu placar final só concordei com o 10 da Sweetie Bird…
    Em minha humilde opinião, o 9 do Matanza era pro Mukeka; Os Pedrero merecia no minimo 8; quem devia ter ficado com o 6 do Plastic Fire era o Cara de Porco… Sem ofenças a banda Plastic Fire, mas a banda é realmente Dead Fish piorado, tenho que concordar com o autor nessa…

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