O Rock Como Ele é

Vocação

Pensava nisso sempre que ouvia a velha canção do Lynyrd Skynyrd, grupo que propalou mundo afora um jeito brejeiro de ser americano, bem diferente do way of life da arrogante maior nação do mundo na era capitalista.

Acreditava na sina de ter nascido isto ou aquilo. Aprendera, ouvindo rádios que só tocavam música pesada, que, lá no mundo daqueles ícones do rock, qualquer um poderia ter nascido para correr, para ser selvagem, mau ou simplesmente para ficar vivo. Cada dia mais percebia, ao ler e reler livros de autores antigos, que palavras como vocação, intuição, sina e destino começavam a fazer novo sentido para ele. Por fim, concluiu que não poderia fugir de seu próprio fado. Havia nascido pra ser um homem simples.

Tinha em mente que um homem simples deveria ser aconselhado pela própria mãe, desde cedo, ou mesmo no rito de passagem da adolescência, a não viver tão rápido, seguir o coração e estar satisfeito. Pensava nisso sempre que ouvia a velha canção do Lynyrd Skynyrd, grupo que propalou mundo afora um jeito brejeiro de ser americano, bem diferente do way of life da arrogante maior nação do mundo na era capitalista. Lembrado por acidentes que tiraram a vida de vários integrantes em quarenta e tantos anos, a banda sempre sobrevivia. Era a sina daqueles sulistas. Como a sua, pensava.

O curioso é que pensava em tudo isso na mesma velocidade em que descobria o apreço pelas redes sociais que já há algum tempo tinham virado a coqueluche da internet. Naquele exato momento, vagava pelo facebook em busca de temas em comum com outras pessoas, de modo a poder fazer comentários nos status alheios. Por vezes, se sentia um verdadeiro abelhudo ao se meter em assuntos que não eram os seus, mas se sentia imbuído a fazê-los mesmo assim. O que mais gostava, no entanto, era escrever, ao atualizar o próprio status, em terceira pessoa. Se sentia, nessas horas, um ícone mundial como Pelé ou um figuraça como Dadá Maravilha.

Sempre imaginava como seria o mundo se o advento das supervias de comunicação, sobre o qual aprendera na faculdade, tivesse ocorrido há muitos anos, mesmo antes de ele e de os sulistas do Lynyrd Skynyrd terem nascido. Imaginava como seria o homem simples, aconselhado no berço familiar, tendo a modernidade cibernética como elemento comum. Fazia essa conexão, na verdade, porque queria se ver o homem simples que sua vocação natural apontava, mas em contato com o desvario virtual. Era só ser alguma coisa que ele amasse e entendesse, pensava. Precisava fazer isso até pelo exemplo paterno, que partira deixando como herança um protótipo do bom homem simples.

Não era preciso se preocupar, as dificuldades sempre vêm e vão. Sabia isso por instinto, em princípio, e depois até por experiência. Num espectro maior, tudo era mais ou menos assim, por mais que esta afirmação representasse um dos clichês que ele não gostava de usar. Até o orkut, o msn, o facebook e o twitter seriam passageiros, assim como ele próprio. Tudo passa, tudo passará, dizia o cancioneiro popular na voz de Renato Russo. Só permaneceria a vocação, a intuição, a sina e o destino de ser, para sempre, um homem simples.

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