O Homem Baile

Mesmo limitado, indie ‘fofo’ do Magic Numbers levanta público em festival do gênero

Alegria e simpatia do grupo inglês realça mais que a qualidade das músicas. Lucas Santana e Hurtmold abriram a noite e não decepcionaram a platéia no primeiro dia do Festival Indie Rock.

O desatento que adentrasse o Circo Voador na madrugada desta quinta-feira não saberia identificar, de início, a paisagem que se prostrava sobre o palco. Era o Festival Indie Rock, carimbado já no nome, mas os três baixinhos e gordinhos de cabelos longos que tocavam e cantavam alegremente mais pareciam uma banda retrô-setentista ou mesmo cover de Black Sabbath de última hora. Prestando apurada atenção, o incauto ficaria ainda mais confuso com a versão para uma música da esculpida Beyoncé, quase no final do show, ou ainda na sutil citação à “Nightrain”, do Guns N’Roses, feita por uma gordinha turbinada por uma tardia dose de uísque servida ao lado do palco.

Uma audição mais atenta seguida de uma olhada nos cartazes, entretanto, tiraria todas as dúvidas. Era uma banda indie, sim, a mais fofa das bandas indies desde os Flaming Lips, com a indefectível linha de frente com uns quilinhos (e muita simpatia do vocalista/guitarrista Romeo Stodart) a mais. “Estamos muito felizes por estarmos aqui”, disse ele, num canhestro português lido no papel afixado no chão. E era verdade. Depois de dois dias na cidade visitando o Cristo Redentor, Copacabana e afins, e “dançando na noite”, o quarteto londrino era uma alegria que Romeo não escondia – ao contrário, fazia questão de demonstrar, mesmo tendo que aturar pedidos de músicas (que obviamente seriam tocadas) por fãs pentelhos no gargarejo.

Há que se registrar o bom público que compareceu ao Circo Voador, que se não estava lotado, guardava uma quantia bastante interessante se considerarmos a pequenez dos artistas escalados, a fria noite de quarta-feira, e o sempre encarecido valor cobrado pelos ingressos. Isso sem falar numa quantidade de profissionais da grande imprensa jamais vista num evento do tipo. O público estava na mão do Magic Numbers a cada uma das dezoito músicas apresentadas durante cerca de 1h40, até mesmo em “Fair Asleep”, citada como “novíssima” pela banda. Ou mesmo “Crazy In Love”, a tal da Beyoncé, que fez as garotinhas indies (imaginem!) balançarem as ancas com certa animação.

Via CD ou web, todo mundo ali já conhecia as músicas dos dois discos da banda, até mesmo coisas obscuras que Romeo disse só estarem disponíveis no myspace.com. Mas o esbalde se deu mesmo em “Undecided”, o novo single, cantado pela tecladista Angela Gannon, a tal gordinha, que arrancou aplausos não só por causa da voz, mas pela timidez indie de não retirar sequer as mãos dos bolsos durante a cantoria. Outras que levantaram o público, em meio a muitos “uh-uh-uhs” e “lá-lá-lás” foram “Which Way to Happy”; “I See You, You See Me”, com a baixista Michele Stodart de costas o tempo todo, e numa outra participação decisiva de Ângela; e “The Mule”. No fim das contas, a sensação que fica é de alegria geral com os três fofinhos indies (o sisudo batera Sean, irmão de Angela, não conta), muito embora até isso, se músicas boas são escassas, não basta e pode enfastiar até mesmo os desatentos.

Antes, na abertura, Lucas Santana quase transformou o Circo num bailão dançante. Quase, porque poucos estavam sob a lona para ver a bandaça dele (com dez integrantes) tocar standards do reggae, samba, salsa, e até flertar ecumenicamente como guitarrista Carlos Santana. Referência comum ao Hurtmold, que entrou em seguida, com um público bem mais generoso, para fazer o único show instrumental indie de que se tem notícia. Isso para usar uma linguagem contemporânea, já que os paulistanos estão muito mais para o rock progressivo e jazz do que para o indie rock. Classificações à parte, o grupo foi muito bem recebido e arrancou aplausos.

O Magic Numbers toca hoje em São Paulo, no Via Funchal, dentro do Festival Indie Rock, ao lado de Moptop e Hurtmold. No Rio, o festival continua hoje, no Circo Voador, com Nação Zumbi (que substitui o Mombojó), Móveis Coloniais de Acaju e The Rakes.

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