O Homem Baile

No Indie Rock Festival, The Rakes não consegue se livrar do passado

Segunda noite da versão carioca do festival teve menor público que a primeira; Nação Zumbi e Móveis Coloniais de Acaju, com habitual performance arrebatadora, também participaram

Difícil dizer o que havia de indie na segunda noite do festival que leva este nome, mas os olhos estavam voltados para o inglês The Rakes, solitária atração internacional e pouco conhecida por aqui, dado o reduzido público que compareceu ontem ai Circo Voador, no Rio. A entrada da banda no palco, em menos de um segundo sanou todas as dúvidas: trata-se de um daqueles grupos que fincam tanto o pé nos anos 80, que mal conseguem sair de lá. Ou alguém hesita em afirmar que a dança robótica do vocalista Alan Donohoe é cópia fiel (e mal executada) de Ian Curtis?

Fosse só pelo bailado e não teríamos nenhum problema – se até o quase contemporâneo Renato Russo bebeu na mesma fonte, por que não o conterrâneo Alan? Acontece que algumas músicas apresentadas pelo quarteto são também – e de novo – em composição e sonoridade, xerox perfeita do Joy Division. Foram assim “Terror” e “Repeat”, que logo na abertura evidenciaram o desejo pela reprodução, e ainda “Binary Love” e “Man With a Job”, só para citar algumas. Afora isso, a indumentária dos rapazes, incluindo roupas à anos 20 e até os cortes de cabelo (inacreditáveis as franjas do guitarrista Matthew Swinnerton e o suéter engravatado do baixista Jamie Hornsmith) vinham lá da Manchester do início dos anos 80. Dá para acreditar?

A discreta simpatia dos meninos não se comparou à alegria indie que o Magic Numbers esbanjou anteontem, mas o Rakes se comunicou – e muito bem – com o público, mesmo que mais da metade dele estivesse tendo contato com a banda pela primeira vez. Em algumas músicas, honra seja feita, o grupo se superou, como na curiosa “When Tom Cruise Cries”, mais cadenciada e diferente em relação às demais, e no hit “22 Grand Job”, um dos mais esperados e que agitou o público, assim como “Violent” e “Strasbourg”, uma das melhores do repertório, e que fechou o show.

Na volta um empolgado Alan Donohoe chegou a elogiar o “Brasil do Pan”, para mandar um bis com quatro músicas dividido em duas partes. Em “Open Book”, Jamie puxou uma garota para o palco e deu a senha para que todos subissem e pulassem com a banda. Na última música, “The World Was a Mess But His Hair Was Perfect”, foi a vez de Donohoe se esborrachar sobre a platéia, num mosh fulminante e definitivo. Pensando bem, até que foi legal.

Se alguém poderia ter roubado a cena, essa banda seria o super-habitado Móveis Coloniais de Acaju. O grupo candango fez a habitual performance com muita movimentação dos dez integrantes sobre o palco, e ainda com a roda-de-ciranda-hardcore no meio do público que lhe dá fama no final do show. Rolaram uma ou duas músicas novas, mas isso foi mero detalhe ante ao espetáculo como um todo, que teve grande participação dos fãs já fiéis que o grupo tem no Rio. Já a Nação Zumbi tratou de fazer um feijão com arroz, como banda de abertura – o que, aliás, é uma grande injustiça para quem mudou a cara mpb na década passada. Sem apresentar as músicas novas que a banda está a gravar para o próximo disco, se valeu dos sucessos de sempre.

O Festival Indie Rock continua hoje em São Paulo, na Via Funchal, com shows de Nação Zumbi, Móveis Coloniais de Acaju e The Rakes.

Tags desse texto: , , ,

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado