No Mundo do Rock

Dezperadoz vai até o velho oeste para renovar metal europeu

Segundo disco do grupo alemão é temático e acerta em cheio na mistura de power metal com temas típicos de faroeste. Fotos: Divulgação site oficial.

Dennis Ward, Alex Kraft, Alex Weigand e Sascha Tilger: a formação que gravou o excelente 'The Legend And The Truth'

Dennis Ward, Alex Kraft, Alex Weigand e Sascha Tilger: a formação que gravou o excelente 'The Legend And The Truth'

Um dos maiores clichês dentro da música pop é dizer que nada se cria tudo se copia, mas a frase não chega a ser falsa. No caso do heavy metal, sempre estigmatizado por possuir bandas que imitam umas às outras - apesar de novos subgêneros comprovarem o contrário dia após dia -, a coisa pode piorar ainda mais. Mas nem sempre é assim (literalmente) que a banda toca, e o inusitado pode levar a misturas das mais interessantes, como o caso do Dezperadoz, que promove o encontro do metal alemão (power metal, para os entendidos) com música típica do velho oeste americano.

A banda existe desde 1999, e na verdade era um projeto de Alex Kraft junto com Tom Angelripper, o chefão do Sodom, e outros convidados. Juntos eles bolaram “The Dawn Of Dying”, disco pouco conhecido até hoje. A coisa só chegou aos olhos (e ouvidos) da mídia com o segundo trabalho, “The Legend And The Truth”, lançado no ano passado, inclusive no Brasil. Já como uma banda (completada por Denis Ward, ele mesmo, o afamado produtor, nas guitarras, Alex Weigand, no baixo, e o batera Sascha Tilger), o Dezperadoz apresenta uma pérola musical, nunca antes percebida, muito embora as referências óbvias (ao metal e ao velho oeste) sejam quase de domínio público, ao menos no meio metálico. E isso sem falar no fato de o disco ser temático (fala sobre um certo Wyatt Berry, figura mítica da história americana), trazer pitadas de The Doors e Deep Purple, e ainda contar com a participação de certos bam bam bans do metal europeu.

Conversamos, então, com Alex Kraft em pessoa, ou melhor, trocamos uns e-mails com ele, que tentou explicar toda essa história, com um certo bom humor ou mesmo tons dramáticos, quando diz que a história contada em “The Legend And The Truth” é a dele próprio. De quebra, embora não conheça o Matanza, que também foi ao velho oeste buscar renovação na música pesada, Alex já imaginou um show junto com Jimmy e cia. Não dava pra não perguntar essa, né? Confira:

Rock em Geral: Como vocês decidiram formar uma banda misturando metal europeu com a cultura de velho oeste americano?

Alex Kraft: Foi durante o período em que passei no Musicians Institute, em Los Angeles. Eu estava numa viagem de carro, entre Los Angeles e Las Vegas, precisei mijar no meio do nada, numa velha mina de ouro, e pensei como seria aquele lugar há cem anos. Eu vi a poeira durante a noite, transformei isso numa idéia, e gravei o primeiro projeto do Dezperadoz com o Tom Angelripper.

REG: Como são os shows do Dezperadoz, supondo que vocês tocam para pessoas que curtem a cultura do velho oeste? Ou a maioria é de fãs de heavy metal mesmo?

Alex: É espetáculo, entretenimento. Tocamos duas vezes no Wacken (Open Air, o maior festival de metal do mundo) para 40 mil headbangers, e eles adoraram o Desperadoz. A mesma coisa aconteceu nos shows com o Gotthard, Axxis ou Krokus. Não importa, porque isso é algo novo, não é o mesmo “dragonknightthing“. Depois do nosso terceiro show, muitos headbangers começaram a aparecer na frente do palco com roupas de caubói. O que quer dizer que funcionou.

Esse disco é um musical, uma espécie de filme de musica, uma história real, uma novela de rádio...

Esse disco é um musical, uma espécie de filme de musica, uma história real, uma novela de rádio...

REG: O que você fazia antes de começar essa história com o Desperadoz?

Alex: Trabalhava sozinho e também com o Tom Angelripper. Compus músicas com ele, para os discos dele, e então montei a banda. Toquei numa banda chamada Jail, muito trabalho de estúdio, trilhas sonoras para o cinema e toquei na famosa banda cover de AC/DC chamada Dirty Deeds.

REG: O que o nome Desperadoz significa, como você escoheu esse nome para a banda?

Alex: Um “Dezperado“ é originalmente um cara que está no corredor da morte à espera da forca.

REG: Você considera o Dezperadoz um projeto pessoal, ou podemos considerar que é uma banda com carreira própria?

Alex: Espero que seja uma banda. Mas é uma idéia minha, são minhas músicas e eu espero que seja a minha banda com essa pegada animal.

REG: O segundo disco, “The Legend And The Truth“ é todo sobre Wyatt Berry. Fale mais sobre este personagem e de como você entrou em contato com essa história:

Alex: Antes de qualquer coisa, eu fiquei sem a minha esposa depois de “The Dawn Of Dying”, o primeiro disco do Dezperadoz, e queria abandonar tudo. Meu amigo Michael Kleanthous e o Sr. Angelripper agiram como amigos de verdade nessa porra de fase ruim. Então escrevi este álbum como se fosse uma relíquia. Eu acho que a história de Wyatt é também minha própria história, e acredito nas coisas que eu escrevi.

REG: O primeiro disco foi feito na mesma linha do segundo?

Alex: Sim, mas o “Dawn Of Dying” foi o primeiro pecado. O “The Legend And The Truth” vai mais fundo, porque é a minha própria história em forma de álbum.

REG: Nesse disco você convidou artistas já reconhecidos no meio metálico como Tobias Sammet (Edguy), Michael Weikath (Helloween) e Joacim Cans (Hammerfall), mas eles tiveram uma discreta participação…

Alex: Esse disco é um musical, uma espécie de filme de musica, uma história real, uma novela de rádio… Nenhum deles fez música para este disco. Eu pedi a eles que contribuissem com as vozes deles porque queria fazer como se fosse uma novela de rádio. Todos fizeram a sua parte como um ator faz num musical, e fizeram isso muito bem feito.

REG: O início da música “Friends Till the End“ lembra a clássica “Perfect Strangers“, do Deep Purple. É uma espécie de homenagem ou só uma coincidência?

Alex: Yeah! Deep Purple? Você é o primeiro e único nesse planeta que escuta coisas desse tipo, mas é muito legal. Gosto deles, mas nem tanto assim. Não é homenagem, não, eu escrevo minhas músicas sem pensar em outras coisas.

REG: O jeito de você cantar é semelhante ao do Ian Astbury, do The Cult, especialmente na música “Sonic Temple“ (não por acaso nome de álbum do Cult). Você concorda? Ele é uma referência na sua música e no seu jeito de cantar?

Alex: Taí uma boa pergunta. Eu gosto do The Doors. O Ian também gosta da voz do Jim (Morrison), mas eu acho que Jim Morrison também gostava da voz de alguém, e assim por diante…

REG: Não seria mais fácil para entender a história se as letras viessem impressas no encarte?

Alex: Bem, eu escrevi a história no encarte e ainda as minhas palavras. Isso é o principal para mim e a razão de eu ter feito este disco. Mas as letras são também muito importantes, e por isso estão disponíveis no nosso site oficial.

REG: Depois desse disco conceitual, o que você tem em mente para o próximo?

Alex: Eu estou terminando cinco músicas novas que entrarão no próximo disco, chamado “An Eye For An Eye, a Tooth For a Tooth”, a história de um assassino sentado no corredor da morte.

REG: Já ouviu falar numa banda do Brasil que mistura country com hardcore e metal chamada Matanza?

Alex: Não, mas a idéia é ótima! Espero tocar com eles algum dia!

Dezperadoz no Wacken 2006: começaram a aparecer na frente do palco com roupas de caubói

Dezperadoz no Wacken 2006: começaram a aparecer na frente do palco com roupas de caubói

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