Possessão
Trio afiado e ultra pesado de Zakk Wylde incorpora e atualiza o repertório do Black Sabbath na perna carioca do festival Best Of Blues & Rock. Fotos: Daniel Croce.
Trata-se, no fundo, no fundo, de uma banda cover, mas cover com pedigree. Ou seja, formada por músicos pra lá de cascudos e identificados de um modo ou de outro com o Black Sabbath, a tal banda seminal para o metal citada ali em cima. Senão vejamos. Quem comanda a empreitada é Zakk Wylde, dono do Black Label Society e alçado à fama como guitarrista de Ozzy Osbourne – sabemos todos -, o vocalista original do Black Sabbath. No baixo, John DeServio, também do BLS e do Pride & Glory, trio de southern rock de Wylde. E espancando a bateria o requisitado Joey Castillo, que já tocou, por exemplo, com Queens Of The Stone Age, Nine Inch Nails e o California Breed, do Deep Purple Glenn Hughes. Tá bom pra você?
O show é parte da espécie de perna carioca da edição desse ano do já tradicional festival Best Of Blues & Rock, e é de longe o mais pesado do evento, quiçá de todas as edições. E – cover ou não cover, eis a questão – tem lá suas inserções criativas, uma vez que Wylde se aproveita dos riffs originais do Sabbath, assinados por Tony Iommi, o tal maior criador de riffs de guitarra de que se tem notícia, e desanda a enfiar evoluções e solos a partir dali em um exercício sem fim de peso e ode à música dita pauleira na década de 70. É como se ele incorporasse o espírito ainda vivo da música da época, em uma possessão quase demoníaca que nem a missa negra de Jabour poderia reconhecer. Para se ter uma ideia, músicas como “War Pigs”, no arremate da noite, passam dos 12 minutos de pura rifferama e porrada nos cornos.Na abertura, as três primeiras músicas chegam, emendadas umas nas outras, a quase meia hora de show, e aí vale salientar a dobradinha “Snowblind”/“Symptom of the Universe”. A primeira, umas das canções mais melodiosas e bem construídas do Black Sabbath, logo reconhecida pelo público, e, a segunda, dotada de um dos riffs mais poderosos de todos os tempos que se impõe também pelo ineditismo, por assim dizer, já que é uma das duas novidades no repertório desse show, em comparação à apresentação de 2017, em um Circo Voador abarrotado (veja como foi). A outra é “Tomorrow’s Dream”, que nem tem tanto impacto assim. O que também abre a discussão sobre a ampliação de repertório, afinal quase sete anos e uma pandemia separam as duas turnês.
Tudo bem que cinco dos seis discos perfeitos do Sabbath estão contemplados, mas deixar de fora a clássico “Sabbath Bloody Sabath” (música e disco) não faz muito sentido. Tampouco não considerar a sinistra canção que dá título ao grupo e ao disco de estreia, ou ainda “Iron Man”, “Hole in the Sky, “Hand Of Doom” inteira e por aí vai; dá pra fazer mais de dois shows inteiros com esse repertório incrível do Black Sabbath. Mas enquanto a porradaria come solta no palco sem que Zakk Wylde dê um pio que não seja para apresentar os músicos, dá pra destacar ainda “N.I.B.”, curiosamente uma das que a plateia canta o refrão certinho; “Children of the Grave”, em um dos vários, mas lindo momento bateção de cabeça; e “Fairies Wear Boots”, com um comovente acompanhamento de palmas do povaréu. O que se concluiu que se trata de uma bela noite do rock pesado, não fosse aquela terrível sensação de que, doravante, Black Sabbath ao vivo só assim mesmo. Será?Set list completo
1- Supernaut
2- Snowblind
3- Symptom of the Universe
4- Under the Sun/Every Day Comes and Goes
5- Tomorrow’s Dream
6- Wicked World
7- Fairies Wear Boots
8- Into the Void
9- Children of the Grave
10- Lord of This World
11- Hand of Doom + Behind the Wall of Sleep
12- N.I.B.
13- War Pigs
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