Cover com pedigree
Revelado por Ozzy Osbourne, guitarrista Zakk Wylde recorta e cola solos e improvisos em músicas do Black Sabbath. Fotos: Daniel Croce.
Relembre-se que, embora tenha carreira sólida com o Black Label Society, Wylde foi alçado à fama como guitarrista de Ozzy Osbourne, que por sua vez apareceu para o mundo como vocalista do Black Sabbath. Entre muitas idas e vindas, Zakk Wylde faz parte da formação atual da banda de Ozzy, assim como o baixista Rob Blasko, outro que está no palco do Circo. Completa o power trio o baterista Joey Castillo, que já tocou com Deus e o mundo, incluindo Queens Of The Stone Age, Nine Inch Nails e o California Breed, do Deep Purple Glenn Hughes. Ou seja, é uma turma da pesada, que só não reproduz a formação de quarteto do Sabbath porque Wylde assume os vocais, ainda que tenha que ler em cartazes gigantes colocados à sua frente, as letras de algumas músicas; por que não pegar emprestado o monitor usado por Ozzy?
A principal novidade em um show desse tipo é que, no meio de várias das músicas, Zakk Wylde insere solos que vão tão longe a ponto de sair da música como ela foi originalmente gravada, e Blasko e Castillo, sobretudo este, vão atrás em improvisações sensacionais na maior pare do tempo. Na menor, e na medida em que o show vai acontecendo, soa como se o guitarrista usasse as teclas de recortar e colar, montando assim um mosaico vivo do tipo de som que ele cria/desenvolve, com, vamos e venhamos, assinatura e tudo, com o repertório consagrado do Black Sabbath. Acontece, por exemplo, na espetacular “Snowblind”, que realça a intenção de não imitar o monstruoso guitarrista Tony Iommi, mas de buscar caminhos possíveis na melodia e nos riffs da música. Ou em “Into The Void”, cujo riff genial serve de base para Joey Castillo revirar seu kit simplório de ponta cabeça.Um ponto positivo da noite é a escolha do repertório, todo baseado nos cinco primeiros álbuns do Sabbath (por que o sexto, “Sabotage”, ficou de fora?), e com músicas não muito comuns nos shows do Black Sabbath ou mesmo em bandas covers mundo afora. Assim, se tem uma “Children Of The Grave” e outra “War Pigs” de um lado, aparecem o lado B “Wicked World” e “A National Acrobat” de outro. Um ponto negativo é a duração do show – cerca de uma hora e 40 minutos -, já que, talvez a única vantagem na comparação com o Sabbath original, é a capacidade física/humana de tocar por mais tempo, por conta da idade menos avançada de Wylde e cia. Reconheça-se, mesmo assim, que não é nada fácil passar todo esse tempo debulhando a guitarra, praticamente solando no início, no meio e no fim de cada uma das músicas.
Por que é uma paulada atrás da outra, sem parar, sendo que Wylde só fala um pouco na hora de apresentar os músicos, mas o sotaque proibitivo impede qualquer entendimento por parte do público. Ele é mesmo o bambambã da caixa d’água: toca com os dentes no arremate da noite, com a sensacional “War Pigs”, na melhor reposta do público; esmerilha a guitarra nas costas o tempo todo; e desce no espaço entre a grade e a plateia, em três oportunidades, para delírio geral. Em todas as vezes em que esteve no Rio, nunca ficou tão próximo da plateia. No frigir dos ovos, ao final da noite, fica aquela sensação bipolar de ter assistido a um showzaço, com repertório raro e excelente performance dos músicos, mas, também, a de reconhecer que a era das bandas sem nenhum integrante da formação original chegou cedo demais, e isso, definitivamente, não é nada bom.Set list completo:
1- Supernaut
2- Snowblind
3- A National Acrobat
4- Children of the Grave
5- Lord of This World
6- Under the Sun/Every Day Comes and Goes
7- Wicked World
8- Fairies Wear Boots
9- Into the Void
10- Hand of Doom
11- Behind the Wall of Sleep
12- N.I.B.
13- War Pigs
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