Solto e convincente
Com convidados, Kiko Loureiro mostra trabalho solo e passeia por suas ex-bandas no festival Best Of Blues & Rock, no Rio. Fotos: Daniel Croce.
Juntos, com Rafael nos vocais, eles mandam uma ela versão de “Rebirth”, do Angra (que foi composta rapidamente, diz Kiko), a tal banda referência do metal nacional citada ali em cima, e o clima de ‘tá aí o que você queria” se instala. A música, com a bela e já tradicional introdução de violão dedilhado e solos de parte a parte, satisfaz plenamente as expectativas. Muito embora, a bem da verdade, uma da fase com André Matos, que nos deixou há pouco tempo, cairia melhor. Esse desejo, contudo, é contemplado mais cedo, primeiro com um medley instrumental de faixas do Angra, puxado pela clássica introdução de “Carry On”, e, depois, com – aí sim da fase André – “Notthing to Say”, com a participação do comediante Bruno Sutter. E não é que ele canta bem? Segurou todos os vocais agudos que só André Matos sabia fazer.
Você pode não ter se dado conta, mas o internacional guitarrista Kiko Loureiro, durante anos defendendo as cores do Angra e do Megadeth, gravava aqui e acolá um ou outro disco solo, essencialmente com material instrumental. Ao todo, já são cinco discos, fora um DVD gravado ao vivo, e vem desse material o bojo – metade das músicas - do repertório da noite. Uma das mais legais é justamente a que abre a noite, “Overflow”, single do disco mais recente, “Open Source”, de 2020. A música, pelo efeito cativante e formato de canção com ponte e refrão, coloca o guitarrista no rol de outros instrumentistas do rock pesado, como Joe Satriani e Marty Friedman, que inclusive participa em uma das faixas de “Open Source”.Nessa turnê solo, Kiko tem variado a formação da banda de acordo com a disponibilidade dos músicos, podendo ter ex-colegas do Angra no palco. Para este show tocam Luiz Rodrigues (guitarra), Thiago Baumgarten (Hibria, baixo) e Luigi Paraventi (bateria), todos bastante técnicos e bem familiarizados com o tipo de som, tanto do Angra, quanto do trabalho instrumental de Kiko. Olho na precisão e agilidade de Paraventi, que tem futuro certo no metal nacional. Outro destaque é “Pau-de-Arara”, bela composição do disco de estreia solo, “No Gravity”, de 2005. A música é uma das que o guitarrista busca certo flerte com a música tradicional brasileira, característica, para o bem ou para o mal, pouco percebida nessa versão – mais enxuta, parece - ao vivo.
E do Megadeth, nada? De um modo geral o público pode até não ter percebido, e o malvado Kiko também não anunciou, mas foram executadas duas da banda referência no metal mundial. Primeiro – escolha óbvia para o formato, mas certeira – a instrumental “Conquer or Die!”, parceria de Kiko Loureiro com Dave Mustaine, em versão idêntica a gravada no álbum “Dystopia”, de 2016. Depois, “Killing Time”, também da dupla, esta cantada pelo próprio Kiko, em um notável esforço de se fazer parecer com o estilo vocal de Mustaine. Como a música, do disco mais recente da banda, “The Sick, the Dying… and the Dead!” (2022), tem forte sotaque pop/cativante, caiu muito bem. Mesmo com a plateia contemplativa na maior parte do tempo, no fim das contas o show, que serve de abertura para o Zakk Sabbath (veja como foi), é bastante convincente.Set list completo
1- Overflow
2- Pau-de-Arara
3- Reflective
4- Vital Signs
5- Conquer or Die!
6- Meddley Angra
7- Nothing to Say
8- No Gravity
9- Killing Time
10- Rebirth

Rafael Bittencourt, da dupla com Kiko Loureiro no Angra, canta ao lado do guitarrista Luiz Rodrigues
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