O Homem Baile

Gaiatos

Diversão pura, Toy Dolls tira atraso dos fãs cariocas com clássicos que antecedem o poppy punk de Green Day e adjacências. Fotos: Daniel Croce.

A entrosada dupla de frente do Toy Dolls: o guitarrista Michael Algar e o baixista Tom Blyth

A entrosada dupla de frente do Toy Dolls: o guitarrista Michael Algar e o baixista Tom Blyth

Uma hora depois de enfileirar um petardo atrás do outro, todos muito bem recebidos por uma plateia com uma sede acumulada de mais de 30 anos, os três gaiatos retornam ao palco despidos das vestes que lhe são características e marcaram época em uma segunda ou terceira onda do punk rock, lá no final dos anos 1970. Sacam um de seus maiores hits que, com mais de 40 anos, é cantado a plenos pulmões pela turba que se acumula na frente do palco, gira, pula, se joga uns contra os outros, ao abrir rodas de dança como um bom show punk rock de raiz determina que seja. É assim que o Toy Dolls, enfim no Rio de Janeiro, acelera a reta final de uma urgente apresentação, neste domingo (17/9), em um Agyto (ex-Teatro Odisséia) cheinho de dar gosto.

Indumentária que inclui óculos escuros de hastes coloridas, cabelos – os que restam – pintados e um impagável “conjuntinho punkeca” que inclui calças xadrez, fraques coloridos combinando, camisas sociais sem as mangas e gravatas figurativas de comprimento limitado. O visual perfeito para uma banda que nasceu – e vive assim há mais de 40 anos - com a vocação para se converter em desenho animado ao vivo, ali na frente de todo mundo. Não por acaso Michael Algar canta com a indefectível voz de Pato Donald, e tem nos backing vocals uma poderosa arma de ataque ao público, que – repita-se – faz essa terceira voz em coro de forma extraordinária. Não por acaso boa parte das músicas começa com vocais quase à capela e engrena em seguida. E como engrena.

Camisas soltas e colarinhos afrouxados já no fim de esta do ótimo show do Toy Dolls no Rio

Camisas soltas e colarinhos afrouxados já no fim de esta do ótimo show do Toy Dolls no Rio

Caso de “Dig That Groove Baby”, citada ali em cima, em que Algar aparece com uma inusitada guitarra de três braços, tirando sarro da turma da virtuose que antecedia o punk lá nos anos 1970. A música é faixa-título do álbum de estreia do trio, de 1983, que cede a maior parte das músicas ao show, afinal é a turnê de 40 anos da banda, mas boa parte da longa discografia do grupo é contemplada. O que inclui duas das mais recentes, do álbum “Episode XIII”, lançado em 2019: “Benny the Boxer” e a instrumental de sotaque surf music de viés hispânico “El Cumbanchero”. Nela e em “Wipe Out”, a cover do Surfaris que encerra a primeira parte do show, curiosamente Michael Algar faz as vezes dos guitarristas dos quais debocha, todo trabalhado na virtuose.

Esse cenário, incluindo a paisagem de palco, impagáveis dancinhas coreografadas entre Algar e o baixista Tom Blyth, e ainda aparatos adicionais que incluem modestos jatos de papel picado, lançamento de garrafa inflável gigante, em “Lambrusco Kids”, e de enormes bolas de gás pretas sobre a plateia no final da noite, aponta para o hoje gigante do mercado musical Green Day. E descortina (reforça?) o fato de como o Toy Dolls, uma banda punk, mas na época da origem associada à vertente oi e à new wave, é referência pura para o poppy punk nos anos 1990, defenestrado pelos punks de raiz desde sempre. Coloquem Michael Algar e Billie Joe Armstrong lado a lado, cantando ou tocando, e apontem quem é quem.

As impagáveis coreografias ensaiadas do Toy Dolls: um belo acréscimo ao repertorio do show

As impagáveis coreografias ensaiadas do Toy Dolls: um belo acréscimo ao repertorio do show

Reflexão que seguramente não passa pelas cabeças dos que se regozijam ali na frente do palco, em um público certamente de meia idade, mas com o gás suficiente para pouco mais de 70 minutos de show; e nem tinha como ser mais que isso. E é assim desde o começo, com a boa “Fiery Jack”, já recebida com refrães cantados; “Fisticuffs in Frederick Street”, espécie de hino da turba e que ativa o modo pula-pula no meio do salão; a curiosa “I’ve Got Asthma”, que oferece o primeiro mosh da noite, e nem seriam tantos assim; e ainda – de novo – “Wipe Out”, acelerada e com Algar girando a guitarra em torno do próprio umbigo(!). Uma pena o bis ser tão corrido, apressado até, mas era para ser assim: rápido urgente e avassalador. Agora que sabem o caminho, que voltem logo.

Espécie de atração surpresa, o Zumbis do Espaço acabou sendo a banda certa para fazer a apresentação de abertura. Não pelo som, estética, etc, mas porque o público se mostrou íntimo do repertorio da banda, cantando junto em quase todas as músicas e ainda pedindo outras nem tão conhecidas assim. Espremido na borda o palco do Agyto, o quarteto soltou a mão, comandado pelo vocalista Tor (Andrezão), sem muita conversa e muita porrada. Destaque para pérolas do repertório deles como “O Mal Nunca Morre”, requisitada desde o início; “A Marca dos 3 Noves Invertidos”, “Satan Chegou”, uma das queridinhas; e a romântica “Nos Braços da Vampira”. Quem voltem logo para um show inteiro no Rio.

O vocalista Tor (ou Andrezão, como queiram) no comando do bom show do Zumbis do Espaço na abertura

O vocalista Tor (ou Andrezão, como queiram) no comando do bom show do Zumbis do Espaço na abertura

Set list completo Toy Dolls:

1- Fiery Jack
2- Cloughy Is a Bootboy!
3- Bitten by a Bed Bug
4- Fisticuffs in Frederick Street
5- The Death of Barry the Roofer With Vertigo
6- Benny the Boxer
7- Up the Garden Path
8- Dougy Giro
9- I’ve Got Asthma
10- Spiders in the Dressing Room
11- El Cumbanchero
12- The Lambrusco Kid
13- Nellie the Elephant
14- She Goes to Finos
15- Toccata and Fugue
16- Alec’s Gone
17- Harry Cross (A Tribute to Edna)
18- Wipe Out
Bis
19- Dig That Groove Baby
Bis
20- When the Saints Go Marching In
21- Glenda and the Test Tube Baby
22- Idle Gossip

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