O Homem Baile

No peito e na raça

Mesmo alquebrado, Inocentes mostra vitalidade em show vibrante na abertura para a Plebe Rude no Circo voador. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista e guitarrista do Inocentes, Clemente, ao lado do baixista Anselmo Monstro

O vocalista e guitarrista do Inocentes, Clemente, ao lado do baixista Anselmo Monstro

O vocalista e guitarrista bebe cerveja sem álcool por estar em convalescência de um pós-operatório. O baterista nem veio ao Rio, e o substituto, cascudo técnico de som, toca com o joelho quase em frangalhos, honrando assim um show agendado de última hora e que tinha que acontecer. Foi assim que o Inocentes subiu no palco do Circo Voador, na última sexta (24/3), para fazer uma explosiva abertura para o show de lançamento do novo álbum da Plebe Rude (veja como foi). E – ainda tem mais essa – o tal vocalista e guitarrista está em jornada dupla, uma vez que é também integrante da Plebe já há quase 20 anos; e a estreia dele foi nesse mesmo Circo Voador.

Mas Inocentes é Inocentes e não arrega. Liderando o quarteto com uma garra juvenil, Clemente, o tal home interseção das duas bandas, comanda uma apresentação vibrante de quem conhece muito bem aquele terreno chamado palco. Junto dele, os não menos cascudos Ronaldo Passos na outra guitarra e o baixista Anselmo Monstro embalaram o público com um repertório curto, sim, afinal é um show de abertura, mas ao mesmo tempo abrangente do ponto de vista do cancioneiro punk brasileiro. E tudo na raça, sem muita conversa ou explicação em 45 minutinhos corridos e repletos de histórias pra contar. E olha que o set list apurado tinha ainda outras seis músicas que acabaram limadas em cima da hora.

Histórias que remetem ao nascedouro do punk nacional, como “Restos de Nada”, música título de uma das bandas pioneiras, e da qual Clemente fez parte antes do Inocentes; passa por “Garotos do Subúrbio”, espécie de Inocentes antes do Inocentes e hino punk da juventude para todo o sempre; e chega à versão bem-acabada de “São Paulo”, do 365, um dos grandes símbolos daqueles tempos. Ao mesmo tempo, passa por coisas recentes, com “Eu Vou Ouvir Ramones”, cantada por Ronaldo e que faz parte do EP “Queima”, lançado em meados do ano passado. A música de fato é total Ramones e, mesmo não tão conhecida, contribui para manter o pique das rodas de pogo que se iniciam, ainda tímidas, no meio do salão.

Integrantes do Inocentes de longa data: Anselmo Monstro e o guitarrista Ronaldo Passos em ação

Integrantes do Inocentes de longa data: Anselmo Monstro e o guitarrista Ronaldo Passos em ação

A sacada boa, contudo, ou melhor, outra boa sacada é emoldurar tudo isso com clássicos que abrem e fecham o show, sem chance de dar errado. Começar com o petardo “Rotina” já é o aviso que o bicho vai pegar e que quem tá no palco é – mole de reconhecer pra quem tá chegando - o Inocentes. E o desfecho com “Pária Amada”, trilha sonora da ressaca e da decepção com a Nova República do episódio das Diretas Já, emendada a “Pânico em SP”, atualíssima para uma cidade cuja vocação é o caos, chega a ser precioso de tão imponente. Mesmo porque não é sempre que o Inocentes dá as caras por aqui; precisam voltar para shows inteiros e com mais frequência!

Set list completo:

1- Rotina
2- Expresso Oriente
3- Garotos do Subúrbio
4- A Cidade Não Para
5- Ele Disse Não
6- Eu Vou Ouvir Ramones
7- São Paulo
8- Aprendi a Odiar
9- Desequilíbrio
10- Nem Tudo Volta
11- Restos de Nada
12- Cala a Boca
13- Pátria Amada
14- Pânico em SP

Anselmo Monstro, Clemente e Ronaldo Passos, com o técnico de som e batera substituto ao fundo

Anselmo Monstro, Clemente e Ronaldo Passos, com o técnico de som e batera substituto ao fundo

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