O Homem Baile

Diversificado

Plebe Rude aponta mudança de rumo na carreira com lançamento do novo álbum, em show de repertório bem variado no Circo Voador. Fotos: Nem Queiroz.

O líder da Plebe Rude, Philippe Seabra, exibe seu novo modelito: mais pra mod que pra punk?

O líder da Plebe Rude, Philippe Seabra, exibe seu novo modelito: mais pra mod que pra punk?

Demorou, mas abalou. Com três anos de atraso involuntário - e no mês de aniversário do início da pandemia - a Plebe Rude lança o novo álbum de estúdio, “Evolução”, um petardo duplo com nada menos que 28 músicas, e inicia a turnê de lançamento justamente na trigésima apresentação da banda no Circo Voador, nesta sexta, 24/3. Um formato, o de álbum duplo, vamos e venhamos, não usual para uma banda que se confunde com a história do punk rock no Brasil. E que pode marcar um passo a mais na carreira, ressaltando a maturidade de que quem já há algum tempo circula mais no rol do classic rock do que nas trincheiras do punk revolucionário dos tempos do concreto rachado sem proteção de Brasília, quando Johnny ia à guerra de novo e passava na Globo sexo e karatê.

No palco, contudo, essas duas faces da Plebe conversam bem, em um repertório bem engendrado, com cinco músicas novas salpicadas no meio de clássicos infalíveis e de alguns números de meio de carreira que, antes nem tão conhecidos, hoje já são percebidos e têm a adesão ampla do sempre fiel público da Plebe Rude. Entre as novas, nem mesmo “Descobrimento da América”, com cerca de 10 minutos de duração, destoa do repertório, em que pese ela estar na primeira parte do disco, lançada às vésperas da pandemia, e ser reconhecida com facilidade. Mas colam mais no gosto do povréu “Vitória”, com participação vocal do batera Marcelo Capucci, e “68”, que tem um sabor mais picante e reforça o discurso da Plebe Rude, sempre atenta, mesmo nesses tempos tão estranhos.

A paisagem de palco é a clássica com Philippe Seabra no comando, guitarra e vocais, de um lado; Clemente e sua guitarra do outro, assumindo ainda vocais solo (a tal segunda voz consagrada por Ameba nos primórdios) em várias músicas; o varapau Andre X no centro, cada vez mais solto nos backing vocals; e o mão pesada Capucci espancando os tambores no fundo. Chama a atenção, contudo, o figurino yuppie de terno e gravata pretos de Seabra, bem distante do jeans rasgado clássico das noites de punk rock com o Cólera em priscas eras, ou mesmo com o Clash City Rockers, que um fã saliente na beirada do palco relembra. Mas pra mod do que pra punk, o visual tem a ver com a cover de “Baba O’Rilley”, do The Who, que abre o bis realçando os efeitos pré-gravados super bem bolados que, aliás, dão liga entre as músicas em todo o show; e já faz tempo que é assim.

Plebe Rude: Clemente (guitarra), Andre X (baixo) e Philippe, com o batera Marcelo Capucci ao fundo

Plebe Rude: Clemente (guitarra), Andre X (baixo) e Philippe, com o batera Marcelo Capucci ao fundo

Dá gosto ver o tal bloco de meio de carreira citado ali em cima, que valoriza músicas como “O Que Se Faz”, carro chefe do bom álbum “R Ao Contrário” (precisa ser redescoberto), de 2006, hoje cantada pelo público; a recente “Anos de Luta”, do ótimo verso “entretenimento no final”, outra boa sacada da verve pleberrudiana; e ainda “Nunca Fomos Tão Brasileiros”, espécie de semi-hit que fez Seabra relembrar o show de lançamento do disco de mesmo nome no Caneção; olhe só, veja vocês. E sempre vale o destaque das referências/homenagens em duas músicas de contemporâneos da Plebe já há tempos incorporadas ao repertório. A genial “Luzes”, da Escola de Escândalos, e “Medo”, do Cólera, que, diga-se de passagem, é sempre a grande ausência nos shows da Plebe. Redson partiu, mas a banda segue em frente com uma possível formação de quarteto que inclui Pierre e Val, integrantes da fase clássica da banda.

Acontece que o bicho pega pra valer é no repertório do clássico míni-álbum (chamava-se assim, na época) “O Concreto Já Rachou”, uma das maiores estreias de uma banda em disco em todos os tempos. Sete músicas em uns vinte minutinhos que mudaram – e mudam até hoje – a vida de muita gente, e que deveriam ser obrigatoriamente tocadas, por contrato, em todo e qualquer show da Plebe. Só não é assim dessa vez porque “Seu Jogo”, da tal da “angústia contida”, fica de fora. Mas o público se delicia com “Minha Renda” (que letra, meus amigos, que letra!); na fatídica “Johnny Vai a Guerra (Outra Vez)”, que precisa de viradas de bateria mais fiéis à versão do disco; em “Proteção”, na versão já conhecida misturada com “Pátria Amada”, com além de Clemente, o guitarrista Ronaldo, no Inocentes, no palco; e o desfecho do bis com “Até Quando Esperar”, de longe o maior hit da Plebe. Tá bom pra vocês?

Set list completo:

1-Evolução
2- Brasília
3- Anos de Luta
4- Luzes
5- A Serra
6- 68
7- Censura
8- O Que Se Faz
9- Descobrimento da América
10- Este Ano
11- A Ida
12- Bravo Mundo Novo
13- Vitória
14- Medo
15- Minha Renda
16- Nunca Fomos Tão Brasileiros
17- Johnny Vai a Guerra
18- Sexo & Karatê
19- Proteção/Pátria Amada
Bis
20- Baba O’Rilley
21- Dançando no Vazio
22- A Mesma Mensagem
23- Até Quando Esperar

Os brabos Clemente, Andre X e Philippe empunham os instrumentos lado a lado na beirada do palco

Os brabos Clemente, Andre X e Philippe empunham os instrumentos lado a lado na beirada do palco

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado