Garantido
Repertório clássico assegura a diversão do público em ótimo show do Millencolin no Rio. Fotos: Daniel Croce.
Não apenas assim, já que, a bem da verdade, em pouco mais de uma hora, a banda sueca - é bom que se diga – desfilou um repertório conhecido do público, que, por sua vez, desandou a montar rodas de dança no meio do salão praticamente o tempo todo, com a adição de incríveis cenas de body surfing explícito aqui e acolá. Longe da velocidade, agressividade e fúria do gênero, e perto do clima de festa até ingênuo do poppy punk, o quarteto segurou o show com o público na mão o tempo todo, em que pese uma equalização confusa, para dizer o mínimo, do som, que prejudica um bocado o entendimento do show, característica de toda a noite, desde as bandas de abertura. Foi a última parada da chamada “We Are One Tour” no Brasil, que circulou ainda por São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.
Embora tenha um álbum relativamente novo debaixo do braço pra mostrar, “SOS”, de 2019, pré-pandêmico, portanto, o show é calcado na fase de outro da banda, com nada menos que a metade das músicas cedidas pelos discos “Pennybridge Pioneers” (2000) e “Home From Home” (2002). As únicas duas de “SOS”, contudo, não fazem feio: a pesada “Nothing”, que se destaca no set por uma agressividade singular e um bom refrão, e a faixa-título, com carimbo Bad Religion de qualidade, tocada logo na parte inicial, que realça o bom entrosamento entre os guitarristas Mathias Färm e Erik Ohlsson. Não que isso faça alguma diferença entre os estapeamentos e safanões no meio do salão, mas o que conta mesmo é a saraivada de clássicos da banda que, se não faz parte do primeiro escalão do hardcore melódico, tem, sim, lugar na memória noventista, e é isso que movimenta uma noite fadada a recordações.Quem comanda a festa é Nikola Sarcevic, o tal vocalista (e baixista), que chamou o incauto para cantar no palco, e, curiosamente, o show não começa explosivo como se anuncia, já que “Kemp”, espécie de balada marcial mais identificada com o rock do que com o hardcore, é tocada mais ritmadamente. Cria, contudo, um clima de expectativa tenso que guarda a explosão para mais adiante. E notável o aumento da rotação e da participação do público, inclusive cantando trecho ou outro de músicas, nas mais conhecidas/agressivas. É o que acontece em “Man or Mouse”, que já começa com trecho cantarolado a plenos pulmões pela turba; na ancestral “Olympic”, porrada das boas; e em “Ray”, mais pelo sotaque cativante do que pela agressividade em si.
Mas nada se compara a covardia deixada estrategicamente para o final, em um bis com nada menos que três músicas do já citado “Pennybridge Pioneers”, e a razoavelmente recente “True Brew”, reconhecida como clássica também, diga-se. Assim, o salão do Circo parece quicar juto com a plateia saltitante em “Penguins & Polarbears”, e a dobradinha final “Duckpond”/“No Cigar”, esta última ao mesmo tempo ritmada e acelerada, aponta para aquele sprint final que dá a pecha de inesquecível para o público. E ainda conta como prova inequívoca que o Millencolin, que vem ao Rio desde 2001 com certa frequência, pode voltar quando quiser que o púbico comparece.Set list completo:
1- Kemp
2- Bullion
3- Sense & Sensibility
4- Happiness for Dogs
5- SOS
6- Ray
7- Fox
8- Man or Mouse
9- Dance Craze
10- Botanic Mistress
11- Nothing
12- Lozin’ Must
13- The Ballad
14- Brand New Game
15- Olympic
16- Pepper
17- Mr. Clean
Bis
18- Penguins & Polarbears
19- True Brew
20- Duckpond
21- No Cigar
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Show muito bom, o melhor dos 3 que vi deles no Rio. Pareciam mais animados e a casa sempre ajuda.