Home DestaqueO Homem Baile

Garantido

Repertório clássico assegura a diversão do público em ótimo show do Millencolin no Rio. Fotos: Daniel Croce.

O baixista e vocalista do Millencolin, Nikola Sarcevic, no comado da noite festiva no Circo Voador

O baixista e vocalista do Millencolin, Nikola Sarcevic, no comado da noite festiva no Circo Voador

Gordinho! Gordinho! Gordinho! É o que grita em uníssono uma turba de admiradores do hardcore noventista em carinhosa alusão aos quilinhos a mais de um deles que subiu ao palco para cantar uma das músicas. Isso porque, diferentemente do que costuma acontecer em ocasiões de fãs no palco, geralmente encerrando em terríveis pataquadas, o rapaz canta muitíssimo bem, e com mais voz do que a do próprio vocalista, que vem tocando dia sim outro também nessa turnê pelo Brasil. E olha que a música, uma balada pouco identificada com o punk/hardcore, não era nem para ter entrado em um dos discos mais famosos dos caras. Mas é com “The Ballad” que o público mais se diverte no show do Millencolin, neste domino (12/3), em um Circo Voador cheinho de dar gosto.

Não apenas assim, já que, a bem da verdade, em pouco mais de uma hora, a banda sueca - é bom que se diga – desfilou um repertório conhecido do público, que, por sua vez, desandou a montar rodas de dança no meio do salão praticamente o tempo todo, com a adição de incríveis cenas de body surfing explícito aqui e acolá. Longe da velocidade, agressividade e fúria do gênero, e perto do clima de festa até ingênuo do poppy punk, o quarteto segurou o show com o público na mão o tempo todo, em que pese uma equalização confusa, para dizer o mínimo, do som, que prejudica um bocado o entendimento do show, característica de toda a noite, desde as bandas de abertura. Foi a última parada da chamada “We Are One Tour” no Brasil, que circulou ainda por São Paulo, Curitiba e Porto Alegre.

O guitarrista Mathias Färm, Nikola Sarcevic, o batera Fredrik Larzon e o outro guitarrista, Erik Ohlsson

O guitarrista Mathias Färm, Nikola Sarcevic, o batera Fredrik Larzon e o outro guitarrista, Erik Ohlsson

Embora tenha um álbum relativamente novo debaixo do braço pra mostrar, “SOS”, de 2019, pré-pandêmico, portanto, o show é calcado na fase de outro da banda, com nada menos que a metade das músicas cedidas pelos discos “Pennybridge Pioneers” (2000) e “Home From Home” (2002). As únicas duas de “SOS”, contudo, não fazem feio: a pesada “Nothing”, que se destaca no set por uma agressividade singular e um bom refrão, e a faixa-título, com carimbo Bad Religion de qualidade, tocada logo na parte inicial, que realça o bom entrosamento entre os guitarristas Mathias Färm e Erik Ohlsson. Não que isso faça alguma diferença entre os estapeamentos e safanões no meio do salão, mas o que conta mesmo é a saraivada de clássicos da banda que, se não faz parte do primeiro escalão do hardcore melódico, tem, sim, lugar na memória noventista, e é isso que movimenta uma noite fadada a recordações.

Quem comanda a festa é Nikola Sarcevic, o tal vocalista (e baixista), que chamou o incauto para cantar no palco, e, curiosamente, o show não começa explosivo como se anuncia, já que “Kemp”, espécie de balada marcial mais identificada com o rock do que com o hardcore, é tocada mais ritmadamente. Cria, contudo, um clima de expectativa tenso que guarda a explosão para mais adiante. E notável o aumento da rotação e da participação do público, inclusive cantando trecho ou outro de músicas, nas mais conhecidas/agressivas. É o que acontece em “Man or Mouse”, que já começa com trecho cantarolado a plenos pulmões pela turba; na ancestral “Olympic”, porrada das boas; e em “Ray”, mais pelo sotaque cativante do que pela agressividade em si.

Mathias Färm em aproximação na beirada do palco no show do Millencolin na 'We Are One Tour', no Rio

Mathias Färm em aproximação na beirada do palco no show do Millencolin na 'We Are One Tour', no Rio

Mas nada se compara a covardia deixada estrategicamente para o final, em um bis com nada menos que três músicas do já citado “Pennybridge Pioneers”, e a razoavelmente recente “True Brew”, reconhecida como clássica também, diga-se. Assim, o salão do Circo parece quicar juto com a plateia saltitante em “Penguins & Polarbears”, e a dobradinha final “Duckpond”/“No Cigar”, esta última ao mesmo tempo ritmada e acelerada, aponta para aquele sprint final que dá a pecha de inesquecível para o público. E ainda conta como prova inequívoca que o Millencolin, que vem ao Rio desde 2001 com certa frequência, pode voltar quando quiser que o púbico comparece.

Set list completo:

1- Kemp
2- Bullion
3- Sense & Sensibility
4- Happiness for Dogs
5- SOS
6- Ray
7- Fox
8- Man or Mouse
9- Dance Craze
10- Botanic Mistress
11- Nothing
12- Lozin’ Must
13- The Ballad
14- Brand New Game
15- Olympic
16- Pepper
17- Mr. Clean
Bis
18- Penguins & Polarbears
19- True Brew
20- Duckpond
21- No Cigar

O baterista Fredrik Larzon segue com a pegada pesada e ritmada do Millencolin que lhe marca a carreira

O baterista Fredrik Larzon segue com a pegada pesada e ritmada do Millencolin que lhe marca a carreira

Tags desse texto:

Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Leonardo Costa em abril 12, 2023 às 22:44
    #1

    Show muito bom, o melhor dos 3 que vi deles no Rio. Pareciam mais animados e a casa sempre ajuda.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado