Clássico e promissor
Em show de lançamento, Azul Limão toca a íntegra do disco novo e revê clássicos, com participação de Dicastro, do Sangue da Cidade. Fotos: Gustavo Carneiro (1 e 2) e Marcos Bragatto (3).
Não se trata, contudo, de um espetáculo revivalista, em que pese a banda ter mais de 40 anos de uma estrada nem sempre habitada, mas que hoje se mostra renovada com uma energia de iniciantes. Tanto que o show, logo de cara, traz nada mais nada menos que todas as 10 faixas do novo álbum, o bom “Na Pressão”, que saiu no ano passado, grande parte executada ao vivo pela primeira vez. Um procedimento que, além de ressaltar um bom momento criativo da banda, é um ato de coragem diante de um público que – vamos e venhamos – está ali para ouvir os clássicos. Por isso mesmo, e por se tratar de um teatro com cadeiras, o show custa um pouco para engrenar até que público e banda tenham a esperada interação que um show de rock deve ter.
Mesmo assim, a pressão anunciada de antemão aparece na segunda música, “Nunca se Renda”, com ótimas evoluções de guitarra de Dantas; no refrão fácil de “Dinheiro Dinheiro”, versão em português de um clássico oculto da banda espanhola Obús, reconhecida por um ou outro incauto; e no clima tenso de “Vírus Mortal”, em sintonia com a letra que registra o período pandêmico. A conexão com o passado vem na curiosa “1983”, que relata o que se fazia no ano que marcou o estouro do rock e do metal no Brasil. A canção é dedicada ao jornalista Leopoldo Rey, falecido recentemente, citado na letra, e se converte em um dos momentos mais emocionantes da noite. Também estão nessa formação do Azul Limão, já há uns cinco anos, o bom vocalista Renato Massa (ou Trevas, como queiram), o baixista Vinícius Mathias, contemporâneo de Dantas da formação original, e o baterista de mil bandas André Delacroix.
A ordem das músicas é ligeiramente alterada em relação à do CD para que Dicastro entre na última, “Alta Velocidade”, consagrada pelo Sangue Da Cidade (banda da qual o guitarrista é fundador), que o Azul Limão regravou no álbum. E o grande momento citado lá em cima vem com “Coração de Metal”, um clássico underground que é verdadeira ode o heavy metal (headbangers adoram a autorreferência), de autoria de Dicastro e muito conhecida na versão do Stress. A música, belíssima, revela em pleno palco uma ótima atuação da dupla de guitarristas, em direta conexão com as twin guitars de Wishbone Ash que inspiram Judas Priest, Iron Maiden e tantos outros ao longo dos anos. É a deixa para que o público participe mais eloquentemente dali em diante, no bloco final da apresentação.Porque “Coração de Metal” é a porta de entrada para os clássicos, que enfim levam parte da plateia para a beirada do palco. Ali, eles pulam, cantam e dançam, participando - gente que não era nascida na época em que as músicas foram gravadas, inclusive – junto com Trevas no microfone. Tem “Não Vou Mais Falar”, que marcou época ao ser tocada diariamente na Fluminense FM, também citada em “1983”; tem a recente “Guerreiros do Metal”, hit em tempos de streamings, olhe só, vejam vocês; e a dobradinha final “Satã Clama Metal”/“Vingança”. Dá pra citar uma pá de ausências e o set lista poderia ter umas 20, 25 músicas, mas como reclamar de uma noite como essa? Uma noite de reverência ao passado, sim, mas também de afirmação de um presente ainda promissor.
Set list completo
1- Na Pressão
2- Nunca Se Renda
3- Dinheiro Dinheiro
4- Crom
5- Perdão
6- Vírus Mortal
7- 1983
8- Hipócrita
9- O Medo é Inimigo
10- Alta Velocidade
11- Coração de Metal
12- Não Vou Mais Falar
13- Guerreiros do Metal
14- Sangue Frio
15- Solidão
16- Satã Clama Metal
17- Vingança
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