O Homem Baile

Rifferama em dobro

Em show conciso, Black Label Society mostra força com um segundo guitarrista à altura do primeiro. Fotos: Daniel Croce.

O mentor e líder do Black Label Society, Zakk Wilde, com uma de suas mil e uma guitarras

O mentor e líder do Black Label Society, Zakk Wilde, com uma de suas mil e uma guitarras

A apresentação se encaminha para o desfecho quando o inesperado acontece. Na ponta direita, o experiente guitarrista principal desafia o de menor expressão ladeado à esquerda do palco. O duelo come solto com solos atrás de solos até que ambos se deslocam para o centro, e, em cima de uma plataforma, desandam a tocar juntos em um entrosamento/desafio sem par. Até que um começa a solar com a guitarras nas costas e o outro, sem o menor constrangimento, repete o gesto e tem-se ali uma das cenas mais marcantes de um show de rock pesado de que se tem notícia. A música não por caso se chama “Fire It Up” (algo como “ateie o fogo”) e é assim que Zakk Wylde salienta os dotes do guitarrista Dario Lorina no ótimo show do Black Label Society, neste sábado (15/10), na Sacadura 154, no Rio.

Porque não é sempre que guitarristas, dados a viagens ególatras, têm esse tipo de atitude, tampouco há registros de que cenas como essa tenham ocorrido antes da atual turnê. Lorina, com passagem pelo Lizzy Borden, ja tem certo protagonismo em solos e nos marcantes riffs da banda, turbinando ainda mais o show com um todo, mas subir no pódio do patrão - vamos e venhamos - é outro nível. Explica-se que Wylde é daqueles que usam uma pequena plataforma que o deixa em um local mais alto em relação aos outros músicos, e mais alto ainda em relação ao público. É ali nesse altar que ele se realiza tocando pra dedéu, erguendo os mais diversos tipos de guitarra e esmurrando o próprio peito de maneira rústica em seu clássico gesto de agradecimento ao final do show. E o público adora.

Zakk Wylde e o guitarrista Dario Lorina duelando com as guitarras nas costas no centro do palco

Zakk Wylde e o guitarrista Dario Lorina duelando com as guitarras nas costas no centro do palco

Antes, Zakk Wylde apresenta o que tem se tornado um show padrão do BLS, que gira em torno de 14 músicas em cerca de hora e meia. Ok que, dada a rodagem do músico, que ficou conhecido por ser guitarrista de Ozzy Osbourrne, ele poderia mostrar mais do material produzido em toda a carreira, mas essa é aquele tipo de apresentação que ganha o público (como se precisasse, só tem fã ali) muito mais pela intensidade do que por contabilidades que não expressam o poder de um riff de guitarra. É a turnê do bom álbum “Doom Crew Inc.”, que saiu no ano passado, e dele são tocadas três músicas: “Set You Free”, aquela do cínico clipe de terror, em uma versão ainda mais pesada e toda trabalhada em um riff pesadão que empolga o bater de cabeça na turba de preto; a bem ritmada e a também riffônica “Destroy & Conquer”, totalmente inspirada em Black Sabbath, a segunda da noite; e a balada sombria “You Made Me Want to Live”, cheia de idas e vindas.

O momento mais calmo, contudo, se é que é possível chamar assim, é na dobradinha “Spoke in the Wheel”/“In This River”, quando – olhe só, veja você – Wylde troca as guitarras pelo teclado. A primeira, uma semibalada corta onda, só prepara o terreno para a segunda, que é um dos hits do tipo hino do guitarrista, na qual ele ressalta um pouco de sua faceta associada à música country. Não é à toa que a cantoria do público rola solta. É o que prepara o arremate que começa com o arregaço de “Fire It Up” e o momento duelo sensacional descrito lá em cima, e dois clássicos da banda. Primeiro, o coletivo de riffs (de novo!) de “Suicide Messiah”, cantada a plenos pulmões por cada ser vivo ali dentro. Depois, mil e uma citações a Black Sabbath e Led Zeppelin em “Stillborn” um festival de guitarra com groove em que até o baixista (e excelente nos bakcing vocals) John DeServio faz das dele.

A paisagem do palco: o baixista John DeServio, Wylde e Lorina, com o batera Jeff Fabb ao fundo

A paisagem do palco: o baixista John DeServio, Wylde e Lorina, com o batera Jeff Fabb ao fundo

Fora isso tudo, e em conformidade com os espetáculos desses tempos estranhos, o show abre com jato de fumaça e papel picado, o que se repete durante a noite, tem bolas de plástico quicando sobre as cabeças da plateia e tem um roadie com um megafone para fazer as vezes de vocalista em “Suicide Messiah”. E não se pode passar batido por “Overlord”, outra das clássicas, tocada no início já com ótima perfomance de Zakk Wilde, e ainda como bônus ótimas viradas de bateria do matusquela Jeff Fabb, marcando ainda mais a consagrada mudança de andamento da singela canção. No frigir dos ovos, a sensação que fica é que, se o BLS já é o que é com um guitarrista insinuante e agressivo, imagine com dois. É o que se materializa nesta noite de puríssimo rock pesado.

Set list completo

1- Funeral Bell
2- Destroy & Conquer
3- Overlord
4- Heart of Darkness
5- A Love Unreal
6- You Made Me Want to Live
7- The Blessed Hellride
8- Spoke in Theo Wheel
9- In This River
10- Trampled Down Below
11- Set You Free
12- Fire It Up
13- Suicide Messiah
14- Stillborn

Bandeira: o momento em que Zakk Wylde troca as guitarras pelo teclado para tocar duas músicas

Bandeira: o momento em que Zakk Wylde troca as guitarras pelo teclado para tocar duas músicas

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