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Nightwish reencontra público no início da turnê brasileira e consolida a formação atual com estonteante desempenho de Floor Jansen. Fotos: Daniel Croce.

A vocalista do Nightwish, Floor Jansen, símbolo da consolidação da formação atual da banda

A vocalista do Nightwish, Floor Jansen, símbolo da consolidação da formação atual da banda

O show ainda está só começando, mas é impossível não perceber que se trata, antes de qualquer análise, de um reencontro como nunca se deu antes na história desse tal de rock n’roll e suas múltiplas ramificações. Tanto que a vocalista, ainda no embalo do começo, antes da terceira música, não se contém e atesta que a pandemia foi mandada para os quintos dos infernos, o que inclusive adiou um sem números de vezes a vinda da banda ao Brasil, enfim, reestabelecida agora de maneira grandiosa. E com novidades, em um mundo cada vez mais desvendado. E com surpresas. E com uma apresentação daqueles de anotar no caderninho. É assim que Floor Jansen, à frente do Nightwish, inicia a reprogramada turnê brasileira, ontem (13/10), no Rio, em um Vivo Rio com gente vazando pelo ladrão.

A tal terceira música é “Tribal”, cujo título se traduz por si só, mas que apresenta uma das interessantes novidades da noite, ao mostrar uma banda menos sinfônica e com mais groove, percussões e efeitos que intercedem com o world metal de Sepultura a adjacências. Contribuem muito o baterista mão pesada Kai Hahto e o faz tudo Troy Donockley. Outra relativa surpresa é a reinclusão de “She Is My Sin” nessa turnê, que a bem da verdade já vinha sendo tocada, mas é sempre omitida em apresentações de festivais, e não tinha presença garantida. A música, um dos primeiros hit-singles com o sotaque pop que seria evidenciado mais tarde em “Nemo”, sucesso que projetou o Nightwish em nível global, é uma delícia e aparece com uma interpretação exemplar de Floor.

O tecladista Tuomas Holopainen, chefão da banda, enfim parece bem à vontade com a fase atual

O tecladista Tuomas Holopainen, chefão da banda, enfim parece bem à vontade com a fase atual

Porque, em se tratando de cantar as músicas da fase clássica da banda – e são sete no total -, ela encontra a voz o mais próximo da de Tarja Turunen, ao mesmo tempo que, difícil de explicar, coloca certa identidade com um carisma sem par. O que lhe afasta a pecha de cover (como se coubesse), fato reforçado pela interpretação para as músicas compostas para ela cantar, e já são dois álbuns, com outas sete músicas inseridas no set. Nesse rol, são vários os destaques, a escolher: “Élan”, outra composição rara da banda; a versatilidade ampla em “Shoemaker”; ou a incrível precisão da grandiosa “The Greatest Show on Earth”. Em “I Want My Tears Back”, ela se converte em alegre e feliz espécie de dançarina de porão do “Titanic”. E – aí nem é novidade – mostra que é do ramo, não caiu no metal de paraquedas, sacode a cabeleira, ergue punhos, faz o “moloch” com propriedade.

Ainda que seja um apanhado de uma carreira que já dura mais de 25 anos e com muita história construída pelo caminho, o show tem um quê de temático, reforçado pelas duas peças posicionadas no desfecho. “Ghost Love Score”, a mais bela suíte já composta pelo genial tecladista Tuomas Holopainen, desfila seus 10 minutos de pura fusão da música erudita com o metal, mas com um poder de grude extraordinário, ainda que tenha as idas e vindas típicas do formato. E “The Greatest Show on Earth”, se não tem tal primor enquanto composição, do primeiro álbum com Floor, reforça o jeito Nightwish de ser, e ajuda a manter a banda como referência em um subgênero do metal que ela própria – entenda-se Tuomas – moldou. A música presta sutil homenagem ao líder do Children Of Bodom, Alexi Laiho, falecido em 2020.

O guitarrista Empu Vuorinen, o multi-instrumentista Troy Donockley e o baixista Jukka Koskinen

O guitarrista Empu Vuorinen, o multi-instrumentista Troy Donockley e o baixista Jukka Koskinen

O show tem ainda homenagens à Cidade Maravilhosa, com imagens dos Cristo Redentor e do Museu de Arte Contemporânea de Oscar Niemeyer exibidas no telão; relevante participação do homem instrumento Troy Donockley, e ainda sua própria omissão, quando o arranjo da música não lhe convém; Floor Jansen - ela de novo! - forçando brilhantemente a voz em tudo o que é desfecho de música; a beleza estonteante da insuperável “Sleeping Sun”; a ausência de “Wish I Had an Angel”, grande sucesso que marcou a passagem do baixista simpaticão Marco Hietala; e (ufa!) uma dispensável, mas bonita mesmo assim, passagem acústica com “How’s the Heart?”, outra das mais recentes.

O retrato da fase atual do Nightwish, por fim, é que Tuomas Holopainen tanto fez que hoje ocupa local de destaque no palco, no centro, no alto, escanteando a bateria para um lado e Donockley para outro. Com essa formação, apenas com o aparentemente cansadinho, mas ainda eficaz Empu Vuorinen na guitarra, da turma original, ele parece satisfeito e ciente de que, por ora, essa é a melhor banda que ele pode ter. Uma bandaça – diga-se de passagem - completada pelo baixista Jukka Koskinen, e que deixa pra trás de vez a fase do arrebento do Nightwish, com Tarja Turunen nos vocais. Mas ele também parece saber (aprendeu?) se resignar ante a exuberância da talentosa Floor Jansen. No momento, é isso o que realmente importa.

A interação entre Tuomas Holopainen e Empu Vuorinen, únicos remanescentes da formação original

A interação entre Tuomas Holopainen e Empu Vuorinen, únicos remanescentes da formação original

Set list completo

1- Noise
2- Planet Hell
3- Tribal
4- Élan
5- Storytime
6- She Is My Sin
7- Sleeping Sun
8- 7 Days to the Wolves
9- Dark Chest of Wonders
10- I Want My Tears Back
11- Ever Dream
12- Nemo
13- Shoemaker
14- How’s the Heart?
15- Last Ride of the Day
16- Ghost Love Score
17- The Greatest Show on Earth

Floor Jansen e Empu Vuorinen 'atacam' o público na beirada do palco durante o show do Nightwish

Floor Jansen e Empu Vuorinen 'atacam' o público na beirada do palco durante o show do Nightwish

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