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Espetáculo frívolo

Gincana interativa do Green Day é o entretenimento que o público quer no Rock In Rio. Foto: Jonatan Weiner/Divugação.

greendayrir22No começo, a noite promete. Uma banda ensaiadinha que entra no palco mandado logo três petardos sem tirar, uma música emendada na outra, sem dar tempo de qualquer reação por parte da plateia que não seja se jogar, se acabar como se não houvesse sequer o minuto seguinte. Mas a tal trinca, que pela força das canções seguraria sozinha um começo extraordinário, sucumbe à verdadeira obsessão do líder da banda, que deseja a qualquer custo que todos “vão a loucura”, convertendo o que deveria ser um show de rock em um espetáculo de entretenimento interativo pueril. É o Green Day, liderado pelo fanfarrão Billy Joe Armstrong, estragando a sequência “American Idiot” + “Holiday” + “Know Your Enemy” com precoces gritos de “eô eô” e “Viva Brasil” e ainda chamando fã para cantar no palco do Rock In Rio, nesta sexta (9/9). Tudo isso com menos de 10 minutos de show.

Uma polaroid do que aconteceria sem parar nas quase duas horas de bola mal jogada. Tem o cafona pedido de casamento no palco; tem fã que sai da grade pra tocar guitarra junto com a banda; tem Billy Joe carente e sem noção insistindo/exigindo retorno do público; tem cover de banda de classic rock tocada no deboche; tem chuva de papel picado; tem citação de riffs de guitarra consagrados pela história e muito mais. Parece que, em algum momento da carreira, Billy Joe encheu o saco de tudo que envolve o show business e a postura profissional dessa ou daquela banda, incluindo Green Day, e decidiu chutar o balde de uma vez só, deixando de levar a sério tudo que acontece no seu entorno, incluindo a performance da banda e dele próprio, em nome - sabe-se lá – da diversão. Converte-se, assim, em espécie de “bobo da corte de si próprio” sem o menor constrangimento.

Porque, a bem da verdade, o público, um dos que mais lotou os arredores do Palco Mundo nesta edição do festival, adora. Parece que tudo que ele quer é justamente esse tipo de fanfarronice, que lhe parece atrativa e faz de Billy Joe mais “gente boa” do que os demais ícones do rock disponíveis no mercado. E, também, porque fornece uma certa sensação inclusiva de participação no show que causa algum conforto emocional, em uma época em que só assistir, cantar, pular e dançar parece não bastar; é preciso filmar, subir no palco, tocar com a banda, obedecer a cada ordem daquele lá em cima. De certo modo, o Green Day – o show da banda é assim há tempos, e já foi até pior – entendeu essa nova condição e é pioneiro na interatividade pueril desses tempos tão estranhos em que se renuncia ao show de rock em nome – repita-se - da fanfarronice pueril.

Mas, e o show? E as músicas? Basicamente trata-se de um show de classic rock da banda, com ênfase no álbum “American Idiot”, de 2004, disparado o de maior sucesso deles, e que rompeu as barreiras do revival punk noventista, o tal do poppy punk (emo é o escambau!), da qual a banda é um dos grandes representantes. Para se ter uma ideia, a música de composição mais recente apresentada nesse show tem cerca de 13 anos. Uma pena, porque, quando desce do palco, o Green Day trabalha duro e sério, com lançamentos relevantes – como o álbum triplo, mas separado “¡Uno!”, “¡Dos!” e “¡Tré!”, de 2012, ou o bom “Revolution Radio”, de 2016 -, mas solenemente ignorados em cerca de uma hora de 40 minutos de show; tempo este que já foi maior em outras eras.

Ressalte-se que o trio que ganhou o mundo com “Basket Case” em 1994, ainda adorada, hoje é um sexteto que tem, além de Billy Joe, o baixista Mike Dirnt e o baterista Tré Cool (tocando muito, com incrível facilidade), os músicos de apoio Jason Freese, Jason White e Kevin Preston, que tocam de tudo um pouco, incluindo teclado e até um saxofone; usado na zoação ao citar uma canção e George Michael, claro. E que, a despeito do espetáculo apelativo, eles tocam muito e muito bem, e – ainda tem mais essa - com tanta gente no palco preocupada em tocar, Billy Joe fica soltinho para aprontar suas patacoadas de entretenimento interativo.

Entre tantas músicas legais e sempre com grande apoio do público, vale salientar ainda a melódica “21 Guns”, com violões e tudo; a ótima e por vezes subestimada “Minority”, com direito à harmônica de Billy Joe; “Rock and Roll All Nite”, do Kiss, a tal banda de classic rock citada ali em cima, em espécie de homenagem e deboche simultâneos; “Wake Me Up When September Ends”, uma das poucas tocadas om seriedade, em que pese o meme eterno criado em torno dela; e a sempre cativante “Welcome to Paradise”. Ou seja, mesmo com tanta coisa mais recente boa de fora, o repertório sobra. O que falta é um pouco de noção do ridículo, mas, se funciona assim tão bem diante das massas, que siga o jogo!

Set list completo:

1- American Idiot
2- Holiday
3- Know Your Enemy
4- Boulevard of Broken Dreams
5- Longview
6- Welcome to Paradise
7- Hitchin’ a Ride
8- Rock and Roll All Nite
9- Brain Stew
10- St. Jimmy
11- When I Come Around
12- Waiting
13- 21 Guns
14- Minority
15- Knowledge
16- Basket Case
17- King for a Day
19- Shout
20- Wake Me Up When September Ends
21- Jesus of Suburbia
22- Good Riddance (Time of Your Life)

Nota: a banda impediu a atuação dos fotógrafos do festival e da imprensa brasileira

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