Protagonista
No Popload Festival, Jack White mantém liderança à frente do Raconteurs em show calcado no rock de raiz e que tem a imposição da guitarra como principal marca. Fotos Divulgação Popload Festival: Fabrício Vianna (1, 2 e 3) e Filipa Aurelio (4).
Não que a banda, de carreira sem sequência – três álbuns em 14 anos - e interrompida justamente por conta das tarefas de White em outros projetos, prioritários, não tenha lá sua unidade. Mas, na maior parte do tempo, tem-se a impressão que os músicos estão lá justamente para sustentar o talento dele. Em “You Don’t Understand Me”, para se ter uma ideia, é Jack White quem inicia e permanece nos teclados, a despeito de Dean Fertita, do Queens Of The Stone Age, ser o titular do posto nas turnês. Na parte final, ele, no melhor estilo The Edge de camisa xadrez em “New Year’s Day”, implementa belíssima transição para a guitarra, no que sabe fazer de melhor, com Brendan Benson em ótima dobra vocal.
A música, de batida cadenciada, se junta a meio country “Old Enough” na função de dar um refresco após um começo no gás, no qual o Raconteurs se impõe com a relevância do rock nesses tempos estranhos. “Bored and Razed”, espécie de hit do disco novo, “Help Us Stranger”, que saiu em junho, agrada geral, apesar dos ajustes do equipamento ainda não terem sido concluídos, e o cantarolar produzido por “Level”, mais pesada ao vivo por conta do riff e do diálogo entre as duas guitarras, que cresce muito no final, é verdadeiro sopro de ar fresco. Com a produção bissexta da banda, o repertório é todo puxado do disco novo, com uma coisa aqui outra acolá dos dois anteriores, “Broken Boy Soldiers” (2006) e “Consolers of the Lonely” (2008).Registre-se que, a despeito do protagonismo de Jack White, Benson, de carreia solo longeva, é quem assina com ele quase todas as músicas e, no palco, divide os vocais muito bem em várias ocasiões. É o que dá ao show um interessante contraponto aos efeitos saturados que quase sempre White usa no gogó em qualquer uma de suas bandas. Se nota, por exemplo, em “Only Child”, que dada a cantoria, parece ser uma das recentes preferidas do público. Colada nela, “Broken Boy Soldier”, iniciada por um curto solo do baterista Patrick Keeler, é puro delírio instrumental, com a guitarra rock de origem no blues levada a boas consequências e revezamento de riffs e solos a torto e a direito. O que resulta numa vibe noise de fazer inveja a bandas como Sonic Youth, em outro bom momento de interatividade com o público.
No fundo, no fundo, o traço comum a todos os projetos de Jack White sobressai também aqui: a busca da inspiração no rock de raiz para, antropofagicamente, criar sua maneira também simples, mas contemporânea, de tocar. Daí se encontrar volta e meia referências ao classic rock – e o Led Zeppelin segue sendo a principal delas -, só que de um modo diferente, seja em riffs, solos ou em parceria meio que no improviso, com Brendan Benson. Que o diga “Sunday Driver”, uma das faixas do disco novo que mais se modificam ao vivo – e já é ótima composição – ao fazer par com “Help Me Stranger”, e dá-lhe público marcando o ritmo com palmas como resposta. A horinha de show é arrematada com o hit “Steady, as She Goes”, e aí a turba vem abaixo de vez, entre solos e mais solos de Jack White, interlúdios para a cantoria ecoar forte, e aquela sensação de que o Raconteurs precisa voltar para um show só dele.Set list completo:
1- Bored and Razed
2- Level
3- Old Enough
4- You Don’t Understand Me
5- Don’t Bother Me
6- Only Child
7- Broken Boy Soldier
8- Now That You’re Gone
9- Sunday Driver
10- Help Me Stranger
11- Somedays (I Don’t Feel Like Trying)
12- Steady, as She Goes
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