O Homem Baile

Um pouco exagerado

Excessos e malabarismos vocais não comprometem a boa apresentação do Panic! At The Disco no Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio/I Hate Flash: Helena Yoshioka.

O vocalista do Panic! At The Disco, Brendon Urie, dono da coisa toda, em trajes dourados

O vocalista do Panic! At The Disco, Brendon Urie, dono da coisa toda, em trajes dourados

Um piano colocado ao lado esquerdo do palco, no alto, é pouca vezes usado em mais de uma hora de show porque existe um objetivo dos mais nobres para ele estar ali, à disposição do vocalista da banda de um homem só, mas que tem farta companhia. Na momento definido, já na reta final dos trabalhos, ele se ajeita no banquinho para o grande momento, onde, além de tocar, poderá exercer, enfim, na hora certa, seus belos dotes vocais. É um cover, mas, como a execução é caprichada, segundo consta, é aprovada pela banda que compôs e gravou a música, e isso faz toda a diferença para uma multidão de fãs que, depois de uma cinebiografia, ama as duas. É assim que o Panic! At The Disco toca “Bohemiam Rhapsody”, do Queen, no Palco Mundo do Rock In Rio, na quinta (3/10).

Acrescenta-se que nem mesmo o Queen, com Freddie Mercury, Paul Rodgers ou Adam Lambert, fazia essa música com todos os instrumentos e vocalizações ao vivo, e que é somente nela que Brendon Urie consegue colocar sua voz, de gap variado e longo alcance, com perfeição, sem os exageros que acontecem durante todo o show. Ele é o único remanescente da formação original do Panic! At The Disco, e atualmente é o dono de uma banda de um homem só que tem músicos contratados a reboque para as turnês, sendo essa a que traz o álbum “Pray For The Wicked”, que saiu no ano passado, debaixo do braço. Mesmo assim o repertório de 19 músicas, coisa rara para banda não headliner em um festival, é centrado nele e nos dois discos anteriores, “Death of a Bachelor” (2016) e “Too Weird to Live, Too Rare to Die!” (2013).

O guitarrista Kenneth Harris, um dos integrantes que fazem parte da formação de turnê da banda

O guitarrista Kenneth Harris, um dos integrantes que fazem parte da formação de turnê da banda

De início, a paisagem do palco já revela excessos que se identificam com uma banda de cabaré ou cassino – eles são de Las Vegas -, e não só pelo traje dourado de Urie. Há naipe de metais e de cordas e luzes branco-amareladas apontadas para o público. Um aparato um tanto quanto desnecessário, a menos que se trate de localizações específicas da música pop, caso de Nile Rodgers, que tocou antes no mesmo palco (veja como foi) ou de superbandas de blues e assim por diante. Tanto que quase sempre as melhores performances acontecem quando tem-se a formação mais enxuta no palco, caso de “Girls/Girls/Boys”, um rock básico de contagiante batida. É também uma das que Brendo Urie canta quase sem os malabarismos vocais que marcam o show; e o público a bem da verdade adora.

É comum a vibração quando ele solta algumas notas mais altas, só que, na maior parte do tempo, parece desnecessário, apenas um exercício de exibicionismo que sequer cabe na canção propriamente dita, além de ser chato à beça. Mas o artificio é apenas um senão em um show bem bolado dentro de um conceito que a banda carrega, e que tem muitas músicas boas que crescem ao serem tocadas ao vivo. “Ready to Go (Get Me Out of My Mind)”, de melodia colante e com um cantarolar de fábrica é uma delas, ao fazer o púbico participar fortemente do refrão/verso título. Outra é “This Is Gospel”, com Brendon assumindo uma segunda guitarra e um arremate instrumental da pesada, que agrada bastante ao público.

Nicole Row, a baixista que acompanha o Panic! At The Disco desde o ano passado e contribui com vocais

Nicole Row, a baixista que acompanha o Panic! At The Disco desde o ano passado e contribui com vocais

Entre as novas, vale ressaltar “Dancing’s Not a Crime”, uma das poucas em que o famigerado falsete lhe cai bem; “Hey Look Ma, I Made It”, de sotaque mais eletrônico, incluída de última hora; e a dobradinha final – não é comum fechar shows sem grandes hits – com “Say Amen (Saturday Night)”, que nem é essa coca-cola toda, mas tem certa crocância a partir de um trecho cantarolado, e “High Hopes”, com o púbico cantando verso por verso, na ponta da língua. O que aponta o Panic! At The Disco como um dos melhores shows de banda intermediária, por assim dizer, dessa edição do Rock In Rio, em uma bela estreia no festival - e também na cidade – da banda do garoto que, segundo ele próprio, “queria ser Anthony Kiedis quando era criança”.

Set list completo:

1- Victorious
2- (Fuck A) Silver Lining
3- Don’t Threaten Me With a Good Time
4- Ready to Go (Get Me Out of My Mind)
5- LA Devotee
6- Hey Look Ma, I Made It
7- Hallelujah
8- Crazy=Genius
9- The Ballad of Mona Lisa
10- Nine in the Afternoon
11- Girls/Girls/Boys
12- Dancing’s Not a Crime
13- This Is Gospel
14- Miss Jackson
15- I Write Sins Not Tragedies
16- Bohemian Rhapsody
17- Emperor’s New Clothes
18- Say Amen (Saturday Night)
19- High Hopes

O naipe de metais que agiganta o Panic! At The Disco nos palcos; as será realmente necessário?

O naipe de metais que agiganta o Panic! At The Disco nos palcos; mas será realmente necessário?

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