Sem sal
Apresentação chocha do Goo Goo Dolls no Rock In Rio só ajuda a reforçar a pecha de banda de uma música só. Fotos: Vinicius Pereira.
A tal canção só poderia ser mesmo “Iris”, que ficou famosa ao ser incluída na trilha sonora do filme “Cidade dos Anjos”, talvez ela, sim, a responsável por colocar o Goo Goo Dolls nesse desejado lugar. Tanto que a reação do público, contemplativo na maior arte do tempo, é imediata: tem cantoria, tem pula-pula, tem braços erguidos, tem palmas e o escambau. E tem até os integrantes se aproximando na passarela que divide o público ao meio, fato incomum até então. Porque, honra seja feita, Rzeznik não tem lá muito carisma, não se sente muito à vontade no palco, e canta na maior parte do tempo acabrunhado, colado ao microfone, como se seu desânimo fosse também o resultado da música que toca.
Takac, não. Com comportamento diametralmente oposto, o baixista já entra no palco correndo de lado a outro e pulando sem parar, mesmo quando os temas não pedem isso; parece girar em outra órbita. Em “Bringing on the Light”, iniciada por uma linha de teclado, tem a oportunidade de cantar sozinho e vibra com certeira incontinência verbal no meio da letra: “Puta merda, estou no Rio!”, o que também realça o inesperado da situação. Aí é Johnny Rzeznik que se solta, mas nada de parar o trânsito, porque, salvo exceções, as músicas também não ajudam. Poucas têm um andamento mais dançante, um riff marcante, um refrão colante ou outro atrativo comum à boas composições. Mesmo desconhecidas, músicas boas cativam; as ruins, não.Mas há, sim, exceções, e “Indestructible”, com uma levada macia e um cantarolar de fábrica, inserido na própria letra, é uma delas. A música é uma das duas do novo material da banda, que faz parte do álbum “Miracle Pill”, lançado no início de setembro, tocada no show. A segunda é a faixa-título, escorada em linha de teclado, mas que não repercute tanto ao vivo. Outras legais são “So Alive”, cujo verso/refrão chega fazer com que a plateia participe aos gritos de “hey!” e braços erguidos; “Stay With You”, na reta final, em que certa solidez instrumental aparece, ainda que não na música toda; e “Broadway”, que também contribui na concatenação do repertório para se chegar ao único desfecho possível para um show do Goo Goo Dolls.
“Essa eu aposto que vocês conhecem, então cantem junto!”, avisa Johnny Rzeznik com ares de triunfo, mas reconhecendo que, até então, a participação do público não tinha sido lá grande coisa. “Iris” é uma balada melosa, mas que jamais desenvolveu a parte mais pesada, como manda o manual das baladas, e seguramente caiu no gosto popular por causa do filme. Tanto que é reconhecida logo de cara e o público vem abaixo, cantando como se fosse a canção a preferida de todas as épocas. Um incauto que chegasse ali, de repente, cravaria estar diante do encerramento de um showzaço, dada o arrebatamento da plateia. E é aí que a guitarra de Fernquist brilha intensamente, mas, contudo, não salva o Goo Goo Dolls da fraca apresentação. Tampouco da pecha de banda de um hit só.Set list completo:
1- Big Machine
2- Slide
3- Indestructible
4- Here Is Gone
5- Black Balloon
6- So Alive
7- Miracle Pill
8- Name
9- Come to Me
10- Bringing on the Light
11- Stay With You
12- Better Days
13- Broadway
14- Iris
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