O Homem Baile

Sem sal

Apresentação chocha do Goo Goo Dolls no Rock In Rio só ajuda a reforçar a pecha de banda de uma música só. Fotos: Vinicius Pereira.

O vocalista e guitarrista Johnny Rzeznik interage com o público com o violão pendurado à tiracolo

O vocalista e guitarrista Johnny Rzeznik interage com o público com o violão pendurado à tiracolo

Pela primeira vez, em quase uma hora de show, o guitarrista Brad Fernquist decide sair de lá de trás onde se escondia física e musicalmente para, então, e enfim, brilhar na frente do Palco Mundo, o mais vigiado de todos os tempos, no último domingo (29/9), no Rock In Rio. Em tese, estava mesmo cumprindo sua tarefa de acordo com o combinado, já que sequer aparece como integrante fixo do Goo Goo Dolls. Durante todo o show, o comando foi dado pelo vocalista e guitarrista Johnny Rzeznik e seus violões, com a apoio do amalucado baixista Robby Takac, ambos remanescentes da formação original. Mas, agora, e pela única vez, o brilho é coletivo, e tudo por causa e uma música, provavelmente a que os colocou nesse inusitado ambiente.

A tal canção só poderia ser mesmo “Iris”, que ficou famosa ao ser incluída na trilha sonora do filme “Cidade dos Anjos”, talvez ela, sim, a responsável por colocar o Goo Goo Dolls nesse desejado lugar. Tanto que a reação do público, contemplativo na maior arte do tempo, é imediata: tem cantoria, tem pula-pula, tem braços erguidos, tem palmas e o escambau. E tem até os integrantes se aproximando na passarela que divide o público ao meio, fato incomum até então. Porque, honra seja feita, Rzeznik não tem lá muito carisma, não se sente muito à vontade no palco, e canta na maior parte do tempo acabrunhado, colado ao microfone, como se seu desânimo fosse também o resultado da música que toca.

O guitarrista Brad Fernquist, que brilha no solo do grande sucesso do Goo Goo Dolls, no final do show

O guitarrista Brad Fernquist, que brilha no solo do grande sucesso do Goo Goo Dolls, no final do show

Takac, não. Com comportamento diametralmente oposto, o baixista já entra no palco correndo de lado a outro e pulando sem parar, mesmo quando os temas não pedem isso; parece girar em outra órbita. Em “Bringing on the Light”, iniciada por uma linha de teclado, tem a oportunidade de cantar sozinho e vibra com certeira incontinência verbal no meio da letra: “Puta merda, estou no Rio!”, o que também realça o inesperado da situação. Aí é Johnny Rzeznik que se solta, mas nada de parar o trânsito, porque, salvo exceções, as músicas também não ajudam. Poucas têm um andamento mais dançante, um riff marcante, um refrão colante ou outro atrativo comum à boas composições. Mesmo desconhecidas, músicas boas cativam; as ruins, não.

Mas há, sim, exceções, e “Indestructible”, com uma levada macia e um cantarolar de fábrica, inserido na própria letra, é uma delas. A música é uma das duas do novo material da banda, que faz parte do álbum “Miracle Pill”, lançado no início de setembro, tocada no show. A segunda é a faixa-título, escorada em linha de teclado, mas que não repercute tanto ao vivo. Outras legais são “So Alive”, cujo verso/refrão chega fazer com que a plateia participe aos gritos de “hey!” e braços erguidos; “Stay With You”, na reta final, em que certa solidez instrumental aparece, ainda que não na música toda; e “Broadway”, que também contribui na concatenação do repertório para se chegar ao único desfecho possível para um show do Goo Goo Dolls.

O amalucado baixista Robby Takac se movimenta o tempo todo e ainda canta em uma das músicas

O amalucado baixista Robby Takac se movimenta o tempo todo e ainda canta em uma das músicas

“Essa eu aposto que vocês conhecem, então cantem junto!”, avisa Johnny Rzeznik com ares de triunfo, mas reconhecendo que, até então, a participação do público não tinha sido lá grande coisa. “Iris” é uma balada melosa, mas que jamais desenvolveu a parte mais pesada, como manda o manual das baladas, e seguramente caiu no gosto popular por causa do filme. Tanto que é reconhecida logo de cara e o público vem abaixo, cantando como se fosse a canção a preferida de todas as épocas. Um incauto que chegasse ali, de repente, cravaria estar diante do encerramento de um showzaço, dada o arrebatamento da plateia. E é aí que a guitarra de Fernquist brilha intensamente, mas, contudo, não salva o Goo Goo Dolls da fraca apresentação. Tampouco da pecha de banda de um hit só.

Set list completo:

1- Big Machine
2- Slide
3- Indestructible
4- Here Is Gone
5- Black Balloon
6- So Alive
7- Miracle Pill
8- Name
9- Come to Me
10- Bringing on the Light
11- Stay With You
12- Better Days
13- Broadway
14- Iris

A seriedade do baterista do Goo Goo Dolls, Craig Macintyre, de pegada firme, mas bem discreta

A seriedade do baterista do Goo Goo Dolls, Craig Macintyre, de pegada firme, mas bem discreta

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