Se o dia e o horário não favorecem, o negócio é botar pra quebrar assim mesmo e valorizar aquele público valente que consegue chegar cedo, no início da tarde de sexta (5/4), no Autódromo de Interlagos. E mais: lá nos cafundós de um dos dois palcos mais distante do Lollapalooza. É mais ou menos nessa lógica que o Autoramas encerra uma apresentação de puro rock, com a dupla de frontman Gabriel Thomaz e Érika Martins descendo no meio da turma do gargarejo. E a cantoria rola solta em praticamente todas a músicas de um set curto, mas empolgante, com as músicas praticamente emendadas umas nas outras sem dar bola para o soalheira danada de uma e pouco da tarde.

Empolgação em termos, mesmo porque o público é bastante pequeno para uma banda com mais de 20 anos nas costas e com hits estourados em tudo o que é lugar por esse Brasilzão e reconhecimento até no exterior. A curadoria do Lolla enfim corrige um erro histórico e escala o quarteto na oitava edição, mas – e por isso mesmo – poderia ter sido mais generosa com os horários. Só que palco é palco, e mesmo com a passagem de som em cima da hora e equívocos no concatenamento do repertório – abrir com a lentinha “Paciência” não é boa opção para uma arena desse porte - o grupo vem com a corda toda e disposto a fazer bonito, e – mais anda – sem abrir mão do figurino predominantemente preto. Rock!

Mesmo com um público que parece conhecer tudo, são os clássicos os que têm maior participação, incluindo o maior deles, do tempo que a banda usufruía das benesses de uma gravadora grande, “Fale Mal de Mim”, e “Você Sabe”, uma pedrada extraordinária que – essa sim – abriria o show com muito mais vigor. O poder do riff de guitarra segue sendo a melhor forma de cativar o ouvinte com o impacto que o rock precisa ter. Resultado observado também em “Abstrai”, rara composição de Gabriel, na qual realça, dessa vez, o teclado pilotado por Erika, que, além de cantar ainda toca mini guitarra em algumas músicas, e agita pra caramba quando simplesmente não há o que fazer no palco. Em “Música de Amor” traz saudades com os falsetes dos tempos da Penélope.

Do disco novo, “Libido”, lançado no ano passado, talvez o menos relevante na carreia da banda, entram duas músicas. A boa “Sofas, Armchairs and Chairs”, dançante como o B-52’s e com letras em inglês, mas que em nada subtrai a interação com o público, e “Ding Dong” tentativa sem sucesso de reciclar a fórmula de “1,2,3,4”, dos tempos do Little Quail. O hit “1,2,3,4”, aliás, também é tocado, num modo Autoramas de ser, sem perder a força que tem a versão original. A lista de ausências não tem fim e inclui “Megalomania”, “Mundo Moderno” e “Carinha Triste”, mas não se pode reclamar quando o tempo é curto e o show é fechado em grande estilo com a ancestral e sempre irresistível “Catchy Chorus”. É o que explica a fissura da festa final no meio da turma que chegou cedo no Lolla.

Set list completo:

1- Paciência
2- Quando a Polícia Chegar
3- Sofas, Armchairs and Chairs
4- Abstrai
5- Ding Dong
6- Música de Amor
7- Você Sabe
8- 1,2,3,4
9- Fale Mal de Mim
10- Jogos Olímpicos
11- Catchy Chorus

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