O Homem Baile

Com validade

Espécie de Maroon 5 indie, The 1975 aproveita a popularidade no Lolla enquanto público não enjoa de suas músicas. Fotos Divulgação Lollapalooza: Thiago Almeida.

O vocalista do The 1975, Matty Healy, aponta para o público enquanto recebe o sol no rosto no Lolla

O vocalista do The 1975, Matty Healy, aponta para o público enquanto recebe o sol no rosto no Lolla

A imagem da fã presa à grade que separa o palco do público convém ao drama explicitado em uma das canções mais arrastadas da banda que ocupa um dos palcos secundários do Lollapalooza, na última sexta (5/4). Não deveria ser assim, já que é a alegria que move a dupla de dançarinas siamesas, e o próprio vocalista se arrisca em alguns passos, sem ter o mesmo sucesso, mas em sintonia com o um funk de branco que pode até ser dançante, mas não tem lá muita sustância. São os ingleses do 1975 suando a camisa com sol quente na cara no Palco Onix para fazer um bom púbico, para o horário, se acabar como se pista de dança aquele morro fosse.

Por razões óbvias os efeitos luminosos não emplacam, mas dá pra se ter uma ideia de como é o show do quarteto em um local fechado. O primeiro grande momento vem com “She’s American”, uma bela canção que se sustenta ainda mais pelos arranjos, onde até o bom guitarrista Adam Hann encaixa o instrumento em uma base funk das antigas – dos anos 1970, daí o nome da banda? – que não é de deixar ninguém de bobeira na pista. Ainda tem um refrão chicletudo que nem a inserção do saxofone destrói. Hann tem cara de ser o músico da banda, aquele que reúne tudo e tem a solução para finalizar cada música. Como poucos sabe implementar a típica guitarrinha funk e ainda pilota ao teclados cujos efeitos são indispensáveis ao som do grupo.

É dele o riff de “It’s Not Living (If It’s Not With You)”, um pop funk de respeito que se ancora no groove do baixista Ross MacDonald, outro que, de bobo, não tem nada. A música tem fácil apelo junto ao público e é uma das mais comemoradas. De certa forma o The 1975 é espécie de Maroon 5 indie, ao pescar referências na música negra americana para trotar sobre um pop dançante e, que, se não respeitar os limites do bom gosto, deságua em algo enjoado e descartável. O sinal mais claro dessa relação aparece em “The Sound”, já na parte final do show, calcada no funk eletrônico, que faz o público explodir em um alegre pula-pula. Essa guloseima nem o solo certinho de Adam Hann salva, mas o verso final segue ecoando na cabeça de cada um ali no Lolla.

Tem branco azedo no funk: Matty Healy canta e dança entre as duas dançarinas siamesas

Tem branco azedo no funk: Matty Healy canta e dança entre as duas dançarinas siamesas

O grupo prevê lançar um novo álbum esse ano, “Notes on a Conditional Form”, mas nada desse material é apresentado, o que parece não fazer diferença para a plateia, animadaça. Em compensação, sete das 13 músicas do show são de “A Brief Inquiry into Online Relationships”, que saiu em novembro. Incluindo “I Always Wanna Die (Sometimes)”, a tal que, numa vibe diferente do conjunto da obra do 1975, faz a imagem da mocinha que soluça na grade ser exibida pelos telões. E Matty Healy, o vocalista branco azedo entre dançarinas negras, se vira com um violão à tira colo, em um dramalhão daqueles, no momento “sou pop star simples, chateado e sedutor”. Se na música pop a última imagem é a que fica, guardemos então a felicidade do público em “Sex”, um encerramento na pressão total, com guitarra distorcida e tudo, e a mensagem no telão: o rock está morto. Será mesmo?

Set list completo:

1- Give Yourself a Try
2- TOOTIMETOOTIMETOOTIME
3- She’s American
4- Sincerity Is Scary
5- It’s Not Living (If It’s Not With You)
6- Robbers
7- I Like America & America Likes Me
8- Somebody Else
9- I Always Wanna Die (Sometimes)
10- Chocolate
11- Love It If We Made It
12- The Sound
13- Sex

O guitarrista Adam Hann, que também toca teclados e parece ser o músico principal no The 1975

O guitarrista Adam Hann, que também toca teclados e parece ser o músico principal no The 1975

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