Home Destaque

Fugaz

Apresentação ligeira, mas intensa do At The Drive In no Circo Voador é acerto de contas com a história. Fotos: Daniel Croce.

Frontman do bons, Cedric Bixler-Zavala gesticula para o público no show agitado do At The Drive In

Frontman do bons, Cedric Bixler-Zavala gesticula para o público no show agitado do At The Drive In

O show é curto, pulsante, deixa aquela sensação de inacabado e a banda, sem dizer adeus, sai de cena como se fulos da vida todos ali no palco estivessem. Eles voltam, contudo, e o vocalista improvisa um discurso que era para ser de agradecimento, mas se emociona e quase chora ao vivo, em pleno palco. Isso porque – ele diz – se trata do penúltimo show de uma turnê com a formação clássica, que só se reuniu há uns dois anos por que percebeu que “os fãs realmente gostavam do que eles faziam” antes da separação, lá pelos idos de 2001. O público se derrete em aplausos e o bis vem com “One Armed Scissor”, a música que falta para o At The Drive In colocar um ponto final em uma fugaz apresentação, neste sábado (17/11), no Circo Voador.

É de fato uma apresentação esperada há anos, ainda mais que a banda voltou com força total em 2015 e lançou um álbum de inéditas no ano passado, em meio a turnês ao redor do globo. O que leva Cedric Bixler-Zavala, o tal cantor emocionado, a se desculpar antes de “Metronome Arthritis”, sacada de um EP de 1999, só para ser uma ideia de como o histórico da banda foi vasculhado nessa horinha de show. Que, além de fazer espécie de acerto de contas com a história, reúne um público da cena noventista renascido das catacumbas do ostracismo rock’n’roll. E que agita um bocado, para desalento da parcela do tipo Queremos, vidrado em outras badalações. Pode não parecer, mas uma boa parte do que aconteceu com bandas daquela época partiu desses caras que estão ali, em cima do palco do Circo Voador e, na melhor vibe possível, tantos anos depois.

O canhotinho sagaz Omar Rodríguez-López tira sons de sua guitarra de um modo bem específico

O canhotinho sagaz Omar Rodríguez-López tira sons de sua guitarra de um modo bem específico

“Vocês têm um novo presidente, né?”, provoca Cedric antes de “Cosmonaut”. “Não se preocupe, temos um idiota também”, responde ele próprio com bom humor e, à sua maneira, propondo resistência. Provocador é o som do At The Drive In por si só, levando-se em conta que ele serviu, lá atrás, no final dos anos 1990, para influenciar uma nova geração de bandas que se via refém de subgêneros do rock como o hardcore, metal crossover e por aí vai. E dali veio o post hardcore, o emo, o art punk e outras desgraças, fora assimilações de tudo o que é lado no meio musical, alternativo sobretudo. Coisa que não deve passar pela cabeça de quem se estapeia sem parar no meio do salão, mas que, se está ali, tem noção do que acontece. E, mais do que em outras situações do punk, não há realmente futuro para um show de uma horinha só.

Mas com a intensidade que o tipo de som pede, e que logo finca as bases na guitarra quase minimalista de Omar Rodríguez-López, um canhotinho que consegue tirar um som de seu instrumento como poucos fazem. Na pulsante “Governed By Contagions”, uma das três novas, de condução tensa, ele aplica um belo anti-solo, por assim dizer, e em “Cosmonaut” costura texturas intrincadas, mas simples ao mesmo tempo. A peculiaridade do grupo se completa com andamentos propositadamente desordenados, como se, em alguns momentos, cada um pareça tocar uma música diferente, e na voz esganiçada/desafinada de Cedric, convertida em virtude, em que pese sua boa presença de palco, calcada em um semjeitismo que lhe é próprio e já evidenciada por essa plagas quando tocou com o Mars Volta no Tim Festival de 2004 e no SWU de 2010 (relembre).

O outro guitarrista, Keeley Davis, mais discreto, capricha nos vocais de apoio do At The Drive In

O outro guitarrista, Keeley Davis, mais discreto, capricha nos vocais de apoio do At The Drive In

Além da agitação ampla, geral e irrestrita, o público canta quase todas as músicas, inclusive as do álbum novo, “Inter Alia”, com o gogó afiado. Em “Invalid Litter Dept.”, a tradicional voz de locução explode em um refrão dos bons, e a escaleta na parte final é só um capricho de Cedric. “Enfilade” ganha uma boa introdução instrumental e realça ainda mais o minimalismo de Omar, e “Pattern Against User”, pesada, mas com melodia boa de cantar, detona a cantoria no refrão que faz o Circo estremecer. E “One Armed Scissor”, depois da fala emocionada de Cedric, aponta para um inacreditável encerramento precoce do show, o que desencadeia o dispêndio total de energia por parte da plateia. Foi rápido, mas que deu pra aproveitar, isso deu.

Set list completo:

1- Arcarsenal
2- Governed By Contagions
3- Lopsided
4- No Wolf Like the Present
5- Cosmonaut
6- Invalid Litter Dept.
7- Enfilade
8- Metronome Arthritis
9- Catacombs
10- Napoleon Solo
11- Pattern Against User
Bis
12- One Armed Scissor

Início do show e Cedric Bixler-Zavala já parte pra cima da multidão: apresentação rápida, mas intensa

Início do show e Cedric Bixler-Zavala já parte pra cima da multidão: apresentação rápida, mas intensa

Tags desse texto:

Comentário

Seja o primeiro a comentar!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado