Bola é Bola Mesmo

Ruim de doer

Terríveis peladas levam definições das oitavas de final para os pênaltis e consagram goleiros medianos. Fotos: Divulgação FIFA.

russia1-7-18Dois jogos, dois empates, dois gols cada e dois goleiros que saem consagrados. Um terceiro arqueiro, com o DNA da profissão, também faz das suas, mas não o suficiente para classificar sua seleção. A ausência do craque, da ambição do gol, da vontade de vencer, do futebol enfim. O resumo de duas terríveis peladas europeias que guardam para a disputa de pênaltis o único possível momento de emoção. Assim não é futebol.

Primeiro, o jogo que era para ser uma barbada entre Rússia e Espanha. Sim, mesmo com uma seleção formada por incorrigíveis armandinhos, os espanhóis eram francos favoritos. Mesmo sem treinador desde o início da Copa, quando Julen Lopetegui foi colocado na rua e assumiu Fernando Hierro, diretor de seleções, os espanhóis eram favoritos. Porque qualquer time da Espanha sempre será favorito ante a qualquer time da Rússia, ainda mais esse, ruim de doer.

Vejam o Uruguai. Tem um Excelente time o Uruguai? Não. Tem uma equipe repleta de craques o Uruguai? Absolutamente. É disparado o melhor time do Uruguai em Copas em todos os tempos? Longe disso. E o que fez o Uruguai diante da Rússia, na definição do primeiro lugar na fase de grupos? Partiu pra cima, definiu o jogo em 23 minutos e sapecou-lhe três a zero no total. É tão difícil assim?

Para a Espanha, é. Porque desses jogadores foi tirada a vontade de fazer o gol. Justamente o gol. E por gente que acredita que tocar bem a bola, ficar com bola nos pés é o mais importante. Porque, tocando de lado a outro, os adversários vão se desestabilizar física e emocionalmente e, cedo ou tarde, surge uma oportunidade para, muito a contragosto, fazer um gol. Uma bola na rede.

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Pois foi essa a teoria dos espanhóis. Pois assim também pensa o treinador alemão, Joachim Löw, que hoje vê a Copa pela TV. Ambos – Alemanha e Espanha -, honra seja feita, já venceram Copas assim, as duas últimas, em campanhas apenas medianas, nunca com desempenhos irretocáveis. Mas essa forma de jogo foi longe demais e – vamos e venhamos – é chata pra dedéu; e não é de hoje que se diz isso.

Assim, na pelada de ontem, trocaram os espanhóis, na mais abjeta das estatísticas, mais de mil passes, para lá e para cá, e nada de bola na rede. O gol deles, inclusive, saiu sem que a equipe finalizasse. Quando a Rússia empatou, aos 41 minutos, a Espanha ainda não havia chutado em gol. Nenhuma finalização, nem no gol, nem pra fora. Nem uminha só.

Não por acaso, os gols, o grande momento do futebol, só saiu meio que em querer. No da Espanha, dois zagueiros caem abraçados e a bola que veio de uma cobrança de falta bate acidentalmente na batata da perna do defensor e se perde no fundo das redes. O da Rússia nasce de um pênalti cometido pelo zagueiro Piquet, a quem chamam de craque, ao inadvertidamente erguer o braço na área para – vai saber - ver para que lado soprava o vento.

E o que fizeram os russos diante desse plano de jogo fenomenal bolado pelos sabichões espanhóis? Se desesperaram? Não. Ficaram abalados com o vai e vem de lado dos espanhóis? Nem um pouco. Perderam a cabeça e baixaram o pau? Não mesmo. Cientes de que são fracos, trataram de não tomar gol, trancaram o jogo ignorando a beleza do próprio futebol, empurram tudo para os pênaltis e, convertendo o inseguro goleiro Akinfeev em herói, curiosamente com a derradeira defesa com o pé, estão nas quartas de final da Copa 2018.

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Na outra partida, a coisa começa animada, com dois gols em menos de cinco minutos. Não dois golaços, fruto de grandes jogadas ou de arroubos de técnica de parte a parte. Na verdade, são tentos de pelada de várzea, em que a bola repica pra lá e pra cá até que alguém apareça e empurre a pelota para dentro.

No da Dinamarca, a jogada vem em de cobrança de lateral, o que aconteceria durante todo o jogo, e bola vai para as redes meio que sem querer, empurrada por Jorgensen. No da Croácia, a defesa adversária afasta a bola dentro da área com um chutão, ela repica das costas de outro defensor e sobra para o oportunista Mandzukic completar para as redes. Se lances assim já são esquisitos no Campeonato Brasileiro, imaginem em uma Copa do Mundo.

Parece até que, depois desses gols, feitos um a um minuto de jogo, e outro aos três, os jogadores, envergonhados, tiveram mais dificuldade de jogar bola. Porque nadica de nada aconteceu desde então. Da Dinamarca, que se classificou em jogo de compadres com a França e tem um time fraco, nada se espera mesmo. Mas a Croácia e sua geração de ouro, que triturou a Argentina na fase de grupos, poderia fazer muito mais.

Isso se jogadores como Rakitic e Modric não tivessem sumido do jogo. Este último só apareceu nos minutos finais do segundo tempo da prorrogação, ao enfiar uma bola para o atacante Rebic, que sofre pênalti. O próprio Modric tem a chance de se consagrar, vai lá e cobra, mas Schmeichel defende. Papai, goleiro consagrado no passado, na arquibancada, gostou.

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Como a jogo vai para os pênaltis, como que com a obrigação de salvar uma pelada daquelas do Aterro, Schmeichel, que já fazia boa partida, tem a chance de se consagrar de vez. Ocorre que o improvável herói é Subasic, o goleiro croata, que pegou três cobranças, incluindo uma do craque Eriksen, contra duas do dinamarquês; como batem mal esses jogadores. E Modric, vilão por um triz, foi lá e, dessa vez, converteu a cobrança. Assim é o futebol.

Agora, Rússia e Croácia devem fazer a partida de quartas de final das mais disputadas. Animada por ter chegado tão longe, e sem ter muito a perder, com o apoio da torcida, a Rússia pode jogar, o que não fez neste domingo. E a Croácia, com uma boa equipe, pode enfim repetir o desempenho de outra grande geração, de 1998, que foi às semis na França. Que assim seja.

Até a próxima que o caminho tá ficando aberto para o Brasil!

Resultados de 1-7-2018:
Espanha 1 (3) x 1 (4) Rússia
Croácia 1 (3) x 1 (2) Dinamarca

Top 64 jogos da Copa 2018:
1- França 4 x 3 Argentina
2- Portugal 3 x 3 Espanha
3- Alemanha 2 x 1 Suécia
4- Nigéria 1 x 2 Argentina
5- Argentina 0 x 3 Croácia
6- Uruguai 2 x 1 Portugal
7- Bélgica 5 x 2 Tunísia
8- Inglaterra 6 x 1 Panamá
9- Argentina 1 x 1 Islândia
10- Alemanha 0 x 1 México
11- Irã 1 x 1 Portugal
12- Polônia 0 x 3 Colômbia
13- Bélgica 3 x 0 Panamá
14- Colômbia 1 x 2 Japão
15- Sérvia 0 x 2 Brasil
16- Brasil 2 x 0 Costa Rica
17- Coréia do Sul 2 x 0 Alemanha
18- Japão 2 x 2 Senegal
19- Espanha 2 x 2 Marrocos
20- França 1 x 0 Peru
21- México 0 x 3 Suécia
22- Uruguai 3 x 0 Rússia
23- Tunísia 1 x 2 Inglaterra
24- Islândia 1 x 2 Croácia
25- Brasil 1 x 1 Suíça
26- França 2 x 1 Austrália
27- Rússia 5 x 0 Arábia Saudita
28- Rússia 3 x 1 Egito
29- Inglaterra 0 x 1 Bélgica
30- Austrália 0 x 2 Peru
31- Coréia do Sul 1 x 2 México
32- Suíça 2 x 2 Costa Rica
33- Nigéria 2 x 0 Islândia
34- Portugal 1 x 0 Marrocos
35- Dinamarca 1 x 1 Austrália
36- Sérvia 1 x 2 Suíça
37- Suécia 1 x 0 Coréia do Sul
38- Senegal 0 x 1 Colômbia
39- Costa Rica 0 x 1 Sérvia
40- Polônia 1 x 2 Senegal
41- Croácia 1 (3) x 1 (2) Dinamarca
42- Egito 0 x 1 Uruguai
43- Panamá 1 x 2 Tunísia
44- Uruguai 1 x 0 Arábia Saudita
45- Peru 0 x 1 Dinamarca
46- Irã 0 x 1 Espanha
47- Espanha 1 (3) x 1 (4) Rússia
48- Japão 0 x 1 Polônia
49- Croácia 2 x 0 Nigéria
50- Arábia Saudita 2 x 1 Egito
51- Marrocos 0 x 1 Irã
52- Dinamarca 0 x 0 França

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