Bola é Bola Mesmo

Nasce uma estrela

Nas despedidas de Messi e Cristiano Ronaldo, jovem Mbappé é quem brilha, ao lado do uruguaio Cavani. Fotos: Divulgação FIFA.

franca30-6-18Aos 10 minutos da primeira etapa um jovem de 19 anos recolhe a bola em sua própria intermediaria, arranca em alta velocidade e os adversários desandam a persegui-lo. Um deles é o volante eleito o melhor da Copa de 14 e mesmo em desabalada carreira, nada consegue. Outro, que chega pelo meio do caminho, e é facilmente ultrapassado, tenta fazer a falta, não consegue e, em uma passada a mais, não vê alternativa que não seja abalroá-lo dentro da própria área. E assim o árbitro aponta para a marca fatal.

Uma única jogada que já valeria o ingresso no jogaço entre França e Argentina, na abertura das oitavas de final, mas o garoto Mbappé tinha outras facetas para mostrar neste sábado de Copa do Mundo. No segundo tempo, quando o jogo estava empatado depois de uma improvável virada argentina, apareceu para fazer dois gols em menos de três minutos e finalizar o adversário.

O primeiro, simples, e, o segundo, fruto de uma bela jogada coletiva dos franceses, em que pese a frouxa marcação dos adversários. Se tivesse cobrado e convertido o penal – tarefa executada com precisão por Griezmann, um dos craques do time - seria ainda mais o cara do jogo do que foi. Não precisou disso nem ele e nem a partida em si, disparada a melhor dessa Copa da Rússia 2018.

Porque teve outros nuances esse quatro a três com duas viradas. Se desarrumada por um técnico Prof. Pardal, a Argentina jogava e tem também seus craques. Um deles, Di María, que jamais poderia frequentar o baco de reservas, isolado na entrada da área adversária – e aí são os franceses os desorganizados - sacou um tirambaço para as redes, decretando o empate ainda na primeira etapa, para levar incertezas para os vestiários.

Na volta, um chute Messi é desviado por Mercado, ao tentar o domínio de bola dentro da área, e, pronto, a Argentina vira e o jogo e renasce. Não até o lateral Pavard, de quem pouco se espera em uma equipe estrelada, acertar um trivelaço cheio de curvas no canto do goleiro Armani, dando início aos 10, 11 minutos que incluem os dois gols de Mbappé e liquidam a fatura.

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No apagar das luzes Messi, aquele que dizem que nada faz, coloca uma bola na cabeça de Aguero e este estufa as redes, mas aí já era tarde demais para outra reviravolta. E assim o ninja Mbappé, que nada tem de tartaruga, substituído no final do segundo tempo, registra a maior atuação individual nessa Copa de 2014, com sobras. Mais. Fez o que só o Rei Pelé tinha feito: marcar dois gols em uma Copa com menos de 20 anos.

Aquela França preguiçosa dessa e da outra Copa parece ter ficado na fase de grupos, e desencanta de forma sensacional. Não que, embora tradicional, a Argentina representasse tanto perigo assim, mas clássico é clássico, meus amigos, Ainda mais em Copa do Mundo. E derrotar qualquer Argentina que fosse, mesmo essa de Sampaoli, não é tarefa fácil, não. Imaginem se tivesse um empate no finalzinho, o que não seria uma prorrogação àquela altura…

Mas a França tem, também, suas mazelas. Mesmo com uma meia cancha consistente com Kante, o maior ladrão de bolas do mundo, Matuidi em grande forma e Pogba, e uma dupla de zaga consagrada com Varane Real Madrid e Umtiti Barcelona, tomou três incontestáveis bolas na rede. Di María faceiro e livre na entrada da área não dá, né? O que indica que não é esse bicho papão todo para o Brasil, em uma eventual semifinal. Mas que tá vivinha da Silva, isso tá.

E a Argentina, que mal consegue chegar a essa fase – o herói Rojo se converte em vilão ao derrubar Mbappé -, tem como marca a bagunça e os questionamentos sobre um Messi de recorrente cabeça baixa. De novo, ficou para a próxima Copa, Preá. Ou, por outra, a Copa de Messi foi mesmo a de 2014, quando, como vice campeão com a Argentina, foi eleito o melhor daquele mundial.

Logo aos seis minutos da outra partida, um dos dois atacantes celestes recolhe a bola ainda no meio do campo, do lado direito, e inverte a jogada, colocando a pelota no peito do outro, em um passe certeiro de mais de 50 metros. Este amortece e cruza de volta, dentro da área, encontrando justamente o parceiro que lhe dera a bola, que mete os cornos nela, mandando para o fundo das redes, em um dos gols mais incríveis de que se tem notícia.

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Incrível é a dupla Cavani e Suárez, que, assim, leva o Uruguai às quartas de final, deixando para trás não só Portugal, mas o melhor jogador do mundo, Cristiano Ronaldo. O gajo bem que tentou, sozinho como sempre e até incentivando os companheiros, mas mesmo ele tem seus limites, ainda mais em uma Copa do Mundo.

O Uruguai parece que não. E dessa vez, não é só um ataque fatal e uma defesa sólida – com Godin e Giménez na zaga -, como tem acontecido nos últimos anos. Há time no meio também, encontrado por um incansável Oscar Tabárez de três Copas do Mundo, incluindo uma, a de 2010, em que o Uruguai ficou em quarto lugar e teve Diego Furlán eleito o melhor daquele mundial.

E tem variações táticas o danado do Tabárez. E roda ao time o treinador, com responsabilidade, de acordo com cada adversário, como fez nas diferentes escalações da primeira fase, quando venceu os três jogos e não sofreu um gol sequer. Na de ontem, talvez a melhor delas, deixou os pesados Sanchéz e Cebola para segurar o resultado no segundo tempo, depois de Pepe empatar de cabeça para Portugal e Cavani fazer o gol da vitória.

Gol, não, golaço. Ou, por outra, um misto de gol típico do Uruguai com um golaço de Cavani. Porque a jogada nasce de uma botinada para cima do goleiro Muslera, que muitos chamam de lançamento, esbarra na cabeça do mesmo Pepe e sobra para o meia Bentancur. Este passa a bola para Cavani, que, livre de marcação, dá uma tacada de sinuca sensacional no canto do goleiro Rui Patrício.

Sai de campo sentindo uma fisgada o elegante Cavani, e preocupa para o duelo contra a França, na primeira das quartas de final a ser formada. Um jogo que, no papel, é da França - ainda mais essa França desperta, viva – disparado. Mas que não se duvide da capacidade de superação dos uruguaios, um povo que, por vocação, parece que nasceu para guerrear, lutar.

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Uma primeira rodada de oitavas de final sensacional que deixa, contudo, duas baixas, as saídas de Messi e Cristiano Ronaldo, donos de 10 Bolas de Ouro nos últimos 10 anos. O que deixa vaga a cadeira de melhor dessa Copa da Rússia de 2018. E deixa também uma certeza enciclopédica. Quem decide é o craque; é o craque que decide.

Até a próxima que agora a copa engrenou de vez!

Resultados de 30-6-2018:
França 4 x 3 Argentina
Uruguai 2 x 1 Portugal

Top 64 jogos da Copa 2018:
1- França 4 x 3 Argentina
2- Portugal 3 x 3 Espanha
3- Alemanha 2 x 1 Suécia
4- Nigéria 1 x 2 Argentina
5- Argentina 0 x 3 Croácia
6- Uruguai 2 x 1 Portugal
7- Bélgica 5 x 2 Tunísia
8- Inglaterra 6 x 1 Panamá
9- Argentina 1 x 1 Islândia
10- Alemanha 0 x 1 México
11- Irã 1 x 1 Portugal
12- Polônia 0 x 3 Colômbia
13- Bélgica 3 x 0 Panamá
14- Colômbia 1 x 2 Japão
15- Sérvia 0 x 2 Brasil
16- Brasil 2 x 0 Costa Rica
17- Coréia do Sul 2 x 0 Alemanha
18- Japão 2 x 2 Senegal
19- Espanha 2 x 2 Marrocos
20- França 1 x 0 Peru
21- México 0 x 3 Suécia
22- Uruguai 3 x 0 Rússia
23- Tunísia 1 x 2 Inglaterra
24- Islândia 1 x 2 Croácia
25- Brasil 1 x 1 Suíça
26- França 2 x 1 Austrália
27- Rússia 5 x 0 Arábia Saudita
28- Rússia 3 x 1 Egito
29- Inglaterra 0 x 1 Bélgica
30- Austrália 0 x 2 Peru
31- Coréia do Sul 1 x 2 México
32- Suíça 2 x 2 Costa Rica
33- Nigéria 2 x 0 Islândia
34- Portugal 1 x 0 Marrocos
35- Dinamarca 1 x 1 Austrália
36- Sérvia 1 x 2 Suíça
37- Suécia 1 x 0 Coréia do Sul
38- Senegal 0 x 1 Colômbia
39- Costa Rica 0 x 1 Sérvia
40- Polônia 1 x 2 Senegal
41- Egito 0 x 1 Uruguai
42- Panamá 1 x 2 Tunísia
43- Uruguai 1 x 0 Arábia Saudita
44- Peru 0 x 1 Dinamarca
45- Irã 0 x 1 Espanha
46- Japão 0 x 1 Polônia
47- Croácia 2 x 0 Nigéria
48- Arábia Saudita 2 x 1 Egito
49- Marrocos 0 x 1 Irã
50- Dinamarca 0 x 0 França

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