Bola é Bola Mesmo

Dia de herói

Em pouco mais de uma hora, desconhecido sai do banco de reservas, marca duas vezes e faz da anfitriã Rússia favorita do grupo. Foto Divulgação FIFA.com: Kevin C. Cox/Getty Images.

cherychev14-6-18Aos 23 minutos do primeiro tempo, a fatalidade. Dzagoev, jogador da Rússia, sofre uma contusão muscular e é obrigado a deixar o campo. Em seu lugar, entra Denis Cheryshev, camisa número seis. Em sua primeira jogada, protagoniza um lance de pelada dentro da área da seleção da Arábia Saudita ao tentar um drible a mais, em vez de cruzar, e a bola sai. Sorriso amarelo, faz cara de desfeita com ele próprio. Acabou o campo, avisa o narrador.

Mas não o jogo, que segue e, no lance seguinte, ele recebe na área, aplica dois dribles enrolados nos saudistas e coloca a bola nas redes. É o segundo gol dos russos, que ratifica que o primeiro não foi ao acaso, aos 42 de bola rolando. No segundo tempo, já nos acréscimos, depois de uma bola longa da defesa, o mesmo Cherychev mete uma rosca de média distância, meio sem jeitão e faz um golaço, em que pese a fragilidade quase amadora do goleiro Abdullah e seus menos de um metro e oitenta de altura.

Até os 23 de jogo, Cheryshev, desconhecido até na Rússia, já que se mudou cedo, ainda criança para a Espanha, com a família, onde tem carreira discreta, era reles espectador do banco de reservas. Banco de uma seleção desacreditada, sem vencer há cerca de oito meses e com sérias dúvidas ante a uma classificação em um grupo com Arábia Saudita, Egito e Uruguai. Pouco mais de uma hora depois sai como o herói da partida, o cara do jogo, eleito pela FIFA, e a Rússia, com ótimo saldo de gols, favorita a se classificar em primeiro e a brilhar ainda mais na Copa que organiza. Assim é o futebol.

Os russos anotaram cinco gols no total, mantendo a tradição de que o anfitrião não perde em jogo de estreia, e firmando o nome na história como a maior goleada em um jogo de abertura, segundo consta, desde 1954. Cinco a zero. Não que tenha um timaço ou tenha deitado e rolado contra os sauditas, mas, vamos e venhamos, quando a bola rola em uma Copa do Mundo, em jogo com estádio lotado e torcida a favor, a história é outra. Que se dane o retrospecto recente.

E os sauditas, além de não jogarem nada, têm porte físico acanhado e são ingênuos toda vida, mal sabem marcar. Treinados por um desses técnicos – e ainda tem mais essa - que gostam de tocar a bola (o argentino Pizzi, que não classificou o Chile para a Copa), praticamente deixaram os russos livres para jogar. E o que fizeram os russos? Jogaram? Não, na maior parte do tempo meteram bola longa diretamente ao ataque, onde o corpanzil virou arma para vencer a falta de noção dos defensores sauditas, e pimba, bola na rede. Foi mais ou menos assim o segundo gol de Cheryshev. Dos árabes, nenhum chute no gol em toda a partida; três pra fora.

E com um brasileiro na lateral direita, o desertor Mario Fernandes, naturalizado russo, apareciam, sobretudo na primeira etapa, a jogadas de fundo que faziam a bola chegar na área da defesa saudita, em outra arma fatal. Sauditas que, num esforço de memória, consagraram, com essa mesma fragilidade de hoje, Miroslav Klose, notório cabeça de bagre, na copa de 2002. Ali, Klose fez três na goleada de oito a zero e arrancou para se tornar, em 2014, por incrível que pareça, o maior goleador de todas as copas. Assim é o futebol.

Como Egito e Uruguai, que jogam hoje pelo mesmo grupo A, e nenhum deles deve golear o outro de cinco a zero, a Rússia terminará a primeira rodada como líder do grupo e, pelo saldo, dificilmente não se classificará para a segunda fase. E a Arábia de Pizzi será o fiel da balança: que lhe sapecar a maior goleada, vencerá os demais em um eventual critério de desempate para se classificar.

A festa de abertura, sem Pelé, teve Ronaldo Fenômeno representando os jogadores de todas as épocas e Maradona no banco de reservas. Teve o cantor britânico Robin Williams marrento que só ele e a soprano russa Aida Garifullina, e teve trilha sonora de AC/DC e White Stripes com o já tradicional grito de torcida criado a partir do riff de guitarra de “Seven Nation Army”. Assim são os europeus.

Até a próxima que hoje é dia de Sergio Ramos marcar Cristiano Ronaldo!

Resultado de 14/6/2018:
Rússia 5 x 0 Arábia Saudita

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