Oásis heavy metal
Com ênfase nas músicas do novo álbum e flerte com a música erudita, Sepultura brilha como maior representante da música pesada no Rock In Rio. Fotos: Ariel Martini/I Hate Flash (1, 3 e 4) e Derek Mangabeira/I Hate Flash (2).
Tudo com o desafio de reproduzir, ao vivo, a sonoridade da intrincada produção que confere à “Machine Messiah” os ares de renovação muitas vezes difíceis de se encontrar na seara do metal. Como é a primeira vez que o Sepultura toca no Rio desde o lançamento do disco, em janeiro, o show ganha ainda mais o élan do ineditismo. A faixa-título, por exemplo, é executada pela primeira vez ao vivo, e olha que já rolaram extensas turnês pela Europa e Estados Unidos este ano. A música, precedida por um clima de tensão inerente a esse novo trabalho, realça a habilidade das guitarras de Andreas Kisser, inspirado na composição e com ótima pegada ao vivo. O som, alto e consistente como se fosse o último – e era! –, reforça a substância sonora desse renovado Sepultura.
O início do show é avassalador, com a duplinha “I Am the Enemy” e “Phantom Self”, realçando o fantástico trabalho dos violinos, em meio a um som pesado, tenso, cheio e por vezes veloz, sob o comando de Eloy Casagrande. Ex-promessa, o jovem baterista já está entre os melhores do Brasil e do mundo e impõe um ritmo alucinante para que os demais integrantes corram atrás. E eles correm, e os violinistas também, e o resultado é um explosivo choque de música erudita com metal difícil de ser ver na medida correta, ainda mais em uma apresentação ao vivo. “Phantom Self”, um dos primeiros singles do disco, recebe um arranjo extraordinário, e é um dos pontos altos da noite, quando faz o público se acabar em rodas de dança, umas intercedendo às outras, antes mesmo de um único clássico ser tocado.O público pode não ter se dado conta, mas, nessa turnê, pela primeira vez, salvo ocasiões especiais, o Sepultura está tocando mais músicas da discografia com Derrick Green nos vocais do que com as da fase com Max Cavalera, quando a banda esteve no topo do metal mundial. É outro sintoma de renovação e afirmação, ainda que mais de 20 anos depois da traumática mudança. Imagine que até a potente instrumental “Iceberg Dances” é tocada, e, em meio a um turbilhão sonoro, há espaço para um duelo guitarra x teclados e ao delírio de violão clássico, que Andreas retoma na fase atual. Em “Sworn Oath”, o volume altíssimo do som que sai das caixas salienta ainda mais o peso cadenciado/dramático que chega ao ápice em um solo meticuloso de grande intensidade, em outro grande momento de um arrojado Kisser.
Arrojo que se repete ainda em “Resistant Parasites”, dessa vez apontando para a melodia mais alta, em um encontro de encaixe perfeito com a cama ade violinos/violoncelos; são uns oitos, posicionados em uma plataforma, no alto. O público, parte estarrecido parte imbuído de se acabar de tanto se estapear, agita do início ao fim. Com tempo muito curto de show – uma horinha só -, o encerramento não tarda e vem repleto de sucessos, verdadeiras legendas do metal mundial. “Arise” é atropelamento puro, com Casagrande possesso, e “Refuse/Resist”, dona da mais eficaz introdução de uma música no heavy metal, causa furor na massa do entorno do Palco Sunset. E o refrão vomitado de “ Roots Bloody Roots” segue ecoando nas montanhas de Curicica para todo o sempre.Set list completo:
1- I Am the Enemy
2- Phantom Self
3- Kairos
4- Inner Self
5- Machine Messiah
6- Iceberg Dances
7- Sworn Oath
8- Resistant Parasites
9- Arise
10- Refuse/Resist
11- Ratamahatta
12- Roots Bloody Roots
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