Conforme planejado
Repertório grudento e aeróbico traz felicidade aos fãs do Simple Plan, no Circo Voador lotado. Fotos: Nem Queiroz.
A canção, não tocada há certo tempo, é praticamente a que fecha a noite, já que “Perfect”, a última, é péssima escolha. Do mesmo jeito que “Opinion Overload”, a primeira, também se revela opção equivocada, cabendo a “Jet Lag” acionar a efetiva interação da banda com o público que não teria fim nem mesmo em momentos menos grudentos do repertório. Tardia banda da explosão do poppy punk americano, nascida no final dos anos 1990, o Simple Plan segue firme e forte com a formação praticamente inalterada, o que lhe confere estofo para desfilar um arsenal de hits grudados no imaginário dos fãs, sobretudo no Brasil, onde um empurrãozinho da Máquina – leia-se “Malhação” e afins – contribui para a popularidade geral. Frequentador assíduo do país, o grupo tem em Bouvier, frontman dos bons, também ótimo embaixador, que fala um português não decorado nem lido o tempo todo.
O grupo tem um disco novo debaixo do braço, o razoável “Taking One for the Team”, mas o repertório é bem distribuído entre os cinco já lançados por eles, o que reforça a consistência de uma carreira muitíssimo bem estabelecida. Tem, por exemplo, o pula-pula óbvio de “Jump”; o embalo de “Farewell”, anunciada como uma música veloz - só que não -, mas a performance de palco é ótima; e o arregaço de “Shut Up”, uma das novas, que abre o bis no gás. Para o público, tanto faz se a música é ou não consagrada: a cantoria é a mesma, ampla, geral e irrestrita. Nem precisava apelar para citações de gosto duvidoso como as de “Uptown Funk”, de Mark Ronson e Bruno Mars, no momento “tem branquelo no funk” da noite, e em “I Gotta Feeling”, do Black Eyed Peas. Mas a introdução de “Garota de Ipanema”, no violão e voz, antes de “Perfectly Perfect”, outra das novas, causa aquela estranha sensação de pertencimento no público, típica dos shows de rock.Musicalmente, o guitarrista Jeff Stinco é o mais inventivo, se virando em bons solos, como o de mão trocada em “Jump”; introduções matadoras iconizadas em “Addicted”, que depois tem cantoria à capela do povão com regência de Pierre Bouvier; e até na suspeita slide guitar de “Summer Paradise”, com clima de sarau. O problema é que a banda está sem baixista nessa turnê, de modo que na maior parte do tempo o som de baixo aparece pré-gravado, em espécie de estelionato musical. Em algumas músicas, é o guitarrista Sebastien Lefebvre quem assume as quatro cordas, deixando a guitarra base para um músico oculto no fundo do palco. Ok, imprevistos acontecem, o baixista da banda, David Desrosiers, não pode vir, e cancelar/adiar turnês é chato pra cacete, mas não ter um substituto não cai bem mesmo.
Informação, contudo, que nada altera o comportamento do público. E, a bem da verdade, o show tem o repertório redondinho, com músicas que parecem feitas para as massas, com um refrão grudento aqui, um trecho pra cantarolar acolá e assim por diante; talvez venha daí o segredo do sucesso do Simple Plan. Exceção intrigante é “Your Love Is a Lie”, que recebe um arranjo bem diferente do da versão original. Tem início com bateria eletrônica e um riffaço de bater cabeça no refrão, com punhos erguidos oriundo do heavy metal e tudo, podem acreditar. No resto o que fica é a expressão de felicidade estampada em cada rosto, os braços balançando em ritmo aeróbico, os balões de gás levados pelos fãs, as bolas de plástico lançadas pela banda, e a sensação de que tudo é muito, mas muito acessível. Ótimo!Set list completo:
1- Opinion Overload
2- Jet Lag
3- Jump/I Gotta Feeling
4- I’d Do Anything
5- Boom!
6- Welcome to My Life
7- Addicted
8- Your Love Is a Lie
9- Perfectly Perfect
10- Uptown Funk/Can’t Feel My Face
11- Can’t Keep My Hands Off You
12- Farewell
13- Summer Paradise
14- Crazy
15- I’m Just a Kid
Bis
16- Shut Up
17- Perfect World
18- This Song Saved My Life
19- Perfect
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