O Homem Baile

Conforme planejado

Repertório grudento e aeróbico traz felicidade aos fãs do Simple Plan, no Circo Voador lotado. Fotos: Nem Queiroz.

O ótimo vocalista do Simple Plan, Pierre Bouvier, espéicie de embaixador que fala português sem ler

O ótimo vocalista do Simple Plan, Pierre Bouvier, espéicie de embaixador que fala português sem ler

O ano de 2106 não tem sido fácil para ninguém, nem mesmo para o Simple Plan, e é esse o tema da fala do vocalista Pierre Bouvier antes de a banda tocar “This Song Saved My Life”, na noite desta sexta (9/12), em um Circo Voador tão lotado que parecia uma panela de pressão explodindo a cada três, quatro minutos de música. O show é do tipo “Queremos” e esgotou os ingressos uma pá de tempo antes, num raro momento em que a turma investe em um artista consagrado em vez da tentativa de dar relevância a nomes esquecíveis. De um modo ou de outro, o fato é que, sim, a música, ou uma única música pode salvar sua vida. Mesmo sendo simples e até pueril, mesmo sendo bem planejada para ser o que é, mesmo sendo uma música do Simple Plan.

A canção, não tocada há certo tempo, é praticamente a que fecha a noite, já que “Perfect”, a última, é péssima escolha. Do mesmo jeito que “Opinion Overload”, a primeira, também se revela opção equivocada, cabendo a “Jet Lag” acionar a efetiva interação da banda com o público que não teria fim nem mesmo em momentos menos grudentos do repertório. Tardia banda da explosão do poppy punk americano, nascida no final dos anos 1990, o Simple Plan segue firme e forte com a formação praticamente inalterada, o que lhe confere estofo para desfilar um arsenal de hits grudados no imaginário dos fãs, sobretudo no Brasil, onde um empurrãozinho da Máquina – leia-se “Malhação” e afins – contribui para a popularidade geral. Frequentador assíduo do país, o grupo tem em Bouvier, frontman dos bons, também ótimo embaixador, que fala um português não decorado nem lido o tempo todo.

O inventivo guitarrista Jeff Stinco, fonte de qualidade musical nem sempre aproveitada pelo Simple Plan

O inventivo guitarrista Jeff Stinco, fonte de qualidade musical nem sempre aproveitada pelo Simple Plan

O grupo tem um disco novo debaixo do braço, o razoável “Taking One for the Team”, mas o repertório é bem distribuído entre os cinco já lançados por eles, o que reforça a consistência de uma carreira muitíssimo bem estabelecida. Tem, por exemplo, o pula-pula óbvio de “Jump”; o embalo de “Farewell”, anunciada como uma música veloz - só que não -, mas a performance de palco é ótima; e o arregaço de “Shut Up”, uma das novas, que abre o bis no gás. Para o público, tanto faz se a música é ou não consagrada: a cantoria é a mesma, ampla, geral e irrestrita. Nem precisava apelar para citações de gosto duvidoso como as de “Uptown Funk”, de Mark Ronson e Bruno Mars, no momento “tem branquelo no funk” da noite, e em “I Gotta Feeling”, do Black Eyed Peas. Mas a introdução de “Garota de Ipanema”, no violão e voz, antes de “Perfectly Perfect”, outra das novas, causa aquela estranha sensação de pertencimento no público, típica dos shows de rock.

Musicalmente, o guitarrista Jeff Stinco é o mais inventivo, se virando em bons solos, como o de mão trocada em “Jump”; introduções matadoras iconizadas em “Addicted”, que depois tem cantoria à capela do povão com regência de Pierre Bouvier; e até na suspeita slide guitar de “Summer Paradise”, com clima de sarau. O problema é que a banda está sem baixista nessa turnê, de modo que na maior parte do tempo o som de baixo aparece pré-gravado, em espécie de estelionato musical. Em algumas músicas, é o guitarrista Sebastien Lefebvre quem assume as quatro cordas, deixando a guitarra base para um músico oculto no fundo do palco. Ok, imprevistos acontecem, o baixista da banda, David Desrosiers, não pode vir, e cancelar/adiar turnês é chato pra cacete, mas não ter um substituto não cai bem mesmo.

Jeff Stinco, Pierre Bouvier e o guitarrista Sebastien Lefebvre, que quebra o galho como baixista

Jeff Stinco, Pierre Bouvier e o guitarrista Sebastien Lefebvre, que quebra o galho como baixista

Informação, contudo, que nada altera o comportamento do público. E, a bem da verdade, o show tem o repertório redondinho, com músicas que parecem feitas para as massas, com um refrão grudento aqui, um trecho pra cantarolar acolá e assim por diante; talvez venha daí o segredo do sucesso do Simple Plan. Exceção intrigante é “Your Love Is a Lie”, que recebe um arranjo bem diferente do da versão original. Tem início com bateria eletrônica e um riffaço de bater cabeça no refrão, com punhos erguidos oriundo do heavy metal e tudo, podem acreditar. No resto o que fica é a expressão de felicidade estampada em cada rosto, os braços balançando em ritmo aeróbico, os balões de gás levados pelos fãs, as bolas de plástico lançadas pela banda, e a sensação de que tudo é muito, mas muito acessível. Ótimo!

Set list completo:

1- Opinion Overload
2- Jet Lag
3- Jump/I Gotta Feeling
4- I’d Do Anything
5- Boom!
6- Welcome to My Life
7- Addicted
8- Your Love Is a Lie
9- Perfectly Perfect
10- Uptown Funk/Can’t Feel My Face
11- Can’t Keep My Hands Off You
12- Farewell
13- Summer Paradise
14- Crazy
15- I’m Just a Kid
Bis
16- Shut Up
17- Perfect World
18- This Song Saved My Life
19- Perfect

Bouvier, em um dos momentos 'regência de plateia' no Circo Voador lotado pelos fãs do Simple Plan

Bouvier, em um dos momentos 'regência de plateia' no Circo Voador lotado pelos fãs do Simple Plan

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