O Homem Baile

Pra frente e avante

Em show de lançamento do novo álbum, Drenna descarta material antigo e aposta em virada na carreira. Fotos: Nem Queiroz.

A cantora Drenna, que se sai muito bem como guitarrista e crooner na banda para qual cede o nome

A cantora Drenna, que se sai muito bem como guitarrista e crooner na banda para qual cede o nome

Na casa onde se escreve a história da música popular brasileira há quase 100 anos já se pode reservar mais uma página para o rock nacional. Ou, por outra, para o novo rock nacional, muito bem representado no show de lançamento do terceiro disco da Drenna, nesta quinta (24/11), no Teatro Rival. O grupo, um dos mais atuantes no cenário nacional, faz bonito para mostrar as músicas de “Desconectar”, com ótima produção de palco, coberto de telões, convidados de outras bandas da nova cena rock carioca, e – o melhor – mostrando o resultado da estrada, de o quanto faz bem para uma banda tocar em tudo o que é canto.

As 11 músicas do novo álbum são tocadas, o que não chega a ser tarefa fácil, porque uma coisa é definir o repertório de um disco, outra completamente diferente e concatenar as faixas ao vivo, de modo que o show não perca a pegada necessária. Por isso, “Desconectar”, a faixa-título e que abre o álbum, é posicionada no encerramento, em um belo arremate. Antes, Drenna já tinha apresentado outras pérolas bem lapidadas nesse novo trabalho, caso de “Odisseia”, excelente composição em forma e arranjo, disparada a melhor do novo repertório, com um encerramento ao vivo de cair o queixo; “Alívio”, parceria com Rafael Lima, do Memora, que sobe ao palco para tocar guitarra, em uma de suas melhores canções; e da colante, a custa de um bom refrão, “Anônimo”. Só três exemplos da força do repertório do show.

 guitarrista Junior Macedo, Drenna com a guitarra no centro, e o baixista Bruno Moraes

O guitarrista Junior Macedo, Drenna com a guitarra no centro, e o baixista Bruno Moraes

Que também tem lá suas baixas. Uma introdução solo de xilofone em “Navego”, por exemplo, é de um anticlímax atroz. Ou uma espécie de intervalo quando o duo Lítio substitui o DJ tocando música eletrônica bem no meio do show. A dupla, honra seja feita, dá enorme contribuição em uma versão estonteante para “Roda Viva”, de Chico Buarque, completamente revigorada, densa, em escalada pesada. Drenna se sai muito bem como crooner (não só nessa música), reforçando um timbre de voz firme e em geral encontrado no rol de cantoras da mpb, com preciosa contribuição do batera Milton Carlos. Outra versão que engrossa o repertório é “Respect”, de Aretha Franklin, completamente diferente da original; ponto pra eles. “Lumiar” também não está no disco, mas, conhecida, tem o refrão cantado na plateia e reserva um bom solo de guitarra no desfecho.

É preciso evitar – ressalte-se – evidenciar as similaridades com a Pitty, uma banda também liderada por uma mulher de um nome só, com dupla letra, e de mesma formação. Se o som, um rock pesado, mas palatável, é parecido, não tem jeito, cada qual que se vire com sua capacidade de compor e de arranjar canções com o ineditismo necessário. Mas o início do show, com a imagem de Drenna (a cantora) no telão, idêntico ao da abertura da turnê mais recente da Pitty, em nada contribui. Assim como o tema central de “Desconectar”, que se aproxima ao de “Admirável Chip Novo”, o álbum que marcou a estreia de Pitty, em 2003. A favor de Drenna está sua polivalência ao tocar guitarra em quase todas as músicas (como sola bem!) e por conta de – repita-se – sua singularidade vocal aliada a ótima performance de palco.

Junior Macedo, Drenna, em momento cantora, e Rafael Lima, guitarrista/vocalista do Memora

Junior Macedo, Drenna, em momento cantora, e Rafael Lima, guitarrista/vocalista do Memora

Outras músicas que ficam muito bem ao vivo são “Retorno”, com um ótimo riff que conduz a melodia; “Entorpecer”, simples, que melhora ao vivo e desencadeia em um bater de cabeça possesso no palco, com um bom trabalho de guitarras, dessa vez de Junior Macedo; e “Andar Sozinho”, um contratempo no peso que, de outro lado, tem um cantarolar contagiante que a plateia assume quase sem querer. Sem tocar quase nada dos dois discos anteriores – a banda é de 2009 -, o show acaba depressa, com pouco mais de uma horinha de duração. O suficiente, contudo, para Drenna mostrar a força do novo repertório ao vivo e de como – repita-se – uma banda que faz muitos shows cresce pra valer em cima de um palco.

Set list completo:

1- Sabotagem
2- Anônimo
3- Ela Vai Chamar Sua Atenção
4- Lumiar
5- Andar Sozinho
6- Alívio
7- Odisseia
8- Retorno
9- Respect
10- Navego
11- Hoje Somos um Só
12- Roda Viva
13- Entorpecer
14- Desconectar

Drenna interage com o baixista Bruno Moraes; no fundo, o baterista Milton Carlos segura a batida

Drenna interage com baixista Bruno Moraes; no fundo, o baterista Milton Carlos segura a batida

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