Tensão maligna
Em apresentação curta, Rotting Christ mostra ares de renovação e reforça o peso consistente e aflito de sua trajetória. Fotos: Nem Queiroz.
Com a mesma formação já há quatro anos, o som da banda está redondinho, garantido por uma ótima equalização e o volume na medida certa para fazer o ouvido zumbir antes de o sono chegar no final da noite. Por isso, quando Sarkis Tolis e George Emmanuel se aproximam da beirada do palco para duelar em “King of a Stellar War”, a sensação é das melhores, como se cada nota penetrasse no público. Mas o grupo, sabemos todos, não é dado a estripulias instrumentais e ataca mais com o peso extremo no qual é pioneiro. Como se vê já no início da quase marcial “Societas Satanas”, cujo caminho é aberto por uma guitarra avassaladora, o que aciona aquelas agressivas rodas dança no meio do salão. A música, indispensável nos shows do grupo, é quase uma palavra de ordem gritada a plenos pulmões pelo público.
De “Ritual”, o tal disco novo, somente duas músicas são incluídas, em um show, a bem da verdade, muito curto - pouco mais de uma hora – para uma banda prestes a completar 30 anos de estrada e com 12 álbuns nas costas. Na poderosa “Elthe Kyrie”, o baterista Themis Tolis, assim como Sarkis remanescente da formação original, mostra excelente forma. A música, veloz, tem o tom de aflição reforçado por uma nervosa narração pré-gravada no álbum e reproduzida ao vivo, sem que isso subtraia toda a tensão adicionada ao vivo. Eis aí uma boa expressão para definir o Rotting Christ em cima do palco: geração de tensão. A outra nova é “Ze Nigmar”, que abre o show com um viés climático, de modo a atingir o público como se lhe torturasse. É a remissão dos pecados, ao vivo, a cores e pesado pra cacete, só que, contraditoriamente, sem perdão algum. Vamos e venhamos, não é qualquer banda que começa um show desse jeito.O show também realça outras três características nem sempre evidenciadas pela banda grega, seja em disco ou ao vivo. Primeiro, a despeito do som extremo praticado desde sempre, os trabalhos de guitarras menos evidentes, no corpo da música, que contribuem para a – de novo - sonoridade sombria, como se vê, por exemplo, em “Grandis Spiritus Diavolos”, do álbum anterior, “Kata ton Demona Eautou”. Pode ser só uma tendência recente, mas cai muitíssimo bem. Outra é a participação consistente de Emmanuel e do baixista Vagelis Karzis nos vocais de apoio, que, somada a terceira, uma espécie de invólucro tribal que boa parte das músicas recebe – em “Noctis Era” e “In Yumen-Xibalba” isso é mais evidente -, contribui decisivamente pela tal tensão gerada pela banda no palco.
Na abertura o As Dramatic Homage sofreu com a falta de público, já que o show começou com muita gente do lado de fora, e com o som mal equalizado. Mesmo assim, a banda mandou um bom set, misturando músicas antigas – a banda tem estrada – com outras do lançamento mais recente, o EP “Enlighten”. As melhores performances foram em “Ominous”, com destaque para a inserção dos teclados, e “Idillic”. Com refêrencias a distintos subgêneros do metal, contudo, o grupo carece de melhor entrosamento e, sobretudo, mais experiência de palco para que tudo funcione com a precisão necessária. Dá pra melhorar, e muito.
Set list completo:1- Ze Nigmar
2- Kata ton Demona Eautou
3- Athanati Este
4- Elthe Kyrie
5- King of a Stellar War
6- The Sign of Evil Existence
7- The Forest of N’Gai
8- Societas Satanas
9- In Yumen-Xibalba
10- Grandis Spiritus Diavolos
11- Noctis Era
Bis
12- Gaia Tellus
13- Non Serviam
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Olá! Tem várias seções sem atualização, a principal é a Filipetagem. E aí, não vão mais atualizar a seção de shows?