Da pesada
The Shrine atualiza som pauleira dos anos 70 e fusão com punk rock agrada geral em ótimo show no Rio. Fotos: Nem Queiroz.

Bigodão e ZZ Top: o guitarrista e vocalista do The Shrine, Josh Landau, passando os hipsters pra trás
A receita do Shrine é simples: riffs precisos da escola do Black Sabbath, baixo distorcidaço como se fosse guitarra à Motörhead e um baterista inquieto como todos que passaram pelo palco nessa noite. Acrescente certo sotaque punk e pronto, o resultado são músicas urgentes, rápidas, tocadas com uma pressa danada, de modo que a noite é frenética e o bater de cabeça, mais cabeludo que o do metal contemporâneo, sem parar. Parece fácil, mas não é. Parece repetitivo, mas nem tanto. Parece reles cópia de um antigo original, mas o que se renova é a Lei de Lavoisier aplicada à cultura: na música pop nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.
Mas Josh Landau, o guitarrista/vocalista que não compactua com golpista, tem a manha de criar novos riffs de modo a fazer desse rol de influências instrumento para sua criatividade deslanchar. Por isso, músicas como “Worship”, a primeira a desabrochar uma inesperada roda de dança; a boa “The Duke”, mais lenta, mas não menos chiclete; ou mesmo “On The Grind”, com tramas de guitarra discretas, mas salientes, tratam de encantar o público, incluindo os menos iniciados. O baixista Court Murphy, que também canta em algumas músicas, não se esconde, garantindo o peso e o groove inerente a esse tipo de som, que muitas vezes parece, mas não é, e, noutras, parece e é.O disco mais recente do The Shrine é “Rare Breed”, lançado há quase um ano, mas o repertório é um apanhado da carreira do trio, que tem outros dois no mercado, “Bless Off” (2014) e “Primitive Blast” (2012), o que acaba sendo bom para uma primeira vez no Brasil. “Rare Breed”, a música, vem com um bom refrão e é também destaque na noite, junto com “Tripping Corpse”, uma abertura responsa que leva Landau a tocar com a guitarra nas costas, número que se repetiria em todo o show, e ainda “Primitive Blast”, que desencadeia maior empolgação por parte do público. Turma que vibra com as muitas mudanças de andamento que as performances ao vivo apresentam, apesar de as músicas serem, na maior parte do tempo, de curta duração.
Nesses casos, brilham a viradas o baterista Jeff Murray, que deita e rola no arremate do show, em vários pequenos momentos solo seguidos, intercalados com verdadeiros delírios instrumentais de Murphy e Josh Landau. A música é “Deep River (Livin’ to Die)”, e o bis é espécie de síntese da psicodelia de alto impacto completamente contaminada pelo punk rock do trio. Coisa que, na maior parte do tempo, não convive muito bem, mas que, no The Shrine, é praticamente óbvio, necessário até. A boa notícia, além dessa primeira turnê pelo Brasil, é que eles estão apenas começando e – ainda bem - têm muito a oferecer e certamente vão entregar o que prometem.Psicodelia na pressão mesmo quem desfila é o Psilocibina, que abre a noite com um som totalmente instrumental muito bem tocado e de gosto apurado. O grupo subverte a ondem das coisas, sobrepondo solos e performances individuais de cada músico à canção em si, o que garante uma boa viagem no conjunto da obra. O baterista Lucas Loureiro é figura marcante nessa noite de bateristas (viradas com o selo Neil Peart de qualidade incluídas), mas é o guitarrista Alex Sheeny que mostra caminhos amplos ao som do trio, incluindo flertes com a guitarra solo de Satriani e afins, classic rock e até com a famigerada mpb. É uma banda para se descobrir aos poucos, show por show. Quem falou que seria fácil?

O vôo do guitarrista Dony Escobar no bom show do Vulcânicos, que teve grande participação do público
Set list (quase) completo The Shrine:
1- Tripping Corpse
2- The Vulture
3- Worship
4- Destroyers
5- Rare Breed
6- The Duke
7- Em apuração
8- On The Grind
9- Dusted And Busted
10- Primitive Blast
11- Nothing Forever
12- Em apuração
Bis
13- Em apuração
14- Deep River (Livin’ to Die)

O promissor trio Psilocibina mostra a viagem instrumental carregada de psicodelia e variadas referências
Tags desse texto: Os Vulcânicos, Psilocibina, The Shrine
A 13 foi “Death to Invaders”.