O Homem Baile

Da pesada

The Shrine atualiza som pauleira dos anos 70 e fusão com punk rock agrada geral em ótimo show no Rio. Fotos: Nem Queiroz.

Bigodão e ZZ Top: o guitarrista e vocalista do The Shrine, Josh Landau, passando os hipsters pra trás

Bigodão e ZZ Top: o guitarrista e vocalista do The Shrine, Josh Landau, passando os hipsters pra trás

“First of all, fora Temer!”. A noite sugere que será boa quando um sujeito lá dos cafundós da costa oeste americana, trajando uma camiseta das antigas do ZZ Top, sobe no palco e manda essa logo de cara. Depois, é taca-lhe pau e uma hora e pouco de pura pauleira made in anos 70 devidamente atualizada para os nossos tempos. É assim que o The Shrine, trio da pesada de Venice, Los Angeles, terra do Suicidal Tendencies, apresenta o cartão de visitas. Antes deles, em um Teatro Odisséia com ares de matinê no feriado de última hora da Cidade Olímpica, Vulcânicos e Psilocibina representaram muito bem a boa safra de bandas locais que se identificam, de certo modo, com o trio forasteiro.

A receita do Shrine é simples: riffs precisos da escola do Black Sabbath, baixo distorcidaço como se fosse guitarra à Motörhead e um baterista inquieto como todos que passaram pelo palco nessa noite. Acrescente certo sotaque punk e pronto, o resultado são músicas urgentes, rápidas, tocadas com uma pressa danada, de modo que a noite é frenética e o bater de cabeça, mais cabeludo que o do metal contemporâneo, sem parar. Parece fácil, mas não é. Parece repetitivo, mas nem tanto. Parece reles cópia de um antigo original, mas o que se renova é a Lei de Lavoisier aplicada à cultura: na música pop nada se cria, nada se perde, tudo se transforma.

Landau e o baixista Court Murphy tocam juntos em uma das partes instrumentais do show do The Shrine

Landau e o baixista Court Murphy tocam juntos em uma das partes instrumentais do show do The Shrine

Mas Josh Landau, o guitarrista/vocalista que não compactua com golpista, tem a manha de criar novos riffs de modo a fazer desse rol de influências instrumento para sua criatividade deslanchar. Por isso, músicas como “Worship”, a primeira a desabrochar uma inesperada roda de dança; a boa “The Duke”, mais lenta, mas não menos chiclete; ou mesmo “On The Grind”, com tramas de guitarra discretas, mas salientes, tratam de encantar o público, incluindo os menos iniciados. O baixista Court Murphy, que também canta em algumas músicas, não se esconde, garantindo o peso e o groove inerente a esse tipo de som, que muitas vezes parece, mas não é, e, noutras, parece e é.

O disco mais recente do The Shrine é “Rare Breed”, lançado há quase um ano, mas o repertório é um apanhado da carreira do trio, que tem outros dois no mercado, “Bless Off” (2014) e “Primitive Blast” (2012), o que acaba sendo bom para uma primeira vez no Brasil. “Rare Breed”, a música, vem com um bom refrão e é também destaque na noite, junto com “Tripping Corpse”, uma abertura responsa que leva Landau a tocar com a guitarra nas costas, número que se repetiria em todo o show, e ainda “Primitive Blast”, que desencadeia maior empolgação por parte do público. Turma que vibra com as muitas mudanças de andamento que as performances ao vivo apresentam, apesar de as músicas serem, na maior parte do tempo, de curta duração.

The Shrine na detonação punk/classic rock: Josh Landau, o baterista Jeff Murray e Court Murphy

The Shrine na detonação punk/classic rock: Josh Landau, o baterista Jeff Murray e Court Murphy

Nesses casos, brilham a viradas o baterista Jeff Murray, que deita e rola no arremate do show, em vários pequenos momentos solo seguidos, intercalados com verdadeiros delírios instrumentais de Murphy e Josh Landau. A música é “Deep River (Livin’ to Die)”, e o bis é espécie de síntese da psicodelia de alto impacto completamente contaminada pelo punk rock do trio. Coisa que, na maior parte do tempo, não convive muito bem, mas que, no The Shrine, é praticamente óbvio, necessário até. A boa notícia, além dessa primeira turnê pelo Brasil, é que eles estão apenas começando e – ainda bem - têm muito a oferecer e certamente vão entregar o que prometem.

Psicodelia na pressão mesmo quem desfila é o Psilocibina, que abre a noite com um som totalmente instrumental muito bem tocado e de gosto apurado. O grupo subverte a ondem das coisas, sobrepondo solos e performances individuais de cada músico à canção em si, o que garante uma boa viagem no conjunto da obra. O baterista Lucas Loureiro é figura marcante nessa noite de bateristas (viradas com o selo Neil Peart de qualidade incluídas), mas é o guitarrista Alex Sheeny que mostra caminhos amplos ao som do trio, incluindo flertes com a guitarra solo de Satriani e afins, classic rock e até com a famigerada mpb. É uma banda para se descobrir aos poucos, show por show. Quem falou que seria fácil?

O vôo do guitarrista Dony Escobar no bom show do Vulcânicos, que teve grande participação do público

O vôo do guitarrista Dony Escobar no bom show do Vulcânicos, que teve grande participação do público

O bom show do Vulcânicos, entre a abertura e a atração principal, é um meio termo, com as boas sacadas instrumentais do grupo e músicas de forte apelo junto a público, mesmo para os menos familiarizados. Baixista no Matanza, Dony Escobar vai muito bem esmerilhando a guitarra em músicas como “Por Que Não Amar-te”, um rockão dos bons, e a surf instrumental “Piraí Safarí”. O franzino baterista Zozio Leão também se sobressai (a noite é de bateristas, repita-se) fazendo o que parece impossível para quem não oferece esforço para a balança. A novidade é a entrada de um vocalista na parte final, que manda bem ao incluir o timbre grave ao garage rock da banda. Realçam ainda “Esquizo”, que tem clipe recém-lançado e desencadeia um bater de cabeça na frente do palco, e “Amargo”, já com o plus do vocalista.

Set list (quase) completo The Shrine:

1- Tripping Corpse
2- The Vulture
3- Worship
4- Destroyers
5- Rare Breed
6- The Duke
7- Em apuração
8- On The Grind
9- Dusted And Busted
10- Primitive Blast
11- Nothing Forever
12- Em apuração
Bis
13- Em apuração
14- Deep River (Livin’ to Die)

O promissor trio Psilocibina mostra a viagem instrumental carregada de psicodelia e variadas referências

O promissor trio Psilocibina mostra a viagem instrumental carregada de psicodelia e variadas referências

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Raphael em agosto 5, 2016 às 18:16
    #1

    A 13 foi “Death to Invaders”.

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